Folha de S.Paulo

Bolsonaro repete filho, diz que Renan é vagabundo e vê crime em comissão

Em Alagoas, com Arthur Lira e Fernando Collor, presidente chamou Lula de ‘aquele ladrão de 9 dedos’

- João Pedro Pitombo, Catia Seabra e Wagner Melo Colaborara­m William Rocha, de São José da Tapera (AL), e Julia Chaib, de Brasília

O presidente Jair Bolsonaro repetiu o filho senador, Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), e chamou o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDBAL), de vagabundo nesta quinta (13) em Maceió.

“Sempre tem algum picareta, vagabundo, querendo atrapalhar. Se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso país. É um crime o que vem acontecend­o com essa CPI”, disse o presidente em discurso no estado que é base eleitoral de Renan.

Na quarta-feira (12), a sessão da CPI foi encerrada após Flávio insultar Renan. No bate-boca, o filho do presidente chamou o senador alagoano de vagabundo. Mais tarde, em rede social, Jair Bolsonaro publicou trecho de vídeo com a discussão dos senadores.

Nesta quinta, pouco depois das declaraçõe­s do presidente, o governador Renan Filho (MDB), que não compareceu aos eventos na capital, afirmou que o presidente age por desespero e ataca o Congresso por se sentir acuado diante da investigaç­ão na CPI e da queda de popularida­de.

“Por aqui, presidente, respondere­mos a esse tipo de violência com gestão resolutiva, obras com recursos próprios, contas organizada­s, priorizand­o salvar vidas na pandemia e colocando sempre o povo acima dos interesses políticos. Vale informar ao Brasil, Alagoas resistiu!”, disse em rede social.

Durante o ato em Maceió, apoiadores do presidente também gritaram “Renan vagabundo”. Bolsonaro sorriu e aproveitou o ato para fustigar o ex-presidente Lula (PT), a quem chamou de “aquele ladrão de nove dedos”.

Na quarta-feira, o Datafolha apontou queda de popularida­de do presidente, sobretudo no Nordeste. Na região, 62% dos entrevista­dos afirmaram que não votariam de jeito nenhum no presidente em 2022.

A pesquisa também mostrou Lula liderando a corrida eleitoral com 41% das intenções de voto, contra 23% de Bolsonaro. No segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 55% a 32%, desempenho puxado sobretudo pelas intenções de voto no Nordeste.

Nas inauguraçõ­es, o presidente cercou-se de adversário­s de Renan e Renan Filho. Participar­am dos atos o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), o senador Fernando Collor (Pros) e o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB).

Aliados do presidente também fustigaram Lula. O ministro do Turismo, Gilson Machado, disse: “O nordestino gosta de governo, o nordestino não gosta de PT”.

No domicílio eleitoral do relator da CPI do Covid, Bolsonaro inaugurou obras que foram executadas e entregues pelo estado de Alagoas.

Embora duas das obras tenham sido contratada­s pelo governo do estado, Renan Filho foi apenas informado, por email do cerimonial da Presidênci­a, sobre presença de Bolsonaro na inauguraçã­o de duas obras concluídas e já entregues pelo próprio governador.

Uma delas, do Canal do Sertão, custou R$ 3,5 bilhões, em valores corrigidos, dos quais apenas R$ 191 milhões liberados pelo governo Bolsonaro.

O maior desembolso para o projeto, iniciado em 2002, ocorreu no governo Dilma Rousseff (PT): R$ 2,2 bilhões, em valores corrigidos. O governo Lula pagou outros R$ 694,8 milhões.

O quinto trecho do canal, orçado em cerca de R$ 400 milhões, não foi iniciado por falta de recursos. O trecho quatro, inaugurado por Bolsonaro, funciona desde março.

Já o viaduto, que Bolsonaro também inaugurou, foi liberado para o tráfego em dezembro. Contratada pelo governo Renan Filho, a obra foi majoritari­amente financiada pelo governo Temer.

Dos R$ 95 milhões investidos, R$ 53 milhões foram liberados pelo governo Temer, R$ 25 milhões foram pagas pelo governo estadual e R$ 17 milhões foram repassados pela gestão Bolsonaro.

Bolsonaro participou ainda da entrega de 500 unidades habitacion­ais remanescen­tes do programa Minha Casa Minha Vida, rebatizado de Casa Verde e Amarela.

À tarde, foi à cidade de São José da Tapera. Como ocorreu em Maceió, foi recepciona­do aos gritos de “Renan Vagabundo”. Lá, voltou a defender o voto impresso.

Na sessão da CPI, Renan rebateu afirmou que a resposta às ofensas será o aprofundam­ento das investigaç­ões.

“Eu quero dizer a todos os pregadores que a minha resposta a esses ataques é esse número aqui, de vítimas da pandemia”, disse, em referência, à placa com o número 428.256, que substitui a indicação de seu nome na mesa da comissão.

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Alan Santos/Divulgação Presidênci­a da República Bolsonaro entre os alagoanos Arthur Lira (dir.), presidente da Câmara, e Fernando Collor, senador, na inauguraçã­o do canal do Sertão

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