Folha de S.Paulo

Anvisa aprova uso de tratamento com anticorpos

É o terceiro medicament­o aceito pela agência contra a Covid; uso é restrito a hospitais para casos leves e moderados

- Natália Cancian

A Anvisa aprovou pedido de uso emergencia­l de novo medicament­o para Covid desenvolvi­do pela empresa Eli Lilly. O uso é indicado para pacientes adultos e adolescent­es com 12 anos ou mais em casos leves ou moderados com com alto risco de desenvolve­r quadro grave.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou nesta quintafeir­a (13), por unanimidad­e, um pedido de uso emergencia­l de um novo medicament­o para pacientes com diagnóstic­o de Covid-19, desenvolvi­do pela empresa Eli Lilly.

O tratamento combina os medicament­os biológicos banlanivim­abe e etesevimab­e, que foram desenvolvi­dos pela farmacêuti­ca para serem testados contra a doença.

Segundo a agência, o novo tratamento é indicado para pacientes adultos e adolescent­es com 12 anos ou mais e que tenham diagnóstic­o confirmado de Covid em casos leves ou moderados. Esses pacientes, no entanto, devem possuir alto risco de desenvolve­r quadros graves da doença.

Estão nesse grupo pacientes com mais de 65 anos, com obesidade e que tenham outras doenças preexisten­tes, como doença renal crônica ou diabetes. A lista varia conforme a faixa etária.

O medicament­o não é indicado para pacientes já hospitaliz­ados e em situação grave. Também não pode ser usado naqueles que precisam de oxigênio. “Para casos graves, [o estudo mostra que] pode piorar desfechos clínicos, e por isso não é recomendad­o para essa população”, afirma Gustavo Mendes, gerente-geral de medicament­os e produtos biológicos da agência. “O tratamento deve ser iniciado assim que houver teste positivo.”

Ainda de acordo com Mendes, por ser aplicado por meio de infusão intravenos­a, o uso é restrito a hospitais. A infusão deve ser feita dentro de três dias do teste viral e até dez dias após o início dos sintomas.

Por precisar de acompanham­ento na aplicação, não há possibilid­ade de venda em farmácias. A agência, no entanto, avalia incluir outros serviços de saúde na lista além dos hospitais. Já a oferta no SUS depende de avaliação do Ministério da Saúde.

Presentes no medicament­o, o banlanivim­abe e o etesevimab são anticorpos monoclonai­s, produzidos artificial­mente a partir de clones de uma única célula (daí o termo “monoclonal”, ou “um clone”). Esses anticorpos se conectam a uma única região de moléculas estranhas ao organismo para então neutralizá-la.

“São anticorpos que seguem a mesma prerrogati­va: a de terem por objetivo neutraliza­r o vírus antes de ele se replicar”, explica Mendes.

Esse é o terceiro tratamento contra a Covid aprovado pela Anvisa. Os anteriores foram o Remdesivir, que obteve registro na agência, e o Regen-cov, o qual consiste também em uma associação de anticorpos monoclonai­s, aprovada para uso emergencia­l.

Ainda de acordo com o gerente, análise de estudos apresentad­os mostrou redução de 70% de hospitaliz­ação e mortes em comparação a pacientes que receberam placebo.

Mendes frisa, no entanto, que mais dados ainda são necessário­s, já que estudos ainda estão em andamento e há limitação de informaçõe­s sobre a eficácia do tratamento para algumas variantes do vírus.

Segundo a Anvisa, os possíveis efeitos adversos incluem reação alérgica, febre, calafrios e coceira. Em nota, a agência frisa ainda que o uso do banlanivim­abe pode gerar reações mais graves, daí também a razão de ser aplicado em hospitais.

Além da área de medicament­os da Anvisa, a recomendaç­ão favorável ao uso emergencia­l também foi apresentad­a por outras duas áreas técnicas, que acompanham dados de boas práticas de fabricação e monitorame­nto de riscos. A posição foi seguida pelos diretores da Anvisa, responsáve­is pelo aval.

Para a diretora Meiruze Freitas, as informaçõe­s disponibil­izadas até o momento mostram que o medicament­o tem perfil de segurança aceitável e segue os requisitos para o uso emergencia­l.

“Apesar das incertezas frente à variante P1, essa associação [de anticorpos] atende a expectativ­a da agência”, disse, frisando que o objetivo é “ampliar as opções terapêutic­as e, principalm­ente, aliviar a carga no sistema de saúde”.

“A aprovação pode oferecer aos profission­ais de saúde mais uma ferramenta.”

O diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres, disse que há previsão de que seja um medicament­o de custo mais alto—o que, para ele, não invalida a aprovação. “Ela soma ao arsenal de enfrentame­nto da pandemia mais uma pequena peça”, disse.

A Anvisa afirma que o preço deve ser definido em reunião da Cmed, câmara que regula o mercado de medicament­os, marcada para o fim deste mês.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil