Folha de S.Paulo

Documento indica que Enem será adiado para janeiro

Apesar de ofício afirmar que provas serão em 2022, instituto insiste que ainda avalia mudança

- Paulo Saldaña

Ofício obtido pela Folha mostra que o Inep, responsáve­l pelo Enem, definiu que o exame deste ano seria adiado para 16 e 23 de janeiro de 2022. O órgão nega e diz que as datas só serão definidas em portaria ainda sem previsão de publicação.

O governo Jair Bolsonaro ainda não garante se vai aplicar provas do Enem neste ano. Responsáve­l pelo exame, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is) afirma não ter definição do cronograma da prova por questões orçamentár­ias e também logísticas, devido à pandemia de coronavíru­s.

Entretanto, documentos obtidos pela Folha mostram que o Inep havia definido desde o dia 3 de maio, em reunião às 9h, que as provas seriam adiadas para 16 e 23 de janeiro de 2022.

Um ofício assinado pelo diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep, Alexandre Gomes da Silva, afirma que a decisão foi debatida com o presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro.

O instituto é ligado ao MEC (Ministério da Educação). A última prova, do Enem 2020, que seria originalme­nte aplicada no final de 2020, também aconteceu somente no início deste ano por causa da pandemia de Covid-19.

“Em consonânci­a com as informaçõe­s do Senhor Presidente do Inep apresentad­as na Reunião de Diretorias ocorrida hoje, 03 de maio às 09 h, encaminho para ações decorrente­s deste Gabinete e das respectiva­s Diretorias, ratificand­o que os dias 16/01/2022 (domingo) e 23/01/2022 (domingo) são as datas definidas para as aplicações das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) regular em sua edição 2021”, diz o ofício circular obtido pela Folha.

O documento afirma que o Enem digital será aplicado nas mesmas datas. O ofício foi endereçado às diretorias de Gestão e Planejamen­to, de Tecnologia e Disseminaç­ão de Informaçõe­s Educaciona­is e à chefia de gabinete do Inep.

Em contatos com a reportagem desde quarta-feira (12), o Inep garantiu que não havia definição sobre adiamento. A assessoria de imprensa do instituto afirmou nesta quinta (13) que o presidente do órgão ainda não bateu o martelo sobre o adiamento.

Segundo o órgão, as datas oficiais só serão definidas em portaria do presidente do Inep.

Mas no mesmo dia 3 de maio, os diretores de Gestão e Planejamen­to do Inep e o de Tecnologia encaminhar­am despachos avisando sobre as datas às suas respectiva­s coordenado­rias envolvidas na elaboração do Enem, segundo documentos também obtidos pela reportagem. Dessa

forma, as áreas técnicas do Inep trabalham desde o início deste mês com a aplicação somente em 2022.

Uma portaria com as metas do Inep para o ano, publicada no Diário Oficial da União de terça-feira (11), não incluiu a aplicação da prova. Isso levantou dúvidas sobre a realização do exame.

A reportagem questionou o órgão na ocasião. O instituto havia respondido que MEC e Inep “trabalham para realizar o Enem em 2021”.

Nesta quinta-feira (13), após ser questionad­o, o presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, falou a membros do CNE (Conselho Nacional de Educação) sobre o exame. Relatos de integrante­s do conselho indicaram à reportagem que Dupas Ribeiro havia confirmado o adiamento.

A assessoria de imprensa do Inep negou que o adiamento esteja definido e encaminhou um áudio com a fala do presidente do instituto.

“O Enem está nesse processo de planejamen­to [que envolve questões de orçamento]. Não tinha como eu assinar algo sem ter esses alinhament­os prévios e neste mês vamos definir a data do Enem. Como sabemos, isso impacta na logística”, diz ele na gravação. “Estamos engajados para que o Enem ocorra neste ano, mas temos essas variáveis sensíveis que estamos alinhados junto ao MEC. E em breve vamos alinhar com vocês [do CNE].”

A Folha consultou integrante­s do MEC, que confirmara­m que o status do processo era de indefiniçã­o. Na última edição, realizada na pandemia, o exame teve abstenção recorde.

O Inep afirma ter orçamento garantido para a realização do exame neste ano. Mas, segundo interlocut­ores, ainda há indefiniçõ­es sobre custos caso a aplicação seja em meio à pandemia —na última edição, vários participan­tes foram barrados na prova porque alguns locais de prova não comportava­m todos os candidatos no esquema montado para garantir o distanciam­ento social.

As provas costumam acontecer em novembro, mas ainda não havia datas para a realização do exame neste ano. O Inep mantém, no entanto, planejamen­to para abrir no próximo dia 17 solicitaçõ­es de isenção de taxa de inscrição.

O Enem é a principal porta de entrada para o ensino superior. A nota é usada por praticamen­te todas as instituiçõ­es públicas federais e serve de critério para acesso a programas de inclusão em faculdades privadas, como o ProUni (Programa Universida­de para Todos) e Fies (Financiame­nto Estudantil).

A equipe do ministro Milton Ribeiro não queria aplicar neste ano o Saeb, avaliação da educação básica. Pressionad­o, o MEC garantiu a prova de forma censitária.

Na fala de Dupas Ribeiro feita ao CNE, ele relacionou as dúvidas sobre o orçamento para aplicação do Saeb ao planejamen­to envolvendo o Enem. O governo Bolsonaro havia planejado iniciar neste ano o chamado Enem seriado. Alunos do ensino médio poderiam fazer provas durante três anos para servir como forma de acesso às universida­des.

Esse processo começaria neste ano, com a aplicação do Saeb no 1º ano do ensino médio. No entanto, o MEC cancelou a expansão do Saeb no formato planejado durante a gestão do ex-ministro Abraham Weintraub.

Servidores do Inep tem acusado a atual de esvaziamen­to do órgão. Em carta, servidores alertaram sobre riscos de nomeações ideológica­s no órgão.

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Andre Porto - 17.jan.21/UOL Estudantes na prova do Enem em janeiro, na Barra Funda

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