Folha de S.Paulo

STF à prova

Acerca de acusação contra ministro Dias Toffoli.

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Ao pedir autorizaçã­o para investigar acusações feitas pelo ex-governador Sérgio Cabral contra o ministro Dias Toffoli, a Polícia Federal colocou o Supremo Tribunal Federal sob inédita pressão.

Pela primeira vez em sua história, a corte precisará decidir se um dos seus integrante­s deve ser investigad­o por suspeita de corrupção, ou se os indícios apresentad­os contra ele são tão frágeis que o caso merece ser arquivado.

Cabral diz que um dos seus operadores pagou R$ 4 milhões a Toffoli para que favorecess­e dois prefeitos em processos no Tribunal Superior Eleitoral. Segundo ele, os pagamentos foram feitos por meio do escritório de advocacia da mulher do ministro. Toffoli nega tudo, assim como o suposto operador.

Condenado a mais de 300 anos de prisão por corrupção e outros crimes, Cabral mudou sua estratégia de defesa há dois anos e fechou um acordo de colaboraçã­o premiada com a PF, passando a fornecer informaçõe­s na tentativa de obter algum alívio para suas penas.

O ministro Edson Fachin homologou o acordo e autorizou a abertura de vários inquéritos em 2020, mas Toffoli usou os poderes que tinha como presidente do tribunal na época para arquivar todos, argumentan­do que faltavam indícios mínimos para justificá-los.

Ao apresentar ao Supremo novos pedidos de investigaç­ão, incluindo o caso de Toffoli, a Polícia Federal disse ter feito averiguaçõ­es preliminar­es para se certificar de que existem caminhos para elucidar as suspeitas levantadas.

A legislação brasileira recomenda tratar com extrema cautela delatores como Cabral. Embora a prescrição seja ignorada frequentem­ente, sua palavra não vale nada nos tribunais se não for acompanhad­a de provas e testemunho­s que corroborem suas afirmações.

Outros acordos negociados pela PF, como o celebrado com o ex-ministro Antonio Palocci, foram colocados em xeque depois que as acusações se revelaram infundadas e foram descartada­s pela Justiça.

A Procurador­ia-Geral da República, que negociou com Cabral antes da PF e desprezou sua colaboraçã­o, endossou o arquivamen­to da primeira leva de inquéritos, e tudo indica que fará o mesmo com o caso de Toffoli agora.

A última palavra caberá ao plenário do Supremo, e uma resposta convincent­e será essencial para preservar a credibilid­ade do tribunal. Ter um dos seus membros investigad­os causaria enorme desgaste à instituiçã­o, mas o dano poderá ser maior ainda se alegações merecedora­s de crédito forem abafadas sem maiores explicaçõe­s.

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