CAPITAIS REGISTRAM PROTESTOS ANTIRRACISMO
Mulheres na av. Paulista ontem, dia que marcou assinatura da Lei Áurea; movimentos negros fizeram atos que lembraram vítimas de violência policial, como as do Jacarezinho
No dia que marca a assinatura da Lei Áurea, nesta quinta (13), movimentos negros pelo país convocaram atos em protesto contra a morte de 28 pessoas na favela do Jacarezinho. Em São Paulo, a manifestação teve início na Av. Paulista e lembrou o nome de vítimas de violência policial.
A operação foi a ação policial mais letal da história do estado do Rio de Janeiro. Um policial civil também morreu. Na ocasião, moradores relataram tiroteios, uso de helicópteros da polícia e blindados. Vídeos e fotos mostram corpos carregados por agentes.
Na primeira versão, a polícia disse que o objetivo da operação era apurar aliciamento de menores. Um novo relatório mostrou, no entanto, que a incursão tinha como objetivo o cumprimento de 21 mandados de prisão.
Organizados pela Coalizão Negra por Direitos em parceria com outras lideranças negras, os protestos ocorreram em outras capitais, como Rio de Janeiro, Rio Branco, Fortaleza, Salvador, Goiânia, Teresina,
Maceió, João Pessoa, Macapá, Natal, Belo Horizonte, Porto Alegre, Vitória, São Luís, Belém, Cuiabá e Brasília.
Na capital paulista, sob o mote “Nem bala nem fome nem Covid, o povo negro quer viver”, os nomes de Marielle Franco, Amarildo de Souza, Beto Freitas e outras vítimas de violência policial foram lembrados. Episódios como a Chacina da Candelária e os Crimes de Maio foram citados.
Segundo a organização, havia cerca de 7.000 pessoas presentes. Devido à pandemia, os manifestantes usavam máscaras, mas não mantinham distanciamento. Do carro de som, as lideranças pediam para as regras serem respeitadas.
Os organizadores fizeram arrecadações de máscaras PFF2 para serem distribhídas.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi um dos poucos políticos lembrados na manifestação paulistana, aos gritos de “Fora, genocida”.
Três dias após o massacre no Jacarezinho, o presidente fez uma postagem nas redes sociais declarando que as pessoas mortas pela polícia eram “traficantes que roubam, matam e destroem famílias”.
Além de pedir justiça pelos mortos no Jacarezinho, as lideranças do movimento negro reivindicaram o fim da violência policial, a aceleração da vacinação no país e a melhora do auxílio emergencial.
No centro de São Paulo, desde o início do ato a Polícia Militar contava com grande efetivo de agentes e cavalaria. Agentes com armas de bala de borracha e câmeras corporais, um projeto piloto da Secretaria de Segurança Pública de SP, estavam presentes.
Douglas Belchior, líder da Coalizão Negra por Direitos e organizador do ato, lembrou que o 13 de maio não é uma data de comemoração, mas de denúncia contra o racismo.
“O racismo é um sistema de dominação assentado historicamente”, disse. “Apesar do avanço da consciência racial no Brasil a sociedade não se comove. Não é possível imaginar aquela chacina [do Jacarezinho] num bairro de branco ou em de classe média.”