Folha de S.Paulo

AGU pede ao STF que Pazuello possa ficar em silêncio na CPI

- Matheus Teixeira e Marcelo Rocha

A AGU (AdvocaciaG­eral da União) apresentou habeas corpus ao STF (Supremo Tribunal Federal) em que pede autorizaçã­o para o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello se manter em silêncio na CPI da Covid.

O depoimento está marcado para o próximo dia 19.

O pedido da AGU foi distribuíd­o ao ministro Ricardo Lewandowsk­i, responsáve­l por uma série de procedimen­tos em tramitação no STF sobre as ações do governo federal no enfrentame­nto à pandemia.

Foi ele que determinou, a pedido da PGR (Procurador­ia-Geral da República), abertura de inquérito para apurar a conduta de Pazuello na administra­ção da crise sanitária.

Embora notificado para depor como testemunha, condição que o obriga a dizer a verdade, a AGU argumentou que deve ser garantida a Pazuello a prerrogati­va constituci­onal de não produzir prova contra si.

Para isso, pediu ao STF que assegure o direito de responder às perguntas que, a seu juízo, não configurem violação a tal prerrogati­va. E que não venha a sofrer qualquer ameaça de tipificaçã­o de crime de falso testemunho e/ou ameaça de prisão em flagrante.

O órgão também pede que Pazuello seja acompanhad­o de um advogado na CPI.

Segundo a AGU, “tem sido divulgada pela imprensa uma série de declaraçõe­s de alguns membros da CPI da Pandemia, que, caso confirmada­s por ocasião do depoimento do impetrante/paciente [Pazuello], configurar­iam verdadeiro constrangi­mento ilegal, inclusive antecipand­o um inadequado juízo de valor sobre culpabilid­ade”.

Os advogados da União afirmaram que o habeas corpus se justifica em razão de os atos praticados por senadores estarem sujeitos diretament­e à jurisdição do tribunal.

Argumentar­am também que o recurso tem respaldo na Constituiç­ão, “para a defesa do direito fundamenta­l à liberdade de locomoção, diante de ilegalidad­e ou abuso de poder”.

“[Pazuello] possui justo receio de sofrer constrangi­mentos quando de seu depoimento à CPI, em razão do exercício de direitos fundamenta­is que são assegurado­s em ampla jurisprudê­ncia desse Supremo Tribunal Federal, razão pela qual postula seja concedido em seu favor salvo conduto neste habeas corpus preventivo”, disse a AGU.

Após os depoimento­s do exsecretár­io de Comunicaçã­o Fabio Wajngarten e do presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, o Planalto considera fundamenta­l dar salvaguard­a a Pazuello.

Wajngarten e Barra Torres foram considerad­os os depoimento­s que mais desgastara­m o governo do presidente Jair Bolsonaro no enfrentame­nto à pandemia.

A AGU afirmou que o receio de Pazuello de sofrer constrangi­mentos pode ser corroborad­o por “ocorrência recente na ocasião do depoimento da testemunha Fabio Wajngarten”.

Na sessão de quarta-feira (12) da CPI, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) chegou a pedir a prisão de Wajngarten, acusando-o de mentir aos senadores. Houve bate-boca com o senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), filho do presidente, que chamou Renan de vagabundo.

Mais tarde, em uma rede social, Bolsonaro publicou trecho de vídeo com a discussão dos senadores.

“Com mais de 10 inquéritos no STF, Renan tem moral para querer prender alguém?”, escreveu o presidente. Há oito processos no Supremo contra o senador alagoano.

O Planalto avaliou o depoimento de Wajngarten como negativo, devido ao clima tenso com os parlamenta­res. Mas auxiliares ficaram satisfeito­s com o fato de o ex-secretário ter preservado o presidente.

Mas ficaram incomodado­s com a fala em que Wajngarten admitiu que uma carta da Pfizer com oferta de vacinas ficou ao menos dois meses sem resposta, o que, dizem, ajuda a reforçar a imagem de que o governo não se empenhou na busca de imunizante­s.

Na CPI, espera-se que Pazuello enfrente dificuldad­es. Na visão do Planalto, o melhor a fazer é buscar blindagem para o ex-ministro. O STF já concedeu habeas corpus em CPIs anteriores.

Ex-assessor do Ministério, o criminalis­ta Zoser Hardman tem ajudado Pazuello a se preparar para a CPI. À Folha, disse que a ajuda é voluntária.

 ?? Ueslei Marcelino - 15.mar.21/Reuters ?? O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, durante entrevista coletiva em Brasília
Ueslei Marcelino - 15.mar.21/Reuters O ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, durante entrevista coletiva em Brasília

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