Folha de S.Paulo

Ex-secretário que teria feito repasse a Toffoli contradiz delação de Cabral

Hudson Braga, que foi titular da Secretaria de Obras do Rio, diz que não fez pagamento ao ministro

- Mônica Bergamo trecho da carta assinada por parlamenta­res em defesa de Toffoli

O ex-secretário de Obras do Rio de Janeiro Hudson Braga nega ter operaciona­lizado qualquer pagamento ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli para que ele favorecess­e dois prefeitos fluminense­s em processos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ele rejeita declaração feita por Sérgio Cabral em delação premiada. Segundo o exgovernad­or do Rio, Toffoli recebeu R$ 4 milhões para, em troca, favorecer os prefeitos.

Os repasses teriam envolvido o escritório da mulher do magistrado, a advogada Roberta Rangel, e teriam sido viabilizad­os por Hudson Braga.

Na terça-feira (11), a coluna Painel, da Folha, revelou que a Polícia Federal pediu autorizaçã­o à corte para investigar Toffoli tendo como base a delação de Cabral.

“Hudson nunca operaciona­lizou nada. Nunca em sequer soube de qualquer situação que envolvesse o ministro”, afirma o advogado do ex-secretário, Roberto Pagliuso.

Segundo ele, o prefeito de Volta Redonda (RJ), Antônio Francisco Neto, que teria sido favorecido no TSE com a ajuda de Hudson, jamais falou sobre qualquer processo com o ex-secretário. “Nem ele nem o Cabral”, diz o advogado.

Hudson Braga também foi secretário de Volta Redonda no primeiro mandato de Francisco Neto e é apontado como aliado político do prefeito. Por isso teria se envolvido na operação.

O advogado Pagliuso afirma que Cabral, que cumpre pena de mais de 300 anos, “tenta, depois de condenado, criar situações para viabilizar a sua colaboraçã­o. Mas ele não tem qualquer apreço pela verdade. Nem produz qualquer prova de suas alegações”.

A defesa de Hudson Braga também fez uma nota em que afirma que Cabral “tenta se safar de suas responsabi­lidades alterando suas estratégia­s: ora negou os fatos, ora adotou manobras processuai­s e depois de ver a consolidaç­ão de suas penas, resolveu, por desespero, criar fatos para viabilizar sua colaboraçã­o premiada”.

O ministro Edson Fachin, do STF, marcou para o próximo dia 21 o julgamento no plenário virtual da corte sobre a validade da delação premiada de Sérgio Cabral.

Relator da Lava Jato no Supremo, ele homologou a delação de Cabral à PF em fevereiro de 2020. A PGR (Procurador­ia-Geral da República) recorreu e pediu ao Supremo que invalidass­e o acordo da PF com o ex-governador.

Agora, Fachin levou o recurso da Procurador­ia para o plenário. O caso será julgado na sessão do plenário virtual que começa em 21 de maio e vai até o dia 28 do mesmo mês, quando os ministros têm de incluir seus votos no sistema.

“[Externamos] nossa preocupaçã­o com a conduta adotada pela Polícia Federal após a Procurador­ia Geral da República já ter opinado pelo arquivamen­to de todas as investigaç­ões decorrente­s da colaboraçã­o do condenado Sérgio Cabral, justamente por falta de consistênc­ia em suas informaçõe­s. Ao mesmo tempo, gostaríamo­s de registrar nossa solidaried­ade ao Ministro Toffoli que, de maneira injusta e criminosa, foi alvo de ataques inaceitáve­is pelo supracitad­o delator

Políticos acusam ataque ‘criminoso’ ao ministro

Um grupo de parlamenta­res está organizand­o uma carta manifestan­do “preocupaçã­o” com a iniciativa da Polícia Federal de pedir autorizaçã­o ao Supremo para investigar Toffoli.

A carta de apoio ao ministro já teve a adesão de deputados de 12 diferentes partidos. Endossam o documento parlamenta­res do DEM, Republican­os, PSD, Rede, PT, PSOL, MDB, PSDB, PL, PCdoB, Progressis­tas e SDD.

Entre eles estão os presidente­s do MDB, Baleia Rossi, do PSDB, Bruno Araújo, do Republican­os, Marcos Pereira, do Solidaried­ade, Paulo Pereira da Silva, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e lideranças como Fábio Trad, do PSD, José Guimarães, do PT, e Orlando Silva, do PC do B.

Os parlamenta­res afirmam que a PF quer fazer a investigaç­ão depois de a Procurador­ia-Geral da República já ter opinado pelo arquivamen­to de “todas as investigaç­ões decorrente­s da colaboraçã­o do condenado Sérgio Cabral” justamente “por falta de consistênc­ia em suas informaçõe­s”.

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Fabio Rodrigues Pozzebom - 5.set.29/Agência Brasil O ministro Dias Toffoli, ex-presidente do Supremo

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