Alerta, Planalto aposta na economia contra PT
Após Datafolha, centrão e governo esperam que avaliação do presidente melhore com vacinação e agenda positiva
A pesquisa Datafolha para a corrida presidencial em 2022, divulgada nesta quarta-feira (12), deixou o Palácio do Planalto e congressistas do centrão em alerta.
De acordo com o levantamento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida para a Presidência da República com margem confortável no primeiro turno e venceria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na segunda etapa.
O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Lula venceria o segundo turno com 55% dos votos, ante 32% do presidente.
Além disso, o governo Bolsonaro tem a aprovação de 24% dos brasileiros, a pior marca de seu mandato até aqui, segundo a pesquisa. O percentual dos que consideram a gestão ótima ou boa era de 30% no mês de março, quando foi realizado o levantamento anterior.
Os que rejeitam o atual governo, considerando-o ruim ou péssimo, eram 44% e são 45% na nova pesquisa, realizada nos dias 11 e 12 de maio, com 2.071 entrevistas presenciais em 146 municípios de todo o Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
No Congresso Nacional, representantes de siglas que dão sustentação ao governo federal afirmam que manterão o apoio a Jair Bolsonaro. Eles, no entanto, ressaltaram a necessidade de se buscar uma agenda positiva.
Integrantes da cúpula do PP, por exemplo, o maior partido que faz parte do centrão, apostam que haverá uma retomada econômica no país e o lançamento de um novo programa social no próximo ano.
Esse entendimento é semelhante ao de assessores do Palácio do Planalto. Internamente, eles esperam que o avanço da vacinação contra a Covid contribua para impulsionar o crescimento da economia nos próximos meses.
Se isso ocorrer, haverá uma melhora na popularidade do presidente e uma vitória relativamente fácil, avaliam congressistas.
Apesar de se manterem otimistas, pessoas ligadas ao presidente reconhecem o desgaste do governo federal e consideram que a agonia de popularidade de Jair Bolsonaro se deve à economia em paralisia, às taxas de desemprego, à inflação em alta e à pandemia de Covid-19.
Questionado nesta quartafeira, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) destacou que ainda falta muito tempo para as eleições.
“Falta quanto tempo para a
eleição? Um ano e meio. Então tem muita água para rolar aí, vamos aguardar. Tem que ter paciência”, afirmou, ao deixar o gabinete da VicePresidência.
O governo também enfrenta o desgaste provocado pela CPI da Covid, em andamento no Senado.
Nesta semana, os depoimentos do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, e do exsecretário de Comunicação Fabio Wajngarten deixaram o presidente acuado.
A pesquisa Datafolha mostra ainda que temas relacionados
à situação que o país enfrenta por causa do novo coronavírus têm abalado a imagem de Bolsonaro.
Entre os que declaram estar vivendo normalmente durante a pandemia, ele tem 36% das intenções de voto, um empate técnico com o ex-presidente Lula (33%). Do outro lado, aqueles que dizem estar totalmente isolados apoiam Lula de forma maciça (58%), contra apenas 8% de Jair Bolsonaro.
Outro dado negativo para o atual chefe do Executivo constatado no levantamento é a rejeição. De acordo com a pesquisa, Bolsonaro tem o maior índice entre todos os adversários. Se for considerada apenas a região Nordeste, o índice atinge 62%. Em seguida, aparecem Lula, com 36%, João Doria (PSDB), com 30%, e Luciano Huck (sem partido), que tem 29%.
Diante desse cenário, o Palácio do Planalto teme que novas pesquisas repitam os resultados apontados pelo Datafolha e causem um processo de perda de apoio do Bolsonaro junto ao centrão.
Para tentar reverter a situação, nomes ligados ao presidente da República defendem a utilização das redes bolsonaristas para desqualificar a pesquisa Datafolha e destacar que ela difere muito de levantamentos recentes, que mostram Lula e Bolsonaro em disputa acirrada.
De maneira geral, líderes do centrão avaliam que a sociedade está polarizada e que não deve surgir um terceiro nome como nova via na eleição de 2022.
A pesquisa Datafolha mostrou um terceiro lugar embolado no primeiro turno, em que aparecem o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (sem partido) com 7%, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) com 6%, o apresentador Luciano Huck (sem partido) com 4%, o governador João Doria (PSDB) com 3%, e empatados com 2% o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o empresário João Amoêdo (Novo).
Para congressistas, esse cenário pode colaborar para a reeleição de Bolsonaro.
A possibilidade de um terceiro nome para tentar ganhar a disputa é defendida pelo PSD, que tem se afastado do governo federal. Senadores e deputados da legenda dizem que é possível surgir outros candidatos na disputa e afirmam que o partido trabalha para ter candidatura própria.
O PL, no entanto, que também integra o centrão, ficou dividido. Embora esteja na base de Bolsonaro, integrantes da sigla apostam no crescimento ainda maior do expresidente Lula e começam a pregar um apoio ao PT no próximo ano.
O ex-presidente já iniciou as articulações para tentar recuperar o apoio de legendas que são consideradas peças-chave para a eleição presidencial de 2022.
Após ter sido imunizado com as duas doses contra a Covid-19, Lula viajou a Brasília na semana passada, onde participou de encontros com representantes de diversos partidos.
Além de contatos com a esquerda, Lula também conversou com líderes do centrão e até do MDB, partido que capitaneou o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.