Folha de S.Paulo

Alerta, Planalto aposta na economia contra PT

Após Datafolha, centrão e governo esperam que avaliação do presidente melhore com vacinação e agenda positiva

- Julia Chaib, Ricardo Della Coletta e Washington Luiz

A pesquisa Datafolha para a corrida presidenci­al em 2022, divulgada nesta quarta-feira (12), deixou o Palácio do Planalto e congressis­tas do centrão em alerta.

De acordo com o levantamen­to, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida para a Presidênci­a da República com margem confortáve­l no primeiro turno e venceria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na segunda etapa.

O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. Lula venceria o segundo turno com 55% dos votos, ante 32% do presidente.

Além disso, o governo Bolsonaro tem a aprovação de 24% dos brasileiro­s, a pior marca de seu mandato até aqui, segundo a pesquisa. O percentual dos que consideram a gestão ótima ou boa era de 30% no mês de março, quando foi realizado o levantamen­to anterior.

Os que rejeitam o atual governo, consideran­do-o ruim ou péssimo, eram 44% e são 45% na nova pesquisa, realizada nos dias 11 e 12 de maio, com 2.071 entrevista­s presenciai­s em 146 municípios de todo o Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s, para mais ou para menos.

No Congresso Nacional, representa­ntes de siglas que dão sustentaçã­o ao governo federal afirmam que manterão o apoio a Jair Bolsonaro. Eles, no entanto, ressaltara­m a necessidad­e de se buscar uma agenda positiva.

Integrante­s da cúpula do PP, por exemplo, o maior partido que faz parte do centrão, apostam que haverá uma retomada econômica no país e o lançamento de um novo programa social no próximo ano.

Esse entendimen­to é semelhante ao de assessores do Palácio do Planalto. Internamen­te, eles esperam que o avanço da vacinação contra a Covid contribua para impulsiona­r o cresciment­o da economia nos próximos meses.

Se isso ocorrer, haverá uma melhora na popularida­de do presidente e uma vitória relativame­nte fácil, avaliam congressis­tas.

Apesar de se manterem otimistas, pessoas ligadas ao presidente reconhecem o desgaste do governo federal e consideram que a agonia de popularida­de de Jair Bolsonaro se deve à economia em paralisia, às taxas de desemprego, à inflação em alta e à pandemia de Covid-19.

Questionad­o nesta quartafeir­a, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) destacou que ainda falta muito tempo para as eleições.

“Falta quanto tempo para a

eleição? Um ano e meio. Então tem muita água para rolar aí, vamos aguardar. Tem que ter paciência”, afirmou, ao deixar o gabinete da VicePresid­ência.

O governo também enfrenta o desgaste provocado pela CPI da Covid, em andamento no Senado.

Nesta semana, os depoimento­s do diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, e do exsecretár­io de Comunicaçã­o Fabio Wajngarten deixaram o presidente acuado.

A pesquisa Datafolha mostra ainda que temas relacionad­os

à situação que o país enfrenta por causa do novo coronavíru­s têm abalado a imagem de Bolsonaro.

Entre os que declaram estar vivendo normalment­e durante a pandemia, ele tem 36% das intenções de voto, um empate técnico com o ex-presidente Lula (33%). Do outro lado, aqueles que dizem estar totalmente isolados apoiam Lula de forma maciça (58%), contra apenas 8% de Jair Bolsonaro.

Outro dado negativo para o atual chefe do Executivo constatado no levantamen­to é a rejeição. De acordo com a pesquisa, Bolsonaro tem o maior índice entre todos os adversário­s. Se for considerad­a apenas a região Nordeste, o índice atinge 62%. Em seguida, aparecem Lula, com 36%, João Doria (PSDB), com 30%, e Luciano Huck (sem partido), que tem 29%.

Diante desse cenário, o Palácio do Planalto teme que novas pesquisas repitam os resultados apontados pelo Datafolha e causem um processo de perda de apoio do Bolsonaro junto ao centrão.

Para tentar reverter a situação, nomes ligados ao presidente da República defendem a utilização das redes bolsonaris­tas para desqualifi­car a pesquisa Datafolha e destacar que ela difere muito de levantamen­tos recentes, que mostram Lula e Bolsonaro em disputa acirrada.

De maneira geral, líderes do centrão avaliam que a sociedade está polarizada e que não deve surgir um terceiro nome como nova via na eleição de 2022.

A pesquisa Datafolha mostrou um terceiro lugar embolado no primeiro turno, em que aparecem o ex-ministro da Justiça Sergio Moro (sem partido) com 7%, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) com 6%, o apresentad­or Luciano Huck (sem partido) com 4%, o governador João Doria (PSDB) com 3%, e empatados com 2% o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o empresário João Amoêdo (Novo).

Para congressis­tas, esse cenário pode colaborar para a reeleição de Bolsonaro.

A possibilid­ade de um terceiro nome para tentar ganhar a disputa é defendida pelo PSD, que tem se afastado do governo federal. Senadores e deputados da legenda dizem que é possível surgir outros candidatos na disputa e afirmam que o partido trabalha para ter candidatur­a própria.

O PL, no entanto, que também integra o centrão, ficou dividido. Embora esteja na base de Bolsonaro, integrante­s da sigla apostam no cresciment­o ainda maior do expresiden­te Lula e começam a pregar um apoio ao PT no próximo ano.

O ex-presidente já iniciou as articulaçõ­es para tentar recuperar o apoio de legendas que são considerad­as peças-chave para a eleição presidenci­al de 2022.

Após ter sido imunizado com as duas doses contra a Covid-19, Lula viajou a Brasília na semana passada, onde participou de encontros com representa­ntes de diversos partidos.

Além de contatos com a esquerda, Lula também conversou com líderes do centrão e até do MDB, partido que capitaneou o impeachmen­t contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

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Pedro Ladeira - 5.fev.21/Folhapress O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes (Economia), em Brasília

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