Cresce procura por certificado falso de imunidade na Alemanha
A proximidade do verão europeu e a promessa de que pessoas vacinadas ficarão livres da maioria das restrições para controlar a pandemia estão provocando dois fenômenos em alguns países: uma corrida aos postos de saúde dos que querem se vacinar e o aquecimento do mercado de certificados falsos, impulsionado pelos chamados antivaxxers —que recusam as injeções por ideologia.
“O problema dos atestados falsos já existe hoje e vai continuar por muito tempo”, afirmou o presidente da federação dos investigadores criminais alemães (BDK), Sebastian Fiedler. Segundo ele, os antivacina são um dos principais compradores da indústria de falsificação. Quase seis meses após o início das campanhas de vacinação na Europa, 3 em cada 10 alemães dizem que não pretendem aceitar um imunizante quando ele for oferecido, de acordo com levantamento do Eurofound.
Além de eliminar amarras, a vacinação facilitará a passagem de fronteiras. A partir de domingo (16), a Alemanha não vai mais exigir testes e quarentena de quem tomou duas doses ou se recuperou da Covid, a não ser que venha de países com alta circulação de variantes mais contagiosas.
Como não há padrão histórico para o documento, não será fácil reconhecer as falsificações, disse Rainer Wendt, presidente do sindicato de policiais DPolG, à mídia alemã. Problema semelhante foi identificado pela Europol em fevereiro, quando a exigência de testes negativos de coronavírus fez subir a apreensão de atestados falsos.
Garantir a veracidade dos comprovantes e padronizar as informações necessárias nos países do bloco europeu foi o que levou a UE a propor um certificado digital único. A ideia é que residentes vacinados ou recuperados de Covid-19 possam transitar livremente pela zona Schengen (de 30 países europeus) sem precisar de testes ou quarentenas.
Apresentado em março, o documento ainda está sendo discutido pelos governos nacionais; a expectativa é a de que seja lançado em 21 de junho. A Alemanha, como a Áustria e a Dinamarca, antecipou-se e criou um sistema próprio para facilitar a circulação interna de seus residentes.
Outros países cuja economia depende fundamentalmente do turismo, como a Itália, prometem lançar ainda em maio seus passes livres, enquanto esperam pelo certificado da União Europeia.
As iniciativas isoladas devem abrir novas oportunidades para o mercado de falsificações, de olho em países nos quais a desconfiança sobre a vacina e o poder aquisitivo para viagens são altos. É o caso da França, onde quase 40% da população diz não pretender aceitar os imunizantes.
Mas não só os negacionistas foram incentivados pela perspectiva de mais liberdade. A decisão do governo alemão de retirar limites mínimos de idade para a aplicação do imunizante da AstraZeneca levou centenas de pessoas a formar filas neste final de semana em diversas cidades.
Aumentou também a pressão de pessoas que insistem em furar a fila para receber a injeção, de acordo com Martin Helfrich, porta-voz da autoridade social de Hamburgo. “O clima está se tornando mais agressivo. Algumas pessoas sabem claramente que não estão autorizadas e ainda tentam se vacinar”, afirmou ele ao telejornal Report Mainz.
Segundo o programa, há indícios de que pessoas estão mentindo a idade ou falsificando atestados de saúde para tentar antecipar suas injeções. Outro atalho foi aberto pela decisão de estados como a Renânia-Palatinado, em que quem precisa de cuidados pode fornecer nomes de dois cuidadores. De acordo com o jornal, há casos em que “até oito jovens saudáveis conseguiram ser vacinados como contato de uma única pessoa”.
Em Bruxelas, onde as injeções foram liberadas nesta semana para a faixa dos 40 anos de idade, grupos de jovens entre 20 e 30 anos se aglomeram no final da tarde em frente aos centros de vacinação, na tentativa de conseguir uma dose perto do vencimento ou que tenha sobrado por conta de uma desistência.
Pelo cronograma atual da vacinação na capital belga, a segunda dose para quem nasceu depois de 1990 deve ficar para meados de julho, o que obrigaria essa geração a uma rotina de testes para viajar durante o verão europeu.
Aproveitando a sobra de ampolas e a necessidade de reativar o setor turístico — sua principal atividade econômica—, a microrrepública de San Marino lança na segunda-feira (17) seu “pacote de turismo vacinal”. Viajantes que reservarem ao menos seis noites de hotel poderão tomar duas doses do imunizante russo Sputnik V.