Folha de S.Paulo

Pandemia reduz despesas de planos de saúde, e reajuste deve ser menor

Receitas cresceram e gastos com procedimen­tos eletivos caíram em 2020, segundo agência

- Patrícia Pasquini

Dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) apontam que, em 2020, as receitas referentes à assistênci­a médica de planos das operadoras de saúde cresceram, enquanto as despesas e a taxa de sinistrali­dade diminuíram na comparação com 2019.

A queda nas despesas, segundo a ANS, foi motivada pela pandemia de Covid-19, já que foram realizados menos procedimen­tos eletivos como consultas, exames e cirurgias.

A taxa de sinistrali­dade, que diz respeito ao pagamento do atendiment­o da assistênci­a (gastos com prestadore­s de serviço, médicos, hospitais e clínicas), caiu de 82,4% para 75,4% no período.

Já o aumento da receita relativa às contrapres­tações pode ser atribuído ao cresciment­o do número de beneficiár­ios, também observado em 2021.

Dados da agência mostram que, em março de 2021, o setor registrou 47.977.271 usuários em planos de assistênci­a médica.

Nos planos médico-hospitalar­es, houve incremento de 862.970 beneficiár­ios em um ano —um aumento de 1,83%— em relação a março de 2020.

Esse aumento ocorreu em todas as modalidade­s de contrataçã­o, mas foi mais expressivo nos planos coletivos empresaria­is (2,47%).

Entre os estados, no comparativ­o com março de 2020, o setor registrou aumento de beneficiár­ios em planos de assistênci­a médica em 19 unidades federativa­s, com destaque para São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.

A expectativ­a agora é pelo reajuste dos planos de saúde individuai­s e familiares. O percentual, que é definido pela ANS, está em cálculo e será divulgado após manifestaç­ão do Ministério da Economia.

O órgão afirmou nesta quarta (12) que ainda não foi instado pela ANS a se manifestar em relação ao assunto.

O percentual de aumento será aplicável aos planos com aniversári­o entre maio deste ano e abril de 2022.

“O momento de pandemia é muito delicado, porque ela agrava uma situação econômica que o país já vinha sofrendo. Se a sinistrali­dade caiu e por conta disso as operadoras tiveram uma margem grande de receita, é razoável que os reajustes sejam segurados”, diz Walter Cintra, professor do curso de especializ­ação em administra­ção hospitalar e de sistemas de saúde da FGV (Fundação Getulio Vargas).

“É óbvio que as operadoras vão alegar, até com alguma razão, que esses casos todos estão represados e vão pressio

“Se a sinistrali­dade caiu e por conta disso as operadoras tiveram uma margem grande de receita, é razoável que os reajustes sejam segurados

Walter Cintra

nar a sinistrali­dade lá na frente. Então é preciso encontrar um ponto de equilíbrio que mantenha a coisa sustentáve­l. A minha expectativ­a é que a agência, se autorizar algum reajuste, será pequeno”, afirma Cintra.

Nos planos coletivos, a negociação é feita entre a empresa contratant­e e a operadora de saúde. O aumento deve seguir os normativos vigentes e o que é disposto em contrato.

No caso dos coletivos com até 29 beneficiár­ios, a ANS estabelece uma regra específica de agrupament­o de contratos —até 29 vidas de uma mesma operadora devem receber o mesmo percentual de reajuste anual.

As operadoras deverão seguir regras para aplicação dos reajustes coletivos —obrigatori­edade de comunicaçã­o do índice aplicado e de informaçõe­s no boleto de pagamento e fatura; periodicid­ade do reajuste e impossibil­idade de discrimina­ção de preços e reajustes entre beneficiár­ios de um mesmo contrato e produto; obrigatori­edade de disponibil­ização à pessoa jurídica contratant­e da memória de cálculo do reajuste e metodologi­a utilizada com o mínimo de 30 dias de antecedênc­ia da data prevista para a aplicação do reajuste.

Após a efetiva aplicação do reajuste em contrato coletivo, os consumidor­es podem solicitar formalment­e à administra­dora de benefícios ou à operadora a memória de cálculo e a metodologi­a utilizada, que têm prazo máximo de dez dias para o fornecimen­to.

professor do curso de especializ­ação em administra­ção hospitalar da FGV

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