Folha de S.Paulo

Cinco de seis irmãos morrem de Covid em Santa Catarina em intervalo de 39 dias

- Vanessa da Rocha

A Covid-19 tirou a vida de cinco de seis irmãos em Ituporanga, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. As mortes se deram em intervalo de 39 dias entre o início de abril e de maio. O pai também morreu com a doença.

Casos de muitas pessoas mortas na mesma família se reproduzem pelo país. Em Parintins (AM), foram oito vítimas na família Almada.

Cecília Quadros de Almeida perdeu o marido, João Alci, de 70, e os filhos Maria Rosimara, 34, Antônio, 50, Zelirde, 45, João Ercio, 43 e José Joarez, 48.

Na casa moravam só Cecília e João, mas os filhos iam ao local cuidar dos pais. “Meu sogro e minha sogra necessitav­am de bastante atenção, e os filhos se revezavam para cuidar deles, dar remédios, reparar”, diz Viviane Regina de Almeida, viúva de João Ercio.

Abalada, a família tem agora como principal preocupaçã­o a matriarca, que perdeu todos os filhos que a cuidavam. “A única filha que sobrou ainda está doente de Covid. A dona Cecília ficou sozinha e está sendo reparada por vizinhos. É muito preocupant­e, pois ela não está lúcida. Não está bem”, diz Viviane.

A primeira internação foi da caçula, a costureira Maria Rosimara. Ela foi ao hospital no dia 1 abril, quando a fila de espera por leito de UTI em Santa Catarina tinha mais de 100 pessoas. Segundo o Hospital Bom Jesus, foi intubada enquanto aguardava o leito, mas não resistiu e faleceu no dia seguinte à internação.

No dia 10 de abril, Antônio, técnico de enfermagem, morreu no Hospital Regional Alto Vale. Ele deixou esposa, duas filhas e uma neta, e esperava o nascimento do segundo neto.

A terceira morte na família foi do patriarca João Alci. O motorista de caminhão aposentado chegou a ficar uma semana hospitaliz­ado, mas morreu no dia 24 de abril.

Dez dias depois, em 3 de maio, morreu Zelirde. Cuidadora de idosos, era uma das filhas que dedicava mais tempo a João Alci e Cecília, e dividia a rotina entre a casa dos pais e a própria casa, onde morava com esposo, filha e neto.

O quinto óbito na família veio em 5 de maio. João Ercio era casado com Viviane e pai de um menino. Administra­va uma empresa de refrigeraç­ão, onde o irmão Joarez, último irmão a morrer, também trabalhava. “Estou tocando a empresa, tentando levar adiante. Não tem nem como processar tanta coisa”, diz a viúva.

A morte de José Joarez ocorreu na manhã de terça-feira (11). Ele estava hospitaliz­ado havia 14 dias e respirava com o auxílio de um capacete respiratór­io. Segundo o Hospital, a intubação foi evitada porque a equipe médica “percebeu que os demais irmãos, quando intubados, tiveram piora no quadro”. Ele deixou a esposa e dois filhos.

Dos seis filhos de Cecília,

apenas uma sobreviveu. Ela e a filha Lucimara também tiveram Covid. Cecília foi a única que não precisou de internação. Já Lucimara recebeu alta, mas ainda passa por supervisão médica.

Segundo Viviane, a família cuidava para evitar contaminaç­ão já que irmãos e pai apresentav­am sobrepeso e diabetes. “

Ituporanga, com cerca de 25 mil habitantes, soma 53 óbitos por Covid. A prefeitura decretou luto oficial em solidaried­ade ao número de mortes dentro de um mesmo núcleo familiar.

 ?? Arquivo pessoal ?? Cinco de seis irmãos em Ituporanga (SC) foram mortos pela Covid-19; da esquerda para a direita, acima: João Ercio, José Joarez e Antônio; abaixo: Rosimara, Lucimara (única sobreviven­te) e Zelirde
Arquivo pessoal Cinco de seis irmãos em Ituporanga (SC) foram mortos pela Covid-19; da esquerda para a direita, acima: João Ercio, José Joarez e Antônio; abaixo: Rosimara, Lucimara (única sobreviven­te) e Zelirde

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