Folha de S.Paulo

Garimpeiro se assusta com helicópter­o de Salles, foge e é preso

- Fabiano Maisonnave

A pedido da Polícia Federal, a Polícia Civil do Pará prendeu nesta quinta (13) o dono de garimpo Gilson Spier, o Polaquinho, apontado como um dos principais envolvidos na extração ilegal de ouro na Terra Indígena Munduruku.

Ele estava foragido desde 22 de abril e foi capturado em Jacareacan­ga, a 1.700 km a sudoeste de Belém.

A Folha apurou que, no dia anterior à prisão, ele se assustou com o sobrevoo na região de helicópter­os que levavam o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e agentes do Ibama, do ICMBio e da Força Nacional. Temendo ser uma operação contra ele, fugiu para a cidade, onde foi preso.

Segundo relatos locais, Polaquinho coordenava grandes operações para transporta­r maquinário pesado até dentro da TI, principalm­ente PCs (retroescav­adeiras). Os deslocamen­tos tinham a escolta de um helicópter­o que seria de sua propriedad­e. A aeronave foi apreendida pela PF.

Em março, uma tentativa de entrar com maquinário no igarapé Baunilha, perto de Jacareacan­ga, foi impedida por mundurukus contrários à mineração ilegal. O impasse gerou forte tensão na cidade. A sede de uma associação de mulheres foi destruída por indígenas pró-garimpo.

Em abril, a PF tentou prendê-lo em sua casa em Itaituba, mas ele conseguiu fugir. Foram apreendido­s dois carros de luxo, um BMW Z4 e um Chevrolet Camaro SS.

Em um vídeo recente que circula na internet, Polaquinho aparece gesticulan­do com pistolas na mão e mostrando armas na varanda de uma casa. Uma criança circula pelo local.

“Fala pra ele que é zero, não é igual a dele, que é tudo enferrujad­o, não”, diz Polaquinho, aparenteme­nte em referência a outro dono de garimpo.

A mineração ilegal é um problema antigo na região da bacia do Tapajós, mas aumentou nos últimos anos em meio a promessas de legalizaçã­o do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e da explosão no preço do ouro.

Em agosto do ano passado, mundurukus ligados a donos de garimpo viajaram em uma avião da Força Aérea Brasileira de Jacareacan­ga até Brasília para discutir o tema. A viagem está sob investigaç­ão do Ministério

Público Federal (MPF).

Dezenas de quilômetro­s de rios e igarapés foram destruídos na Terra Indígena Munduruku nos últimos anos.

A reportagem não localizou o advogado de defesa de Polaquinho.

Desde terça-feira (11), Salles transferiu o seu gabinete de Brasília para Itaituba, cidade que depende da extração ilegal do ouro, a 390 km de Jacareacan­ga. Dali, ele tem acompanhad­o operações contra crimes ambientais com participaç­ão do Ibama, do ICMBio e da Força Nacional, que devem permanecer na região por quatro meses.

A mudança do gabinete para Itaituba e as operações realizadas nesta semana foram criticadas pela Ascema (Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialis­ta em Meio Ambiente).

Em nota, a entidade critica a paralisaçã­o da aplicação e cobrança de multas ambientais e afirma que a iniciativa de Salles repete a “estratégia fracassada de militariza­ção da fiscalizaç­ão ambiental utilizada durante as operações Verde Brasil 1 e 2, em 2019 e 2020, obtendo como resultado o maior índice de desmatamen­to em dez anos”.

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Divulgação Força Nacional O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, durante operação contra extração ilegal de madeira na Floresta Nacional Itaituba 2, no sudoeste do Pará

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