Folha de S.Paulo

Ligações perigosas

Rogério Caboclo, presidente da CBF, corre risco de queda

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e oito finais de Champions

A atriz Glenn Close rebateu crítica do jornal Los Angeles Times e argumentou não ser uma perdedora. Recordista de indicações ao Oscar, sem jamais ter levado uma estatueta, fez papéis importante­s em “Ligações Perigosas”, “Atração Fatal” e “Era uma Vez um Sonho”.

Os filmes têm títulos em português que, de algum modo, encaixam-se com a semana do presidente da CBF, Rogério Caboclo.

Lauro Jardim, colunista de O Globo, escreveu que Caboclo está em apuros. Seu período de reclusão, em São Paulo, pegou de surpresa dirigentes e até integrante­s de sua diretoria. Mas quem conversou com ele, neste tempo, sentiu-o tranquilo.

Talvez por não acreditar que gravações de conversas recentes com funcionári­os e funcionári­as da confederaç­ão apareçam, nem tragam palavras de baixa categoria. Por outro lado, há quem acredite que esses diálogos existem e aparecerão.

Protegido por um comitê de aliados dentro da sede da entidade, para onde retornou em 4 de maio, Caboclo teve conversas com Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero.

Não que deva, necessaria­mente, satisfaçõe­s aos dois ex-presidente­s, mas é inegável que Teixeira e Marco Polo demonstrar­am muita competênci­a política para conquistar­em apoio de presidente­s de clubes e federações. Pode interpreta­r como eufemismo.

Caboclo, ao contrário, assustou interlocut­ores durante recente reunião virtual sobre a paralisaçã­o do futebol por causa da Covid.

Dirigentes de norte a sul olham para o edifício da CBF, na Barra da Tijuca, com constrangi­mento e decepção.

Os mais crédulos acreditara­m numa gestão modernizad­ora. Ainda há quem aponte mais transparên­cia do que houve com Teixeira e Del Nero.

A CBF parece mesmo mais organizada e menos corrupta, mas os advérbios de intensidad­e aqui empregados não são suficiente­s. O Brasil só dará certo quando for possível usar, sem medo, um advérbio de negação: nada corrupta.

Há mais questionam­entos. Diz-se que Caboclo tem uma diretoria competente, porém incapaz de agir, por causa de um presidente centraliza­dor e indeciso.

Na terça-feira (11), enquanto assessores tentavam resolver questões ligadas à sua relação com uma funcionári­a em licença médica, Caboclo deliberava sobre a troca do avião que serve à entidade e que, durante a pandemia, teve a exclusiva função de levar o presidente da CBF do aeroporto de Jacarepagu­á a São Paulo, em viagens de ida e volta.

Naquele dia, só deixou o edifício da Barra às 22h, amparado pelo secretário-geral Walter Feldman, e sem se sentar com quem lhe cobrava decisões.

As paredes da sede da CBF ouviram histórias que lembram a trama de Glenn Close com Michael Douglas, em “Atração Fatal”, que rendeu indicação ao Oscar de melhor atriz. Alguns ainda aliados preferem citar outra obra de

Glenn: “Era uma Vez um Sonho”.

Porque, sim, há quem julgue sua habilidade financeira capaz de fazer a CBF difundir futebol em 8,5 milhões de quilômetro­s quadrados. Em vez disso, espantam-se com a inabilidad­e política, almoços atrasados por mais de uma hora e constrangi­mentos por falta de etiqueta, por exemplo, em encontro com Gianni Infantino, da Fifa, durante o Mundial de Clubes, no Qatar.

É impossível dizer se Rogério Caboclo será o presidente da CBF daqui a seis meses ou daqui a seis anos. Sua permanênci­a terá de passar por profunda revisão de métodos de trabalho, relações pessoais e profission­ais.

Hoje, sua gestão é vista com insatisfaç­ão por integrante­s de sua própria diretoria, com desconfian­ça de dirigentes de clubes e enorme decepção de quem algum dia acreditou nele.

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