Em agravamento da crise, Israel faz primeiro ataque a Gaza por terra
Além de bombardeios, Exército realiza disparos de artilharia pela fronteira, mas não invade enclave
Eu disse que nós iríamos cobrar um preço alto do Hamas e do resto das organizações terroristas
Binyamin Netanyahu premiê israelense
O Exército israelense atacou nesta sexta-feira (noite de quinta, 13, no Brasil) a Faixa de Gaza na primeira ação terrestre desde que começou a troca de foguetes e mísseis entre Israel e o grupo islâmico Hamas no início da semana.
Tropas israelenses haviam se concentrado na fronteira nesta quinta, e militantes do Hamas mantiveram disparos de foguetes contra Israel, em conflitos que causam preocupação mundial e acirram hostilidades entre judeus e a árabes em várias cidades do país.
Duas horas após o início da operação, o Exército disse que não invadiu o enclave palestino, dando a entender que os disparos estão sendo feitos a partir do território israelense.
A última invasão a Gaza aconteceu em 2014 e resultou na morte de mais de 2.000 palestinos, a maioria civis.
O anúncio da ação terrestre tinha sido feito com apenas uma frase do Exército no Twitter, dizendo que “a aviação israelense e tropas em terra realizam atualmente um ataque na Faixa de Gaza”. A informação foi confirmada pelo porta-voz Jonathan Conricus.
Moradores da região da fronteira disseram não ter visto os soldados israelenses no enclave, mas descreveram o uso de artilharia pesada e dezenas de ataques aéreos.
O Exército israelense ordenou que todas as pessoas que vivam num raio de 4 quilômetros da fronteira se dirijam aos abrigos antibomba, de acordo com o jornal Times of Israel.
“Eu disse que nós iríamos cobrar um preço alto do Hamas e do resto das organizações terroristas”, afirmou o premiê Binyamin Netanyahu, em comunicado após o início da operação. “Estamos fazendo isso, e vamos continuar a fazê-lo com grande força. Essa operação irá continuar enquanto for necessário para restaurar a paz e a segurança ao Estado de Israel”, disse.
Nos últimos dias, autoridades de Israel disseram que iriam realizar ações contra os líderes do Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza e é considerado terrorista por Israel e Estados Unidos.
Desde o início desta nova fase do conflito, que já dura quase uma semana, ao menos 116 pessoas morreram —109 em Gaza, incluindo 29 crianças, segundo o Ministério da Saúde local, e 7 em Israel, de acordo com autoridades médicas israelenses— e mais de 500 ficaram feridas. Apenas nesta quinta-feira, o dia mais sangrento do confronto até agora, houve ao menos 52 mortes, todas do lado palestino.
“Estamos em uma situação de emergência, e agora é necessário reforçar massivamente as forças no terreno”, afirmou o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, ao anunciar a convocação de oficiais militares da reserva para reforçar a segurança e o deslocamento para a região de Gaza de tropas que normalmente ficam na fronteira com a Cisjordânia.
O porta-voz do braço armado do Hamas, Abu Ubaida, respondeu em tom de desafio, pedindo aos palestinos que se levantassem. “Juntem-se como quiserem, do mar, da terra e do céu. Nós nos preparamos para tipos de morte que fariam vocês amaldiçoarem a si mesmos”, disse o porta-voz.
Na noite de quinta, foguetes foram disparados do Líbano em direção a Israel e caíram no mar, em sinalização de que o atual conflito pode causar instabilidade em todo o Oriente Médio. Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque.
O aumento do conflito entre os militares israelenses e o Hamas nos últimos dias tem sido acompanhado internamente em Israel pelo crescimento dos confrontos entre árabes-israelenses e judeus.
Apesar do histórico de guerras entre o Estado israelense e grupos palestinos em Gaza e na Cisjordânia, tradicionalmente as duas comunidades convivem de maneira relativamente pacífica em Israel, sem grandes episódios de violência nas últimas décadas.
Desta vez, porém, a situação é diferente. Diversas cidades israelenses como Haifa, Jafa, Beersheva e Lod —que ordenou, nesta quinta, toque de recolher das 20h às 3h— têm sido palco de atos da população árabe em apoio à causa palestina. Sinagogas foram atacadas, e conflitos eclodiram nas ruas de algumas comunidades, levando prefeitos e até o presidente a alertar sobre o perigo de uma guerra civil.
“No momento, não há ameaça maior do que esses confrontos, e é essencial que restauremos a lei e a ordem”, disse Netanyahu. “O que está acontecendo nos últimos dias nas cidades de Israel é insuportável. Nada justifica esse linchamento de árabes por judeus e o linchamento de judeus por árabes”, ele afirmou, acrescentando que o país vive um “combate em duas frentes”.
Ativistas palestinos em Israel afirmam ser vítimas de perseguição policial e que as forças de segurança reprimem com violência as manifestações árabes, embora permitam protestos de judeus.
Grupos judeus e árabes atacaram pessoas e danificaram lojas, hotéis e carros durante a noite de quarta-feira. Em Bat Yam, ao sul de Tel Aviv, extremistas judeus realizaram uma marcha na qual, segundo imagens da TV israelense, uma multidão atacou um palestino —de acordo com a CNN, ele não está em estado grave.
“A violência dentro de Israel atingiu um nível inédito em décadas”, afirmou o porta-voz da polícia israelense, Micky Rosenfeld, à agência de notícias AFP. Segundo ele, mais de 400 pessoas foram presas e quase mil agentes da guarda de fronteira foram mobilizados para conter a violência em cidades que antes eram vistas como símbolos da convivência entre árabes e judeus.
Autoridades de saúde de Gaza disseram ainda que estão analisando amostras para investigar a morte de várias pessoas durante a noite de quarta-feira devido a uma suposta inalação de gás venenoso.
O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião para o domingo (16) para discutir o agravamento da violência na região. O plano inicial proposto por China, Tunísia e Noruega era realizar o encontro já nesta sexta (14), mas a ideia foi vetada pelos EUA.
Um dos principais aliados de Israel, o governo americano também se opôs ao longo desta semana a uma proposta de declaração conjunta do Conselho que pedia o fim dos confrontos, por considerá-la “contraproducente” e “inoportuna” neste momento. A proposta de resolução pedia que Israel respeitasse a lei internacional e interrompesse a construção de assentamentos em territórios ocupados.