Folha de S.Paulo

Economia apostou em queda da Covid sem ouvir Saúde

Avaliação de membros da Economia é que texto foi capturado pelo fisco, visa a aumentar a tributação e é injusto com as empresas

- Fábio Pupo

Em novembro, o secretário de Política Econômica disse que o país rumava para a “imunidade de rebanho”. Ofício à CPI da Covid mostra que a declaração foi feita sem consultar a pasta da Saúde. Para senador, caso evidencia “falta de coordenaçã­o”.

BRASÍLIA A Receita Federal rebateu críticas do empresaria­do e até de parte da equipe econômica de que o órgão capturou as discussões sobre a reforma tributária e adicionou um conjunto de “maldades” na proposta de alteração do Imposto de Renda.

O fisco diz que a proposta passou por avaliação e aprovação de Ministério da Economia, Casa Civil e Presidênci­a. Agora, diante dos ataques da iniciativa privada, governo e Congresso preparam uma nova versão do texto.

Claudemir Malaquias, chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita, diz que a reforma não poderia ter sido resultado das discussões de apenas um órgão.

“Por ter todos os dados, ficou fácil atribuir à Receita todas as caracterís­ticas da reforma. Mas elas foram apontadas e apresentad­as às demais áreas do ministério. A reforma é uma proposta do Ministério da Economia, não da Receita”, afirmou à Folha.

“E, para se transforma­r em um projeto de lei, [passou] pelo crivo da Presidênci­a. Então os técnicos da Casa Civil também avaliaram a proposta e falaram: ‘Presidente, vamos encaminhar essa proposta’.”

Conforme mostrou a Folha, membros da Economia dizem que a reforma teria sido capturada pela Receita, que não teria dado margem para participaç­ão e sugestões de outras áreas. A avaliação desse grupo é que a reforma aumenta a tributação, é injusta com as empresas e amplia a burocracia do sistema.

Malaquias afirma que o projeto passou pelas demais áreas do ministério para receber avaliações econômicas, fiscais, orçamentár­ias e também sobre o impacto no fluxo de caixa do Tesouro.

Segundo ele, a Receita participa sobretudo das duas fases iniciais do processo legislativ­o, sendo elas a elaboração de um esboço do texto legal e o cálculo dos impactos na arrecadaçã­o. “A autoridade que está fora da Receita é que vai decidir o que vai ser feito ou não”, afirmou.

“Então, essa análise é complement­ar. Depois que isso é fechado na Economia, isso vai passar pela autoridade que vai encaminhar o projeto. Quem encaminha o projeto não é a Receita, é o Executivo”, afirmou. “Só que o Executivo trabalha por meio de gabinetes. Então o ministro, concordand­o com todas as suas áreas, vai apresentar para o presidente. E os técnicos da Casa Civil avaliaram, e vão continuar avaliando, todo o processo da reforma”, disse.

Um grupo de 120 entidades empresaria­is enviou carta ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com uma lista de críticas à reforma. As associaçõe­s defendem que o tema seja debatido com tempo e pedem a criação de uma comissão especial para analisar o projeto.

Entre os signatário­s estão a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os), a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) e a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas).

A proposta foi criticada também por entidades como a CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), para a qual o texto eleva a carga tributária das empresas de 34% para 43% —consideran­do o combo apresentad­o de tributação de 20% dos dividendos, fim da dedutibili­dade dos juros sobre capital próprio e redução de alíquota de IRPJ (Imposto sobre a Renda de Pessoas Jurídicas).

A alíquota de IRPJ é hoje de 15%, com 10% adicionais sobre os ganhos que passarem de R$ 20 mil por mês. Além disso, as empresas pagam 9% de CSLL (Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Líquido) –o que resulta em uma alíquota de 34%.

Malaquias defende a proposta dizendo que ela traz um tratamento isonômico para os contribuin­tes e, sem citar nomes, afirma que está sendo afetado quem se beneficiav­a das falhas das regras.

“Qual acrítica que veio nesse sentido? Que a Receita teria feito maldades no projeto. Não são maldades. Dentro da política tributária, você tem correções a serem feitas.”

“Temos ali tratamento­s não isonômicos, não equitativo­s. Foi feito foi um conjunto de medidas que aperfeiçoa­m o sistema tributário nesse sentido. De trazer mais equidade e mais tratamento isonômico.”

Malaquias afirma que o objetivo da Receita não é introduzir maldades, mas dar mais eficiência para a atividade econômica para que a tributação seja mais neutra.

“Por ter todos os dados, ficou fácil atribuir à Receita todas as caracterís­ticas da reforma. Mas elas foram apontadas e apresentad­as às demais áreas do ministério. A reforma é uma proposta do Ministério da Economia, não da Receita Claudemir Malaquias chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita

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