Folha de S.Paulo

O agora Capitão Soluço continua sem fazer nada

- Alvaro Costa e Silva

Se o homem já não era de trabalhar (nem nos tempos da caserna nem na época do baixo clero na Câmara), imagine agora que está desmitific­ado. O exame minucioso da maior parte da população —que vê Bolsonaro como um político incompeten­te, falso, burro e autoritári­o e o governo que ele representa como corrupto— não teve influência nenhuma para mudar velhos hábitos.

À exceção dos crimes de responsabi­lidade que comete seguidamen­te, Bolsonaro continua sem fazer nada. Um sujeito que só pensa nele e despreza o país. Na última semana, depois de papear com membros da sua seita por 50 minutos no cercadinho do Alvorada e voltar a bater na tecla golpista de fraude nas eleições, até ele deve ter achado que era conversa fiada demais e se justificou dizendo que sua agenda estava “meio folgada”.

O repórter Getulio Xavier apurou os dados e descobriu que Bolsonaro falou a verdade uma vez na vida. No mês passado, ele só dedicou 83 horas a tarefas oficiais. Por oito dias não teve nem sequer um compromiss­o na agenda. Entre 3 e 6 de junho, zero hora trabalhada. A jornada média de trabalho mensal do brasileiro é mais que o dobro da do presidente. Os dispendios­os passeios de moto devem ter sido combinados entre um lanche e outro.

Paradoxalm­ente, Bolsonaro está com cansaço físico e mental. Nos últimos dias não tem dormido. Grudado no celular, passa as madrugadas em vigília mandando mensagens. Em público, deu para sofrer crises de soluços. Em geral elas são inofensiva­s, mas podem indicar alguma alteração neurológic­a.

Numa de suas histórias dos mares do sul, Somerset Maugham relatou o drama de um rico colono inglês que morre de soluço dentro de um navio da companhia Pacific & Orient no meio do oceano. O caso do presidente não parece tão grave, mas convém tomar gotas de vinagre com açúcar, pôr uma pitada de sal embaixo da língua ou molhar com saliva um pedaço de lã e botar na testa.

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