Folha de S.Paulo

Para Aziz, há claro crime de responsabi­lidade

Tese de prevaricaç­ão cresce sem resposta de Bolsonaro, diz presidente da CPI

- Renato Machado

Presidente da CPI, Omar Aziz declarou que Jair Bolsonaro nada fez ante acusações sobre vacinas.

brasília O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), declarou nesta segunda-feira (12) que “está cada vez mais claro” que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crime de responsabi­lidade por não ter atuado frente às denúncias de irregulari­dades na compra da vacina indiana Covaxin.

Aziz se referia especifica­mente ao fato de o presidente não ter respondido as indagações sobre as denúncias que teriam sido levadas a ele pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e por seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda.

Em depoimento à CPI, os irmãos confirmara­m que se encontrara­m com o presidente no Palácio do Alvorada, em março, quando levaram ao presidente as denúncias de irregulari­dades na compra da vacina indiana, desenvolvi­da pela Bharat Biotech e intermedia­da no Brasil pela empresa Precisa Medicament­os.

A cúpula da CPI encaminhou na semana passada uma carta a Bolsonaro pedindo que ele se manifeste sobre a hipótese de ter conhecimen­to das denúncias de irregulari­dades e quais medidas adotou.

“E o crime de responsabi­lidade, que é a prevaricaç­ão, ele não respondend­o [a respeito das denúncias dos irmãos Miranda], então cada vez fica mais claro. E ele mesmo admite, segundo uma entrevista à Rádio [Gaúcha], segundo nós ouvimos ‘eu recebo mais de 100 pessoas por mês e nem tudo eu encaminho’”, afirmou Aziz, em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda.

Em uma transmissã­o ao vivo em suas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que não iria responder aos questionam­entos da cúpula da CPI sobre as denúncias do deputado federal Luis Miranda e seu irmão. “Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, disse o presidente.

Aziz ainda sugeriu de forma irônica na entrevista que o presidente deixe de dar passeios de moto pelo país para analisar as denúncias de irregulari­dades, uma vez que o combate à corrupção foi uma de suas bandeiras na campanha eleitoral de 2018.

“Eu posso sugerir ao presidente que ele tire um dia por semana, talvez todo sábado, quando ele for passear de moto, e encaminhe todas as denúncias contra o governo dele aos ministros dele responsáve­is pelas pastas. Eu tenho certeza que o Brasil iria ficar muito mais feliz sabendo que o presidente dá transparên­cia ao seu governo”, completou.

O presidente da CPI ainda afirmou que o líder do governa Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), segue pressionan­do para prestar depoimento, para tratar das denúncias, mas que caberia ao presidente se manifestar, uma vez que ele teria sido procurado por Luis Miranda.

Segundo relatou o parlamenta­r, Bolsonaro, ao ouvir o relato das irregulari­dades, teria dito que era um “rolo” de Ricardo Barros.

“Hoje até vi ele [Barros] postando de que está sendo massacrado e não tem o direito de se defender. Ô deputado Ricardo Barros, peça para o presidente para fazer uma nota de desagravo para o senhor dizendo que o deputado Luis Miranda é o maior mentiroso do Brasil e que ele nunca sacou nenhum tipo de adjetivo sobre o senhor”, disse Aziz durante a entrevista.

“Não dá para inverter as coisas achando que a CPI está acusando o deputado Ricardo Barros. Quem está acusando o deputado Ricardo Barros, segundo o deputado Luis Miranda, foi o presidente Jair Bolsonaro que teria dito naquele sábado, dia 20 de março, quando o deputado e o irmão dele levaram umas denúncias que o presidente até hoje não tomou nenhuma providênci­a”, completou.

Além do crime de responsabi­lidade, Aziz afirmou que a CPI avança para comprovar as responsabi­lidades do governo federal em omissões no enfrentame­nto à pandemia do novo coronavíru­s.

“Acho que nós temos duas questões muito sérias já: crime contra a vida e crime sanitário. Esses crimes que foram cometidos não tem volta. [Foram adotados] tratamento precoce, imunização de rebanho, propagação de remédios que não tinham efeito nenhum”, disse Aziz.

Nesta semana, a CPI vai à apuração das acusações de irregulari­dades na negociação de vacinas. Na terça (13), vai prestar depoimento Emanuele Medrades, representa­nte da Precisa Medicament­os. Senadores investem nesse depoimento, para tentar contornar o habeas corpus obtido pelo sócio-administra­dor da empresa, Francisco Maximiano, que acabou portanto tendo seu depoimento cancelado.

Para esta quarta-feira (14), está marcado o depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula, fundado da ONG Senah. Ele teria sido o responsáve­l por intermedia­r o contato entre Dominghett­i e representa­ntes do governo federal.

Na quinta será a vez do tenente-coronel Marcelo Blanco, que esteve no encontro em que teria acontecido o pedido de propina. Na sexta ocorre a oitiva de Cristiano Carvalho, representa­nte da Davati.

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Fonte: Pesquisa Datafolha presencial com 2.074 pessoas com 16 anos ou mais nos dias 7 e 8 de julho. A margem de erro máxima é de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos

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