Folha de S.Paulo

É preciso ir além do ECA

Leis mais rígidas para punir quem comete crimes contra as crianças

- Roberto Alves Deputado federal (Republican­os-SP), é presidente da Frente Parlamenta­r contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescent­es

Acesso à educação, à saúde, à cultura e ao lazer são garantias previstas no Estatuto da Criança e do Adolescent­e (ECA), que comemora 31 anos nesta terça-feira (13).

Nem sempre foi assim. Em um passado não tão distante, as crianças não tinham esses direitos resguardad­os em lei. Estudar, por exemplo, era uma oportunida­de de poucas, enquanto trabalhar era a realidade da maioria.

Esse quadro começou a mudar com a promulgaçã­o da Constituiç­ão Federal de 1988, que trouxe o artigo 227, a respeito dos direitos e das garantias fundamenta­is de crianças e adolescent­es. Com isso, a doutrina da proteção integral foi introduzid­a no ordenament­o jurídico brasileiro.

O menor passou a ser visto como sujeito de direito, em situação de absoluta prioridade e em condição de desenvolvi­mento diferencia­do — portanto, o Estado, a sociedade e a família devem protegê-lo.

O Estatuto da Criança e do Adolescent­e (ECA) foi promulgado em 13 de julho de 1990, com a missão de proteger e assegurar que os menores pudessem se desenvolve­r em um ambiente saudável e harmônico. Com isso, o Brasil iniciou um período de enfrentame­nto de diversos problemas sociais históricos, como a desnutriçã­o, o analfabeti­smo, o trabalho infantil, a violência nas mais diferentes formas, dentre outras situações.

Agora, 31 anos depois, vemos que de fato evoluímos na legislação em defesa de crianças e adolescent­es, mas ainda não o suficiente. Dados de 2021 do Disque 100, contabiliz­ados até 12 de maio, dão conta de mais de 6.000 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescent­es. São números assustador­es. A pandemia, de fato, só fez agravar esse triste retrato de violência e medo.

Na Câmara dos Deputados, temos nos empenhado para a elaboração e o aperfeiçoa­mento de leis que assegurem os direitos de nossas crianças e adolescent­es e que punam com rigor os abusadores.

Infelizmen­te, as penas que temos hoje são muito leves. A vítima de abuso, por sua vez, recebe uma prisão perpétua. Apresentei, em 2019, o projeto de lei nº 4.313, para que o abusador pague o atendiment­o médico necessário à criança ou ao adolescent­e vítima de violação. Todos os danos causados precisam ser prontament­e reparados.

Como presidente da Frente Parlamenta­r contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescent­es, tenho buscado na Câmara reunir forças políticas para que possamos atualizar o ECA. Sabemos que isso só é possível com a união das lideranças partidária­s, das instituiçõ­es e da sociedade civil organizada.

O ECA precisa ser mais rigoroso com quem comete crimes contra crianças e adolescent­es, inclusive pela internet. Apresentei no dia 8 de junho o projeto de lei nº 2.079/2021, que obriga os buscadores de internet e as redes sociais a fazerem a divulgação de fotos com informaçõe­s sobre menores de idade desapareci­dos.

Agora é a hora! Precisamos do apoio de todos contra esses criminosos que atacam a infância. É urgente o aprimorame­nto do arcabouço jurídico brasileiro.

Reconhecem­os os inúmeros avanços sociais trazidos pelo ECA, mas precisamos ir além, com leis mais rígidas que de fato punam com rigor todos esses abusadores.

Infelizmen­te, as penas que temos hoje são muito leves. A vítima de abuso, por sua vez, recebe uma prisão perpétua. Apresentei, em 2019, um projeto de lei para que o abusador pague o atendiment­o médico necessário à criança ou ao adolescent­e vítima de violação. Todos os danos causados precisam ser prontament­e reparados

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