Presidente tenta usar Forças em intimidação, diz Santos Cruz, que critica nota de militares
Entusiasta da candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 e ministro com assento no Planalto nos primeiros seis meses de 2019, o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz afirmou que o governo tenta arrastar as Forças Armadas para o jogo político e usá-las como instrumento de intimidação política e de “jogo de poder pessoal”.
Ele criticou manifestações institucionais do Ministério da Defesa e das Forças Armadas sobre o trabalho dos senadores na CPI da Covid.
“A CPI é política, ao mesmo tempo que faz a investigação. Há o desgaste. Não pode haver essa manifestação institucional. Quando ela acontece, acarreta mais desgaste ainda. Não contribui em nada, traz só instabilidade e alarmismo. Isso começa com o mau exemplo vindo de cima”, afirmou.
Na noite do último dia 7, o ministro da Defesa, general Braga Netto, e os comandantes das três Forças divulgaram uma nota com o pretexto de rebater afirmações feitas pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM).
Aziz havia afirmado, numa sessão da CPI, que há muitos anos o Brasil “não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”.
A declaração foi feita a partir do surgimento de diversos militares das Forças nas suspeitas de irregularidades e corrupção na compra de vacinas pelo governo Bolsonaro.
Na nota conjunta, as cúpulas militares disseram repudiar as declarações e concluíram com uma ameaça: “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.
Para Santos Cruz, demitido da Secretaria de Governo em 13 de junho de 2019, manifestações do tipo são prejudiciais.
“Por que estamos tendo problema hoje? O governo desequilibrou a representação social, com um grande número de militares”, disse. “A sociedade tem gente capaz em todas as áreas. Você não pode ir só numa fonte. Isso foi feito de forma proposital, pra tentar transferir o prestígio das Forças Armadas para o governo.”
Ele citou o caso do Ministério da Saúde, chefiado pelo general da ativa Eduardo Pazuello até março e loteado com militares em cargos-chave.
Santos Cruz participou de live da entidade Parlatório S.A., na noite deste domingo (11). Estiveram presentes na conferência o ex-presidente Michel Temer; o ex-porta-voz do governo Bolsonaro general Otávio Rêgo Barros; e o exjuiz Sergio Moro, ex-ministro da Justiça do mesmo governo.
O general criticou ainda o discurso golpista de Bolsonaro com ameaças sobre a realização das eleições em 2022.
Os ataques, segundo o exministro de Bolsonaro, são num “nível inaceitável”. “Houve uma aceleração da deterioração de relacionamento, de conduta, de comportamento político. Isso tem um efeito muito forte na sociedade.”
Santos Cruz disse que pessoas e instituições precisam reagir de forma consistente a esse tipo de discurso golpista. “Temos instituições muito fracas, no Judiciário, o Congresso.”