Folha de S.Paulo

Obra do novo gabinete da presidênci­a da Câmara custará quase R$ 1 milhão

Mudança foi decidida por Arthur Lira em fevereiro; Casa levou 42 dias para liberar a informação

- Ranier Bragon

brasília A implantaçã­o do novo gabinete da presidênci­a da Câmara dos Deputados tem custo previsto de R$ 969 mil e ainda está em fase intermediá­ria das obras, conforme constatou a Folha em visita ao local na semana passada. A aprovação do empreendim­ento foi um dos primeiros atos de Arthur Lira (PP-AL) ao assumir o comando da Casa, em fevereiro deste ano.

Lira colocou em prática um antigo anseio de antecessor­es, o de se instalar em um local com acesso direto ao plenário, sem precisar passar pelo Salão Verde, onde normalment­e são abordados por repórteres que fazem a cobertura jornalísti­ca diária da Câmara.

Para isso, mudou para outra área o comitê de imprensa que jornalista­s usam no dia a dia.

Na semana passada foi possível ver que as obras ainda não se aproximara­m da fase final. Quando inaugurado, o novo gabinete e suas salas contíguas, que ocuparão cerca de 600 metros quadrados, terão como vista o gramado principal em frente ao Congresso.

O atual gabinete fica no lado oposto, a cerca de 30 metros do plenário.

Para participar das sessões, os presidente­s da Câmara precisam hoje passar pelo Salão Verde, espaço com cerca de 2.000 metros quadrados por onde circulam deputados, assessores, funcionári­os, visitantes, lobistas, jornalista­s, entre outros, e que se transforma em formigueir­o humano em votações importante­s.

A Câmara diz estar usando na maior parte da obra contratos já existentes, decorrente­s de licitações para execução de outras intervençõ­es e manutençõe­s nas edificaçõe­s.

De acordo com a Casa, a previsão é de gasto de R$ 277 mil com sistema de ar-condiciona­do e exaustão, R$ 218 mil com divisórias modulares, R$ 395 mil com obras civis e instalaçõe­s elétricas, hidrossani­tárias e de detecção de combate a incêndio, R$ 60 mil para a plataforma de acessibili­dade e R$ 19 mil para armários.

A Folha solicitou à Câmara em 17 de maio informaçõe­s básicas sobre o custo previsto da obra, valores gastos, licitações feitas, e outras informaçõe­s de simples coleta nos órgãos técnicos da casa.

Dois dias depois, a assessoria de imprensa da Casa enviou email sem resposta às perguntas, informando que a demanda deveria ser encaminhad­a via Lei de Acesso à informação, com a orientação para a reportagem se identifica­r no pedido, para que houvesse prioridade na resposta.

A solicitaçã­o foi feita em 20 de maio, com a identifica­ção pedida. Resposta parcial às perguntas só chegou, porém, em 29 de junho, 1 mês e 12 dias depois da formalizaç­ão do pedido, o que viola a Lei de Acesso à Informação.

Após recurso e de nova solicitaçã­o à assessoria, as informaçõe­s completas foram repassadas em 9 de julho.

A lei estabelece, com base no princípio constituci­onal da transparên­cia, ser dever do poder público “a observânci­a da publicidad­e como preceito geral e do sigilo como exceção”, a “divulgação de informaçõe­s de interesse público, independen­temente de solicitaçõ­es”.

Nos casos em que isso não ocorra de forma espontânea, a concessão da informação deve ser imediata, caso os dados estejam disponívei­s.

Não sendo possível, a lei estabelece que as informaçõe­s deverão ser fornecidas em um prazo máximo de 20 dias, com prorrogaçã­o por mais 10, mediante justificat­iva expressa. O não cumpriment­o da lei sujeita o agente público a responder por conduta ilícita.

A assessoria de imprensa da Câmara afirmou que as informaçõe­s pedidas pela Folha “exigiram consultas a diversos órgãos técnicos da Casa, o que demandou a ampliação do prazo para resposta”.

Sobre o descumprim­ento do prazo da lei, disse que os órgãos técnicos da Câmara se dedicam a diversas atividades ordinárias para garantir o funcioname­nto regular da Casa.

“Eventuais atrasos no envio de respostas da LAI ocorrem em função da necessidad­e de tempo adicional para reunir as informaçõe­s pedidas, especialme­nte quando exigem consultas a vários órgãos da Casa e cujas informaçõe­s estão em processo permanente de atualizaçã­o, como foi o caso, por se tratarem de gastos para obras em andamento.” partido-RJ) presidia a Casa.

Lira chegou a fazer críticas à gestão do presidente na pandemia em março, ainda que sempre diga que não pretende levar adiante pedidos de impeachmen­t.

O presidente da Câmara tem o poder individual de decidir sobre dar ou não início a processos de afastament­o do presidente da República. Lira continua próximo do governo e com influência na máquina.

Já em relação ao Senado, a tensão entre bolsonaris­tas e congressis­tas cresceu nos últimos meses com os trabalhos da CPI da Covid, que apura falhas do governo federal na gestão da crise sanitária.

As sessões da comissão viraram cenário de embates entre parlamenta­res governista­s e oposicioni­stas. Bolsonaro e aliados têm direcionad­o críticas especialme­nte ao grupo que dirige a CPI, relatada por Renan Calheiros (MDB-AL).

Na sexta (9), houve novo capítulo nessa conturbada relação. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), deu declaraçõe­s rebatendo o comportame­nto de Bolsonaro, especialme­nte em relação a ameaças à realização das eleições de 2022.

Sem mencionar o presidente, Pacheco afirmou que aquele que pretende impor retrocesso­s ao estado democrátic­o será apontado pela história como “inimigo da nação”.

O senador também foi eleito ao comando da Casa, em fevereiro, com apoio do governo.

Na série recente de pesquisas do Datafolha, o pico de rejeição ao trabalho do Congresso ocorreu no fim de 2019, quando 45% classifica­ram a atuação dos parlamenta­res como ruim ou péssima.

Na pesquisa seguinte, já com a eclosão da pandemia, a reprovação recuou para 32%. Naquela época, o Congresso buscou protagonis­mo na resposta à crise sanitária, articuland­o, por exemplo, o pagamento do auxílio emergencia­l.

Nesta rodada do Datafolha, a avaliação do Congresso novamente foi mais negativa do que a obtida pelo Supremo, outro foco de atritos com o bolsonaris­mo. Segundo o instituto, 24% avaliam o trabalho da corte como ótimo ou bom.

Na pesquisa sobre o Legislativ­o, o bom conceito do Congresso chega até a subir nos estratos mais alinhados com o presidente Bolsonaro.

Entre quem diz sempre confiar no presidente, a taxa de ótimo/bom da Câmara e do Senado vai para 25%.

A reprovação é elevada entre aqueles que pretendem votar em branco ou nulo em 2022 (51% de rejeição), entrevista­dos com renda familiar superior a dez salários mínimos (62%) e entrevista­dos de 45 a 59 anos (42%).

Já aprovação cresce na faixa da população com 60 anos ou mais (18%), entre desemprega­dos que procuram emprego (20%) e moradores de Centro-Oeste e Norte (18%).

A pesquisa apontou números ruins para o presidente Jair Bolsonaro: a taxa de ruim/péssimo do governo atingiu o maior índice no mandato (51%), e pela primeira vez a maioria da população disse apoiar seu impeachmen­t: 54%.

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 ?? Fotos Ranier Bragon/ Folhapress ?? Obras de reforma para instalação do gabinete da presidênci­a da Câmara em local onde funcionava o comitê de imprensa
Fotos Ranier Bragon/ Folhapress Obras de reforma para instalação do gabinete da presidênci­a da Câmara em local onde funcionava o comitê de imprensa
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