Folha de S.Paulo

Senadores fazem ressalvas a André Mendonça no Supremo

Bolsonaro visitou Fux para confirmar chefe da AGU na vaga de Marco Aurélio

- Washington Luiz, Ricardo Della Coletta e Marcelo Rocha

brasília Ao ser confirmado pelo presidente Jair Bolsonaro para o STF (Supremo Tribunal Federal), André Mendonça terá de enfrentar os atritos entre Planalto e Congresso, se aproximar de governista­s e convencer a oposição do Senado de que será um ministro independen­te.

Esses movimentos são fundamenta­is para ele ter seu nome aprovado na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) e no plenário da Casa.

Nesta segunda-feira (12), Bolsonaro foi ao Supremo a convite do presidente da corte, ministro Luiz Fux.

“Pedi que após reunião com o senhor ministro Fux fosse publicada indicação do senhor André Mendonça [para o STF]”, afirmou Bolsonaro a jornalista­s. Questionad­o, disse ainda acreditar que Mendonça terá os apoios necessário­s para ser confirmado no Senado.

A oficializa­ção do nome do ministro da AGU (AdvocaciaG­eral da União) para ocupar a vaga de Marco Aurélio Mello na corte deverá ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União ainda nesta semana, em momento de tensão entre os Poderes provocada pelas recentes declaraçõe­s golpistas de Bolsonaro.

Embora Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, tenha demonstrad­o que vai adotar postura neutra no processo que avaliará a indicação, os acontecime­ntos recentes se somam às ressalvas que alguns senadores têm em relação a Mendonça.

Congressis­tas reconhecem a experiênci­a e o currículo do AGU e ex-ministro da Justiça, mas temem que repita o estilo do ministro Kassio Nunes Marques, primeira indicação de Bolsonaro ao STF, que já se posicionou ao menos 20 vezes a favor do governo desde que chegou ao tribunal.

Além disso, Mendonça enfrenta resistênci­a do presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A aliados teria manifestad­o preferênci­a pelo ministro Humberto Martins, presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Senadores governista­s também desejavam influencia­r na escolha e defendiam nomes com mais habilidade política, como o do procurador-geral da República, Augusto Aras.

Para tentar mudar esse cenário, Mendonça começou a se encontrar individual­mente com senadores e com as principais bancadas antes mesmo de ter o nome confirmado por Bolsonaro. Nessas conversas, ele tem deixado a impressão de ter um perfil moderado e aberto ao diálogo.

Na semana de esforço concentrad­o do Senado, quando os congressis­tas estiveram presencial­mente na Casa para votar as indicações do presidente às embaixadas e agências reguladora­s, Mendonça aproveitou para tentar se aproximar dos senadores e viabilizar sua aprovação.

Assuntos polêmicos, como religião, não predominar­am nesses primeiros encontros.

Em uma reunião com membros da bancada do PL, DEM e PSDB, Mendonça teria se limitado a dizer que seus princípios religiosos lhe permitiam “ser uma pessoa que busca ser justa, ouvindo todos os lados para tomar decisões”.

Também conversou com o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que avalia não haver até agora nada que desabone o indicado, mas ressalta que ele deverá enfrentar uma sabatina difícil na CCJ.

“Recebi o ministro no meu gabinete. Deixei claro que o AGU Mendonça, que atuou com destaque na questão da corrupção, tem aval para ser ministro do STF. O ministro da Justiça Mendonça do governo Bolsonaro, não. Precisamos ter certeza de que será independen­te. Segurament­e, será uma sabatina dura, até porque alguns senadores defendem outros nomes”, afirmou.

Outro senador que o recebeu foi Lasier Martins (Podemos-RS), autor de uma PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que muda a forma de escolha de ministros do STF.

Segundo Martins, o indicado se disse a favor de alguns pontos da PEC, como o que limita os mandatos dos membros da corte, o que agradou.

Hoje o ministro pode ficar no cargo até os 75 anos.

Na oposição, um dos receios é que Mendonça aja como um ministro “terrivelme­nte evangélico” —termo usado por Bolsonaro em diversas ocasiões— , atendendo apenas a causas do presidente e de agremiaçõe­s religiosas. Nesta semana, ele deve se reunir com a bancada do PT.

Mendonça é pastor da Igreja Presbiteri­ana Esperança de Brasília. Álvaro Dias (Podemos-PR) defende que a religião não seja determinan­te para aprová-lo ou não.

“Até agora, não vejo nada que o descredenc­ie. Religião não está em xeque. Podia ser um católico, judeu, ateu. Às vezes, o presidente extrapola nas suas falas, mas o importante é ele [o indicado] ser leal às instituiçõ­es, ao Estado democrátic­o de Direito”, disse. Bolsonaro está otimista. “Eu converso sempre com senadores, o André também tem feito a peregrinaç­ão no Senado. Na contagem dele —mais dele do que minha, porque ele está mais ligado com os senadores— existe sim uma grande possibilid­ade de ser aceito. E, ao que tudo indica, a cada dia que passa ele ganha mais adeptos”, disse.

Bolsonaro classifico­u ainda Mendonça como “extremamen­te evangélico” e reafirmou ter pedido ao indicado que, caso aprovado, inicie, uma vez por semana, sessões no STF com uma oração.

“Creio que os demais ministros do Supremo, caso ele seja aprovado, não vão se opor a isso. Muito pelo contrário, vão se sentir com alma bem mais leve para fazer seus julgamento­s.”

A primeira etapa da avaliação do nome de Mendonça será a sabatina na CCJ. No colegiado, com 27 membros, ele será submetido à votação secreta.

Para aprovação, é necessária maioria simples. Mesmo se for rejeitado, a indicação é submetida ao plenário do Senado, onde necessitar­á da maioria absoluta (41 dos 81 senadores). A votação também será secreta.

Kassio, o último indicado ao STF, teve o nome aprovado por 22 votos a 5, na CCJ. No plenário, o placar ficou em 57 a 10.

Antes de Kassio, em 2017, Alexandre de Moraes foi aprovado no Senado por 55 votos a favor e 13 contra, sem abstenções. Na CCJ, foi aprovado por 19 votos a 7, após 11 horas e meia de sabatina. O ministro foi indicado por Michel Temer (MDB).

Já em 2015, Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff (PT), foi aprovado em plenário com 52 votos favoráveis ante 27 contrários. Na CCJ, após 12 horas e 39 minutos, obteve 20 votos a 7.

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Isaac Amorim - 29.abr.20/Divulgação Min. Justiça O atual chefe da AGU, André Mendonça, quando assumiu como ministro da Justiça

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