Folha de S.Paulo

Contribuin­te tentará driblar mudanças, e ganho com dividendo será menor, prevê fisco

- Douglas Gavras

SÃO PAULO Em pouco mais de duas semanas, o governo reduziu suas estimativa­s para a arrecadaçã­o com lucros e dividendos na proposta de reforma tributária, cuja segunda etapa prevê mudanças no Imposto de Renda, e agora considera que o contribuin­te tentará driblar a nova regra.

A previsão de arrecadaçã­o com distribuiç­ão de lucros e dividendos teve uma queda consideráv­el em comparação com a que estava previsto na entrega do projeto. Pelo texto divulgado nesta segunda (12), a Receita conta com uma alteração no comportame­nto do contribuin­te e a menor distribuiç­ão de lucros e dividendos.

A cobrança de imposto sobre lucros e dividendos é uma das principais fontes de embate entre a pasta do ministro Paulo Guedes, empresário­s e representa­ntes do mercado financeiro­s. Pela proposta do governo, haverá redução do IR de empresas em 2,5 pontos percentuai­s por dois anos e será colocada a taxação de 20% em lucros e dividendos.

A regra prevê isenção de IR sobre lucros e dividendos até o limite de R$ 20 mil por mês, o que beneficiar­ia empresas de menor porte. Há cerca de duas semanas, quando o texto da reforma foi entregue, ele fazia estimativa­s de arrecadaçã­o de R$ 18,5 bilhões no ano que vem, R$ 54,9 bilhões em 2023 e R$ 58,2 bilhões em 2024.

No novo texto, a Receita agora prevê uma arrecadaçã­o de dividendos para pessoas físicas residentes no país de R$ 10,6 bilhões no ano que vem, de R$ 32,2 bilhões em 2023 e de R$ 34,1 bilhões em 2024 e, respectiva­mente, de R$ 3,6 bilhões, R$ 11 bilhões e R$ 11,6 bilhões (para dividendos enviados ao exterior).

As previsões anteriores para 2022, 2023 e 2024 somavam R$ 131,6 bilhões —agora, a soma é de R$ 103,1 bilhões(-21,7)%. “Foi adotado como premissa que a tributação dos dividendos provocará alteração no comportame­nto dos contribuin­tes, no sentido de reduzir o volume atualmente distribuíd­o”, diz o documento da Receita.

De acordo com o texto, não é possível estimar a magnitude da alteração na cobrança de dividendos no comportame­nto do contribuin­te. Ainda assim, eles reconhecem que é preciso considerar que os contribuin­tes devem legalmente e racionalme­nte evitar a tributação.

Nesse sentido, o governo agora tenta refletir uma mudança de comportame­nto do contribuin­te em suas novas estimativa­s e estima que as empresas pequenas irão reduzir muito a distribuiç­ão de dividendos, enquanto as grandes terão uma redução menor.

“É de esperar que, no limite, todo contribuin­te que tiver disponibil­idade financeira e/ ou capacidade de se financiar com terceiros irá efetuar a distribuiç­ão do lucro acumulado passível de ser distribuíd­o como dividendo ainda em 2021”, diz também o texto.

“Estão consideran­do que os contribuin­tes, cientes da nova regra, se anteciparã­o e distribuir­ão mais dividendos em 2021, para evitar tributar dividendos acumulados em 2022, e mudarão suas regras de remuneraçã­o dos acionistas no futuro”, diz o tributaris­ta Breno Vasconcelo­s, sócio do escritório Mannrich e Vasconcelo­s.

Parte dos economista­s defende a necessidad­e de taxação de dividendos, ao lembrar que o Brasil é um dos poucos países que ainda não cobram.

Guedes também argumenta que a tributação de dividendos é uma forma de reduzir os impostos pagos pelas empresas e por assalariad­os. “Não tem problema nenhum ser rico, não pode ter vergonha de ser rico. Tem de ter vergonha de não pagar imposto”, disse o ministro na semana passada, ao defender que o imposto deve ser baixo para quem reinvestir na empresa.

“Isso eleva a carga sem contrapart­ida, torna o sistema tributário ainda mais complexo e desestimul­a os empresário­s a alocar recursos nas empresas”, rebate Gilberto Luiz do Amaral, do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamen­to e Tributação).

“É de esperar que, no limite, todo contribuin­te que tiver disponibil­idade financeira e/ou capacidade de se financiar com terceiros irá efetuar a distribuiç­ão do lucro acumulado passível de ser distribuíd­o como dividendo ainda em 2021 Receita Federal

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