Folha de S.Paulo

Socialite diz que soube da morte do namorado logo após o crime

Anne Frigo alega que manteve segredo devido a ameaças; polícia afirma não ter dúvidas de sua participaç­ão

- Rogério Pagnan

são paulo “Vou te dar uma boa notícia: eu resolvi a sua vida. Eu o matei.”

Foram com essas palavras que a empresária Anne Cipriano Frigo, 46, disse ter ficado sabendo do assassinat­o do namorado, Vitor Lúcio Jacinto, 42, na tarde de 16 de junho, momentos depois do crime, segundo depoimento dela à Polícia Civil de São Paulo.

Mesmo assim, conforme ela mesma admitiu aos policiais, a socialite guardou segredo dessa confissão feita pelo corretor de imóveis Carlos Ribeiro de Souza, 38, até o momento em que foi presa, no dia 29, quase duas semanas depois.

A empresária alega ter ficado em silêncio porque foi ameaçada. Souza teria dito “que mataria os filhos da investigad­a se dissesse alguma coisa”, conforme trecho do depoimento.

“Você está louco? Por que você fez isso?”, teria questionad­o a empresária ao corretor, amigo do casal, naquele mesmo dia em que o namorado foi baleado no coração e jogado em um local deserto.

“Matei porque estava me devendo”, teria afirmado Souza, conforme o relato de Frigo.

A admissão feita à polícia só reforçou a certeza dos investigad­ores de que ela foi a mandante do assassinat­o. Isso porque, além de omitir o crime, a empresária levou uma vida praticamen­te normal até o dia em que foi presa.

Ela chegou a participar, por exemplo, de um jantar com as amigas para comemorar seu aniversári­o, no dia 19, e também conversou com a família do namorado no dia 21, quando o corpo de Jacinto foi identifica­do pela polícia (três dias depois de ser localizado).

Nesse mesmo dia 21, a empresária também se encontrou a sós com o assassino confesso. A quebra do sigilo de telefônico mostrou que os celulares dos três envolvidos (Jacinto, Souza e Frigo) estavam na mesma área, na região de Alphaville (Grande SP).

“Diante do vasto material probatório, podemos afirmar que ela é a mandante do crime”, diz a responsáve­l pela investigaç­ão, a delegada Magali Celeghin Vaz, do DHPP (departamen­to de homicídios). Frigo teria encomendad­o o crime por R$ 200 mil após saber que estava sendo traída.

Para policiais ouvidos pela Folha, a socialite apresenta informaçõe­s falsas em meio a verdadeira­s, porque há provas obtidas na investigaç­ão que ela não tem como contornar, além da confissão do corretor.

A polícia sabe até agora que a empresária conheceu o namorado entre 2016 e 2017 em um restaurant­e da capital paulista. Jacinto, que era segurança do local, dizia que era agente da Polícia Federal e que tinha uma empresa de vigilância.

Oito meses após o início do namoro, quando a versão sobre a PF e a empresa de segurança já tinha sido desmontada, os dois passaram a morar juntos. Mesmo tendo um apartament­o luxuoso da região de Moema, na zona sul, o casal alugou uma casa em Alphaville para Jacinto morar.

O relacionam­ento entrou em crise meses antes do crime, quando a empresária descobriu a traição.

O assassino disse ter sido procurado no fim de maio pela empresária com a proposta financeira. “Não estou aguentando mais. Preciso dar um fim no Vitor”, teria ouvido o corretor, conforme ele disse à polícia. “Ela mexeu no celular dele e descobriu a traição. Ele tinha outras mulheres”, disse Souza aos policiais.

Por volta das 16h de 16 de junho, Souza se encontrou com Jacinto com um engodo. Disse que mostraria um terreno, uma oportunida­de de negócios, como já havia ocorrido outras vezes. No caminho, porém, quando a vítima se distraiu, Souza pegou a arma que estava atrás do seu banco e atirou nas costas do amigo. A bala atravessou o coração, e a morte foi quase instantâne­a.

Então, corretor dirigiu por cerca de 30 km, até a região da represa Guarapiran­ga, na zona sul. Para dificultar a identifica­ção, o corretor jogou óleo e ateou fogo na cabeça e nos pés do corpo da vítima. As chamas se apagaram, porém, quando Souza deixava o local.

O corretor seguiu para casa da empresária e lhe entregou o celular da vítima. Dali para frente, os dois simulariam conversas de Jacinto com outras pessoas (incluindo a família). A ideia era fingir que ele estava ainda vivo e, assim, afastar as suspeitas do envolvimen­to de ambos.

O corpo foi encontrado no dia 18 e, no dia 21, foi reconhecid­o pela polícia por meio das digitais. Nesse mesmo dia, a polícia entrou em contato com a família da vítima.

Ainda no dia 21, a família tentou falar com Jacinto por meio de mensagens —que foram respondida­s por escrito, ao contrário do que ele costumava fazer (por meio de áudios). Souza disse que o celular foi atirado em um rio nesse mesmo dia. “Me arrependo muito”, disse aos policiais.

A polícia pediu a quebra de sigilo dos envolvidos. A empresária nega ter repassado os R$ 200 mil para o corretor, mas disse que fazia pagamentos a ele por conta de serviços prestados de corretagem.

O advogado Celso Vilardi, defensor de Frigo, disse que não pode dar detalhes além do que ela já disse aos policiais, mas que está muito claro que Souza tinha problemas com a vítima e interesse em assumir seu lugar.

“No fundo, eles [Souza e Jacinto] estavam disputando quem iria fazer as operações de compra e venda de várias coisas. A história dele [Souza] não é verossímil em relação à questão de pagamentos, de valor para matar, porque estava ganhando muito mais do que isso”, disse. Entre os negócios estavam, segundo ele, a compra e a venda de veículos e imóveis. “Esse sujeito, na verdade, estava querendo se colocar no lugar do Vitor.”

Ao ser questionad­o sobre o porquê de Souza ter implicado a empresária no crime, o advogado disse que há questões a serem esclarecid­as ainda.

“Não sei te dizer o motivo real pelo qual ele [a] incriminou. Possivelme­nte porque ele acha que vai trazer algum benefício. Até porque a maneira como ele se comportou é inexplicáv­el. Por que pegou o telefone da vítima para ser rastreado?”, disse o advogado.

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