Folha de S.Paulo

Cancelar Olimpíada seria mais barato do que estado de emergência, aponta estudo

- Alex Sabino

tóquio Nos últimos anos, um dos principais trabalhos da Nomura Research Institute (NRI) tem sido avaliar o impacto econômico da Olimpíada de Tóquio. E a conclusão de um dos estudos da empresa é que faria mais sentido cancelar os Jogos se isso significas­se evitar o novo estado de emergência no país, implantado a partir desta segunda (12).

É a terceira vez que o governo do país adota essa medida desde o início da pandemia, em março do ano passado. A princípio, ela vai durar até 21 de agosto, englobando todo o período da Olimpíada e das férias escolares.

A venda de álcool foi proibida em bares e restaurant­es, que terão de fechar às 20h. A medida é impopular entre os empresário­s do país.

“O impacto negativo para a economia do estado de emergência é muito superior ao benefício que os Jogos vão trazer [com as restrições implementa­das]”, estima Takahide Kiuchi, executivo do NRI.

Ele aponta estudo que realizou no mês passado mostrando que um novo estado de emergência reduziria a economia do Japão em cerca de US$ 27 bilhões (R$ 140,4 bilhões). Já o impacto econômico negativo com o cancelamen­to dos Jogos, segundo ele, seria de US$ 16,3 bilhões (R$ 84,8 bilhões).

De acordo com o executivo, o número pode ser ainda maior no estado de emergência e só será efetivamen­te calculado após seu término. Os dois anteriores custaram ao país, no total, US$ 115 bilhões (R$ 598 bilhões).

“Um dos grandes impactos econômicos esperados era a presença de público estrangeir­o. Isso sumiu em março”, diz, referindo-se à proibição de turistas de outros países.

Pelos cálculos do NRI, foi uma medida (tomada para evitar a propagação da pandemia) que fez a organizaçã­o dos Jogos perder US$ 1,16 bilhão (R$ 6 bilhões). Na semana passada, foi anunciado que os espectador­es japoneses também não poderão acompanhar as provas nos locais de disputa em Tóquio (apenas em cidades vizinhas e com restrições). Mas isso faz pouca diferença na economia.

“Público interno gasta muito pouco. Cada visitante estrangeir­o gastaria, em média, cerca de US$ 1.400 [R$ 7.300].”

Havia no governo japonês, antes da pandemia, a certeza de que os Jogos causariam um aumento do turismo internacio­nal no PIB do país. Em 2019, último ano antes do Covid-19, US$ 43 bilhões (R$ 223,6 bilhões, em valores atualizado­s) entraram na economia com visitantes.

A decisão de manter os Jogos também é econômica, mas por parte do COI (Comitê Olímpico Internacio­nal), o único que tem o poder de cancelar os Jogos. Algo que, a oito dias da primeira competição, não vai mais acontecer.

O comitê precisa satisfazer também os interesses de confederaç­ões internacio­nais, que precisam de repasses de verbas, ainda mais durante a pandemia, em que vários eventos foram realizados sem público ou cancelados. De tudo o que o COI arrecada, 90% vão para essas instituiçõ­es.

A maior preocupaçã­o é com os contratos de direitos de transmissã­o, especialme­nte com a NBC (EUA). Em 2014, a emissora comprou a exibição dos Jogos até 2032 por US$ 7,65 bilhões (R$ 40,2 bilhões).

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