Escolha do Brasil pela Volks como polo de biocombustível vem com atraso
SÃO PAULO A Volkswagen divulgou nesta segunda-feira (12) que terá um centro global para desenvolvimento de tecnologias biocombustíveis no Brasil. Embora seja um reconhecimento ao trabalho da divisão nacional da montadora, a decisão chega com atraso de décadas.
O comunicado diz que o centro de desenvolvimento será independente e desenvolverá “soluções tecnológicas baseadas em etanol e outros biocombustíveis para mercados emergentes que utilizam energia limpa para a combustão e soluções híbridas”.
Os produtos mais aguardados são os futuros modelos movidos a gasolina, etanol e eletricidade, a exemplo do que ocorre com o Toyota Corolla Hybrid Flex, lançado em 2019.
A possibilidade de tornar o carro flex em um produto de exportação esbarra na falta de competitividade do Brasil e na ausência de álcool enquanto combustível automotivo até em países vizinhos.
Contudo a necessidade de criar uma solução mais limpa —e que exija menor investimento em infraestrutura em comparação à eletrificação plena— dá nova chance à solução nacional.
As montadoras sabem que muitos anos e muito dinheiro serão necessários para implementar redes de recarga em países subdesenvolvidos de dimensões continentais. Tampouco haverá um número suficiente de consumidores com poder aquisitivo que justifique a produção em larga escala de carros elétricos. Sem público, não é possível reduzir os custos.
Se não houver uma opção para os emergentes, será impossível atingir a neutralidade de carbono até 2050. Essa é uma meta da Volkswagen, que foi a primeira fabricante de automóveis a aderir ao Acordo de Paris. Após o Dieselgate, a montadora precisa provar a cada dia que está de fato comprometida com a redução de emissões.
“Alguns fatores impossibilitam mudanças mais rápidas: indisponibilidade de infraestrutura de carregamento, energia renovável e o nível de renda local. É por isso que é necessário explorar opções alternativas aproveitando os recursos locais que já estão disponíveis”, diz o comunicado divulgado pela Volkswagen nesta segunda.
Nesse cenário, biocombustíveis como o etanol ganham relevância —e demorou muito para empresas como a Volkswagen perceberem isso, embora a viabilidade já seja conhecida há mais de 40 anos.
Hoje a filial brasileira da montadora é a escolha óbvia para sediar um projeto global de biocombustíveis, e o que causa espanto é a demora da matriz em apostar nas alternativas desenvolvidas no país.