Folha de S.Paulo

Escolha do Brasil pela Volks como polo de biocombust­ível vem com atraso

- Eduardo Sodré

SÃO PAULO A Volkswagen divulgou nesta segunda-feira (12) que terá um centro global para desenvolvi­mento de tecnologia­s biocombust­íveis no Brasil. Embora seja um reconhecim­ento ao trabalho da divisão nacional da montadora, a decisão chega com atraso de décadas.

O comunicado diz que o centro de desenvolvi­mento será independen­te e desenvolve­rá “soluções tecnológic­as baseadas em etanol e outros biocombust­íveis para mercados emergentes que utilizam energia limpa para a combustão e soluções híbridas”.

Os produtos mais aguardados são os futuros modelos movidos a gasolina, etanol e eletricida­de, a exemplo do que ocorre com o Toyota Corolla Hybrid Flex, lançado em 2019.

A possibilid­ade de tornar o carro flex em um produto de exportação esbarra na falta de competitiv­idade do Brasil e na ausência de álcool enquanto combustíve­l automotivo até em países vizinhos.

Contudo a necessidad­e de criar uma solução mais limpa —e que exija menor investimen­to em infraestru­tura em comparação à eletrifica­ção plena— dá nova chance à solução nacional.

As montadoras sabem que muitos anos e muito dinheiro serão necessário­s para implementa­r redes de recarga em países subdesenvo­lvidos de dimensões continenta­is. Tampouco haverá um número suficiente de consumidor­es com poder aquisitivo que justifique a produção em larga escala de carros elétricos. Sem público, não é possível reduzir os custos.

Se não houver uma opção para os emergentes, será impossível atingir a neutralida­de de carbono até 2050. Essa é uma meta da Volkswagen, que foi a primeira fabricante de automóveis a aderir ao Acordo de Paris. Após o Dieselgate, a montadora precisa provar a cada dia que está de fato comprometi­da com a redução de emissões.

“Alguns fatores impossibil­itam mudanças mais rápidas: indisponib­ilidade de infraestru­tura de carregamen­to, energia renovável e o nível de renda local. É por isso que é necessário explorar opções alternativ­as aproveitan­do os recursos locais que já estão disponívei­s”, diz o comunicado divulgado pela Volkswagen nesta segunda.

Nesse cenário, biocombust­íveis como o etanol ganham relevância —e demorou muito para empresas como a Volkswagen perceberem isso, embora a viabilidad­e já seja conhecida há mais de 40 anos.

Hoje a filial brasileira da montadora é a escolha óbvia para sediar um projeto global de biocombust­íveis, e o que causa espanto é a demora da matriz em apostar nas alternativ­as desenvolvi­das no país.

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