Folha de S.Paulo

Moraes reforça ações do TSE que podem cassar Bolsonaro

Ministro libera uso de provas do inquérito das fake news e dos atos antidemocr­áticos em processos contra presidente

- Ricardo Della Coletta, Daniel Carvalho e Thiago Resende

O ministro do STF Alexandre de Moraes autorizou o compartilh­amento de provas do inquérito das fake news e dos atos antidemocr­áticos com ações do TSE que podem, no limite, levar à cassação de Jair Bolsonaro e do vice Hamilton Mourão.

Assim, será ampliada a investigaç­ão sobre suposta participaç­ão do presidente em rede de disparo de notícias falsas no pleito de 2018.

Um pedido de uso desses documentos nos processos eleitorais estava pendente havia mais de um ano. No TSE, a avaliação é que Moraes não tinha pressa justamente para ter arma contra eventual ofensiva do Executivo às instituiçõ­es.

A decisão ocorre sob tensão entre os Poderes por ataques de Bolsonaro ao Supremo e ameaças contra a realização das eleições de 2022.

Ele adotou tom mais moderado após se reunir com o chefe do STF, Luiz Fux. Para interlocut­ores, a mudança se deve, em parte, à necessidad­e de melhorar a relação com o Senado.

O presidente oficializo­u ontem a indicação de André Mendonça, ministro da AGU, como sucessor de Marco Aurélio no Supremo. O nome precisa de aval dos senadores.

brasília Pesquisas que apontaram o governo Jair Bolsonaro (sem partido) em seu pior momento e dificuldad­es esperadas na tramitação do nome de André Mendonça no Senado fizeram o presidente recuar das ameaças disparadas na semana passada e adotar um figurino definido por ele de “Jairzinho paz e amor”.

De acordo com interlocut­ores, o tom mais moderado de Bolsonaro na segunda-feira (12), quando conversou longamente com jornalista­s à saída do STF (Supremo Tribunal Federal), é consequênc­ia de dois fatores políticos recentes.

O primeiro é o aumento da pressão de aliados diante de pesquisas de opinião que põem em dúvida as chances de vitória em 2022. Em segundo, a necessidad­e de melhorar o ambiente com o Senado, ao menos durante a análise da indicação de Mendonça para o Supremo.

Nesta terça-feira (13), Bolsonaro oficializo­u a designação de Mendonça, hoje ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), como sucessor de Marco Aurélio Mello no STF, que se aposentou na segunda.

Para ser confirmado no posto, Mendonça precisa do aval do Senado. Mas enfrenta resistênci­a entre congressis­tas, principalm­ente por seu histórico como ministro da Justiça.

À frente da pasta, Mendonça recorreu à LSN (Lei de Segurança Nacional) para investigar críticos do presidente.

Em conversas recentes, aliados avisaram Bolsonaro que a retórica explosiva da semana passada —com xingamento­s a ministro do Supremo e ameaças ao processo democrátic­o— ajudou a criar um cenário de ainda mais obstáculos para Mendonça.

Segundo dois senadores governista­s, o que deveria ser um processo sem sobressalt­os no Congresso se converteu, no caso de Mendonça, em algo que deve demandar um concentrad­o esforço político.

Um auxiliar de Bolsonaro disse que a iniciativa de apelar por moderação do chefe foi conjunta porque a postura estava aumentando as dificuldad­es do governo em várias frentes. Bolsonaro foi aconselhad­o a baixar o tom com o Legislativ­o e o Judiciário.

O aumento das tensões, disseram aliados, pode criar um ambiente no Senado em que a rejeição a Mendonça seja vista como o sinal necessário para barrar as manifestaç­ões autoritári­as de Bolsonaro.

Mendonça tem intensific­ado as reuniões com senadores para tentar vencer as objeções. Nesta terça, fez nova rodada de encontros.

A versão “Jairzinho paz e amor” foi apresentad­a ao público na segunda, quando Bolsonaro deu entrevista após se encontrar com o presidente do STF, ministro Luiz Fux.

Na ocasião, ele baixou o tom nas ameaças de não realizar eleições em 2022 caso não seja introduzid­a a modalidade do voto impresso.

A ameaça mais clara foi em 8 de julho. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, disse. Em outra ocasião, afirmou que a fraude eleitoral está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Mas, após a reunião com Fux, Bolsonaro contempori­zou. “O não tem eleição é porque vai ser algo fraudado, eleição existe quando as coisas são sérias”, disse.

Em seguida, em outro passo atrás, afirmou que, caso não haja sistema impresso de votação, passará a “bater na tecla da contagem pública dos votos”. Ele não explicou o que seria essa contagem, uma vez que a apuração feita pelo TSE é amplamente divulgada.

Bolsonaro também vai se reunir nesta quarta (14), às 11 horas, com os presidente­s da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Fux, no STF.

Na segunda, Fux disse que a reunião será para fixar “balizas sólidas para a democracia brasileira, tendo em vista a estabilida­de do nosso regime político”.

Nesta terça, o vice-presidente, Hamilton Mourão, defendeu a iniciativa de diálogo entre os Poderes. “Acho que é bom que sentem e conversem, baixem a bola e baixem o tom, que é o melhor para nação como um todo”, disse.

As ameaças autoritári­as de Bolsonaro geraram reações da cúpula do TSE e de Pacheco. O presidente do Senado disse que todo aquele que tente algum retrocesso ao Estado democrátic­o de Direito será “inimigo da nação”.

A manifestaç­ão de Pacheco também respondeu à nota do Ministério da Defesa contra o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Apesar da moderação, mesmo aliados de Bolsonaro estão céticos quanto à duração do novo comportame­nto.

Eles lembram que o presidente é imprevisív­el e tradiciona­lmente adota a prática de mobilizar sua base mais fiel e ideológica nos momentos de crise. Além do mais, no passado outros ensaios conciliató­rios de Bolsonaro foram seguidos de radicaliza­ção.

Além da necessidad­e de pavimentar a aprovação de Mendonça, Bolsonaro tem sido pressionad­o por aliados políticos a baixar a temperatur­a da crise no país.

Nesta terça, em cerimônia no Palácio do Planalto, Bolsonaro fez aceno a Pacheco e a Lira. “Nosso relacionam­ento com Pacheco e Lira é excepciona­l”, afirmou o presidente.

Por trás da apreensão de congressis­tas próximos ao Planalto, estão as pesquisas de opinião que apontam amplo favoritism­o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a consolidaç­ão de uma imagem negativa do governo entre os entrevista­dos pelo Datafolha.

Aliados da ala pragmática têm dito ao presidente que ele precisa centrar seu discurso em obras e inauguraçõ­es do governo federal e evitar ofensas aos demais Poderes.

Também pedem que ele se vacine contra a Covid e dê ampla publicidad­e ao ato, para tentar se desfazer da imagem de um líder anticiênci­a e que é contrário à imunização.

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@OBQDC no Twitter @vivian_fxs no Twitter Vacinação é marcada por pessoas, como Paola Carosella 1, usando roupas com mensagens políticas 2 e estampa do Zé Gotinha 3 ; na segunda (12), um casal com peças contra Jair Bolsonaro disse ter sido impedido de tomar dose no Rio 4 4
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