Folha de S.Paulo

Emmy, que retrata mulheres fortes, não ousa em lista

‘O Conto da Aia’, ‘The Crown’, ‘I May Destroy You’, ‘Flight Attendant’ e ‘Hacks’ são as mais cotadas

- Luciana Coelho

Não que houvesse margem para reinvenção nesta premiação do Emmy, que divulgou seus indicados nesta terça, dadas as restrições impostas pela pandemia. As séries que usaram de engenhosid­ade para superar a barreira, como a ótima “Calls” (Apple TV+), porém, ficaram de fora, e a lista repete antigos favoritos.

A competição de mais alto nível se dá entre séries de temporada única (ou antologias, com temporadas desconecta­das): como escolher entre a impecável “Mare of Easttown” e a arrebatado­ra “I May Destroy You”, ambas da HBO?

Por impacto cultural, o drama personalis­ta de Michaela Coel sobre estupro e consentime­nto merece a estatueta.

“Mare”, aplaudida por crítica e público, ficaria então com o prêmio de melhor atriz da categoria para Kate Winslet, como a policial que carrega o mundo nos ombros. Coel, em contrapart­ida, conquistar­ia as láureas de direção e roteiro.

“WandaVisio­n” (Disney+) e “Undergroun­d Railroad” (Amazon) são ótimas, num patamar abaixo dessas duas, e “O Gambito da Rainha” (Netflix) poderia ter cedido lugar a “Small Axe” (BBC/Globoplay) —aquela que é provavelme­nte a produção mais relevante desta temporada foi indicada apenas a melhor fotografia.

Em drama, a disputa se dá entre a quarta temporada de “The Crown” e a de “O Conto de Aia”, pendendo para esta última e seu momento catártico.

Ambas têm em 2021 seu recorde de indicações, 24 para o pessoal de Windsor (que já acumula 63 ao longo dos anos, com dez vitórias sem jamais levar melhor drama) e 21 para o de Gilead (que soma 75, incluindo aí as 15 vitórias).

Nada nesse páreo é ruim, mas o favoritism­o das duas é inequívoco. Da mesma forma, a escolha de melhor atriz dramática deve ir a Elisabeth Moss (a June de “O Conto de Aia”) ou Olivia Colman (como a rainha Elizabeth em “The Crown”). Uzo Aduba corre por fora com “Em Terapia” (HBO).

A situação é menos clara no front dramático masculino. Jonathan Majors, de “Lovecraft Country”, é o favorito, mas não há risco de injustiça entre os escolhidos.

Já na disputa entre os melhores intérprete­s em série limitada qualquer coisa diferente de premiar Ewan McGregor e sua personific­ação do estilista americano Halston na minissérie homônima da Netflix deveria dar cadeia.

Em um ano que deu pouco motivo para rir, a categoria de comédias é envergonha­da. Sintomátic­o, a produção mais interessan­te tem humor quase perverso, “The Flight Attendant”, conto de intriga internacio­nal da HBO Max.

“Hacks”, também da HBO, seria uma alternativ­a respeitáve­l. Se o total de indicações oferecer algum indício, no entanto, o prêmio fica com “Ted Lasso”, da Apple (20, ao todo, contra 15 de “Hacks” e nove de “Flight Attendant”).

Jean Smart, excepciona­l em “Hacks” e “Mare of Easttown”, pode levar a estatueta de atriz cômica. Sua maior rival é Kaley Cuoco em “The Flight Attendant”. Tracee Ellis Ross, em “Black-ish”,tambémmere­ceria.

Jason Sudeikis, mais conhecido por sua participaç­ão longeva no “Saturday Night Live”, parece a barbada da hora como ator cômico por “Ted Lasso”. Anthony

Anderson, de “Black-ish”, ou Michael Douglas, que renasceu em “O Método Kominsky”, seriam escolhas melhores.

Entre as plataforma­s disponívei­s no Brasil, o Disney+ estreou bem com as divertidas “The Mandaloria­n” e “WandaVisio­n”, além de “Hamilton”, e arrebanhou 71 indicações.

A quase nova Apple TV+ somou 35, em linha com os canais abertos americanos, dos quais só a NBC se fez notar (46). E a Amazon, depois de uma sucessão de escolhas estranhas, minguou das 31 indicações em 2020 para 18 agora.

O prestígio parece estar com a HBO e seu braço pop HBO Max com, respectiva­mente, 94 e 36 indicações, um salto para 130 contra as 107 obtidas na temporada anterior.

A Netflix, que no ano passado recebeu 160 e neste ano aparece 129 vezes na lista, já não reina absoluta.

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