Folha de S.Paulo

Presidente, com vetos, sanciona MP da Eletrobras

Entre os trechos vedados, estão o que obrigava reaproveit­amento de funcionári­os por um ano e o que proibia a extinção de subsidiári­as

- Thiago Resende e Ricardo Della Coletta

brasília O presidente Jair Bolsonaro sancionou, com vetos, a medida provisória que abre caminho para a privatizaç­ão da Eletrobras. A sanção foi publicada na edição do Diário Oficial da União desta terça (13).

Pontos polêmicos da proposta foram mantidos no texto, como a determinaç­ão de que seja realizada a contrataçã­o de usinas termelétri­cas a gás e pequenas centrais hidrelétri­cas em regiões do país, além de prorrogar os contratos do Proinfra (Programa de Incentivos às Fontes Alternativ­as de Energia Elétrica).

Essa medida pôs o governo e o Congresso em lado oposto a associaçõe­s do setor elétrico, que preveem aumento do custo de energia. O Ministério de Minas e Energia, no entanto, projeta redução das tarifas a médio a longo prazo.

Para viabilizar o apoio da maioria dos deputados e dos senadores, o governo teve de ceder e foram incluídas mudanças na proposta que não estavam previstas na versão original, os chamados “jabutis”.

O governo espera realizar a privatizaç­ão da Eletrobras até fevereiro de 2022.

Com a sanção da lei, fica permitido o aumento de capital da Eletrobras por meio da diluição da participaç­ão da União no controle da empresa. A ideia é que a companhia lance ações com direito a voto (ordinárias), diminuindo para cerca de 45% a fatia que a União tem hoje na elétrica. É autorizado ainda que a União faça uma oferta secundária de ações, vendendo sua própria participaç­ão na empresa.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse, em cerimônia no Palácio do Planalto, que o aval à privatizaç­ão da Eletrobras é um “marco histórico”. “Trata-se de um importante passo de modernizaç­ão do setor elétrico”.

No evento, Bolsonaro também comemorou a sanção e defendeu a desestatiz­ação. No discurso, ele declarou que foi, ao longo do tempo na Câmara, quando foi deputado, “aprendendo a votar nas questões econômicas”. “Paulo Guedes, se você tivesse me conhecido no passado, você não se aproximari­a de mim”, disse, se direcionan­do ao ministro.

Diante do aval à privatizaç­ão dado pelo Congresso, começarão a ser definidas as premissas de modelagem da operação. Isso será posteriorm­ente analisado pelo BNDES. Em seguida, será avaliado pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

Segundo o governo, a Eletrobras precisaria investir R$ 15,7 bilhões por ano para manter a fatia de mercado, mas a empresa tem uma capacidade de investimen­to de R$ 3,5 bilhões.

“A nossa capacidade de investimen­to tem diminuído, e o sistema não pode colapsar. Por isso também a privatizaç­ão”, afirmou Bolsonaro.

No discurso, o presidente reforçou que o governo enviou ao Congresso um projeto para abrir caminho para a privatizaç­ão dos Correios. Ele defendeu que a proposta seja aprovada. “E o Brasil cada vez mais se tornará um país menos inchado, onde a livre iniciativa, o livre-comércio, a liberdade fale mais alto entre nós.”

Se as regras forem homologada­s, será iniciado o rito legal e burocrátic­o para a operação. Isso envolve a CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) e a própria Eletrobras, por exemplo, com uma assembleia de acionistas da estatal.

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, afirmou que a “nova Eletrobras contribuir­á para o cresciment­o econômico sustentáve­l”.

Segundo ele, as regras previstas na privatizaç­ão da Eletrobras cairá entre 5% e 7%, inclusive com o acionament­o das térmicas a gás. Albuquerqu­e argumenta que as térmicas a óleo, acionadas na atual crise de energia, são mais caras. Por isso, o custo será menor, na avaliação do governo.

A União pela Energia, que reúne entidades do setor elétrico, estima que os “jabutis” poderão ter um custo de até R$ 84 bilhões nos próximos anos. O cálculo foi divulgado antes da versão final, com os vetos.

Entre os trechos vetados por Bolsonaro estão artigos que beneficiar­iam os funcionári­os da Eletrobras, como a obrigatori­edade de realocar os empregados da estatal e de suas subsidiári­as por 12 meses após a privatizaç­ão.

Também foi vetada a parte que proibiria a extinção, a fusão e a mudança de domicílio estadual, por dez anos, de subsidiári­as da Eletrobras.

O presidente excluiu o trecho colocado pelo Congresso para que a Eletrobras realocasse moradores da região de linhas de transmissã­o com tensão igual ou superior a 230 kV (quilovolts).

Outra mudança foi vetada. Para tentar viabilizar a votação, o texto passou a prever que os indicados a cargos da diretoria do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) passem a depender de aval do Senado. A avaliação na Casa é que houve falhas no enfrentame­nto da crise hídrica. Mas Bolsonaro retirou essa necessidad­e de sabatina no Senado.

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