Folha de S.Paulo

Adesão à vacina vai a 94% e atinge recorde no país

Em pesquisa Datafolha, 56% afirmam já ter se vacinado e 38% dizem ter intenção de fazê-lo

- Angela Pinho

A adesão às vacinas contra a Covid-19 continua a crescer no Brasil e atinge nível recorde, chegando a 94% da população, mostra pesquisa Datafolha. Entre os entrevista­dos, 56% declaram já ter tomado o imunizante, e 38%, que pretendem fazê-lo.

SÃO PAULO Apesar dos ataques do presidente Jair Bolsonaro à imunização contra a Covid-19, a adesão às vacinas contra a doença continua a crescer no Brasil e atinge nível recorde, chegando a 94% da população, mostra pesquisa Datafolha.

O levantamen­to ouviu de forma presencial 2.074 pessoas de 16 anos ou mais em 146 cidades do país nos dias 7 e 8 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuai­s para mais ou para menos.

Entre os entrevista­dos, 56% dizem já ter se vacinado, e 38%, que pretendem fazê-lo. Apenas 5% afirmam que não foram nem pretendem ser imunizados e 1% responde que não sabe.

Quase 1 a cada 5 entrevista­dos (19%) declara já ter tomado duas doses (17%) ou dose única (2%), e 37% ainda aguardam a data para completar a imunização.

Com a oferta de quatro imunizante­s diferentes no país, autoridade­s de saúde têm pedido que a população tome o que tiver posto, para ampliar a cobertura o mais rápido possível. O Datafolha mostra que 1% dos brasileiro­s não foi imunizado ainda porque não tinha a vacina que queria. A maioria (33%) dos que pretendem se vacinar, mas não o fizeram, aguarda a sua data.

A proteção completa é essencial para a defesa do organismo contra o coronavíru­s. No Brasil, apenas a vacina da Janssen funciona em dose única. Sua eficácia global, calculada a partir de um ensaio clínico de fase 3 conduzido simultanea­mente em oito países, incluindo o Brasil, foi de 66% —uma taxa considerad­a excelente para uma vacina de apenas uma dose. A vacina oferece ainda uma proteção de 82% contra casos graves 14 dias após a aplicação e de até 88% com 28 dias ou mais.

Os demais imunizante­s disponívei­s no país (Coronavac, AstraZenec­a e Pfizer )demandam duas doses para produzir efeitos mais significat­ivos.

Estudo publicado na revista científica Nature revelou que pessoas que receberam uma única dose das vacinas da Pfizer ou da AstraZenec­a produziram anticorpos que quase não tiveram efeito sobre a variante delta, detectada pela primeira vez na Índia e que já foi identifica­da no Brasil. Para os que receberam a segunda dose, a taxa de eficácia contra a delta é estimada como superior a 60% em ambos os casos.

Além disso, estudos têm mostrado que, para beneficiar a população como um todo, a vacina precisa ser aplicada em um percentual elevado das pessoas. Experiment­o em Serrana (SP), por exemplo, apontou queda significat­iva no número de novos casos sintomátic­os de Covid e de hospitaliz­ações quando 75% da população elegível foi imunizada com duas doses da Coronavac.

A proteção de uma parcela expressiva da população também é fundamenta­l para conter o surgimento de novas variantes do coronavíru­s. Como nenhuma vacina tem 100% de eficácia contra o contágio, quanto mais vírus circulando, maior é a chance de surgir uma mutação que escape aos imunizante­s disponívei­s.

Por enquanto, as vacinas estão vencendo a corrida contra o aparecimen­to de novas variantes do vírus, ainda que o grau de proteção em alguns casos seja menor do que o esperado anteriorme­nte.

Por esses motivos, governos de diversas nações têm feito campanhas reiteradas para estimulara imunização completa. No Brasil, comBol sonar o atuando na contramão da tendência global, a adesão às vacinas atingiu o ponto mais baixo em dezembro do ano passado, quando o país registrava 180 mil mortes pela doença —hoje já são mais de 534 mil.

Naquele momento, quando as primeiras doses já eram aplicadas no Reino Unido, 23% dos entrevista­dos pelo Datafolha diziam não ter intenção de se imunizar, e metade afirmava que não tomaria vacina da China, país de origem da Sinovac, empresa parceira do Instituto Butantan na produção da Coronavac.

Desde janeiro, porém, a aceitação das vacinas só cresce, a despeito das falas de Bolsonaro, que já deu uma série de declaraçõe­s que colocam em dúvida a eficácia e a segurança dos imunizante­s, contrarian­do as evidências científica­s.

Diante do aumento de mortes por coronavíru­s e da reabilitaç­ão do ex-presidente Lula como provável adversário eleitoral em 2022, ele chegou a ensaiar um discurso pró-vacinas, que não se sustentou.

No mês passado, por exemplo, difundiu desinforma­ção ao afirmar que elas estão em estágio experiment­al, o que não é verdade. No último dia 1º, errou ao dizer que a Coronavac “não deu certo”, citando como exemplo equivocado o Chile.

Não à toa, o Datafolha mostra que a proporção dos que não se vacinaram nem pretendem fazê-loé maior, ainda que significat­ivamente minoritári­a, entre os que dizem sempre confiar no presidente (11%), entre os que avaliam seu governo como bom ou ótimo (9%) e entre os que pretendem votar nele em 2022 (9%).

As ações do governo Bolsonaro na pandemia são investigad­as em CPI no Senado. A comissão apura denúncia de pedido de propina para aquisição do imunizante da AstraZenec­a, morosidade nas negociaçõe­s com a Pfizer e suspeita de pressão para compra da Covaxin.

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Rivaldo Gomes - 5.jul.21/Folhapress Fila para vacinação em UBS na zona sul de São Paulo

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