Folha de S.Paulo

Apoio a Havana é lembrete incômodo para o PT em 2022

- Igor Gielow

são paulo O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu nesta terça (13) à violência policial contra negros nos EUA para defender a legitimida­de do governo cubano, alvo de protestos no domingo (11).

“Você não viu nenhum soldado em Cuba com o joelho em cima do pescoço de um negro, matando ele”, escreveu o ex-presidente, em rede social, em referência ao assassinat­o de George Floyd, homem negro morto pela polícia americana em 2020, episódio que gerou comoção global.

Os protestos contra o governo cubano foram recebidos com repressão: ao menos cem manifestan­tes, ativistas e jornalista­s foram presos, de acordo com a agência de notícias Reuters, entre os quais a correspond­ente Camila Acosta, que escreveu sobre os atos para o jornal espanhol ABC.

Lula também condenou o bloqueio econômico dos EUA à ilha e minimizou os atos, reduzindo-os a “uma passeata”. “O que está acontecend­o em Cuba de tão especial para falarem tanto?! Houve uma passeata. Inclusive vi o presidente de Cuba na passeata, conversand­o com as pessoas. Cuba já sofre 60 anos de bloqueio econômico dos EUA, ainda mais com a pandemia, é desumano. Já cansei de ver faixa contra Lula, contra Dilma, contra o Trump... As pessoas se manifestam”, afirmou.

Cuba sofre sanções dos EUA desde 1960, após a Revolução Cubana expulsar os americanos da ilha, medida que foi mantida durante a Guerra Fria para tentar sufocar o governo comunista, apoiado pela União Soviética. O embargo não tem respaldo internacio­nal.

Em junho, a ONU condenou o bloqueio pela 29ª vez, com o apoio de 184 países, e só EUA e Israel foram contrários —o Brasil se absteve na votação.

Para o ex-líder brasileiro, o presidente americano, Joe Biden, deveria ir à TV anunciar a adoção da “recomendaç­ão dos países na ONU de encerrar esse bloqueio”. Ele afirmou que a ilha seria um país mais desenvolvi­do economicam­ente caso as sanções fossem retiradas, o que, segundo ele, faria com que Cuba pudesse se tornar “uma Holanda”.

“Tem um povo intelectua­lmente preparado, altamente educado. Mas Cuba não conseguiu nem comprar respirador­es por causa de um bloqueio desumano dos EUA”, escreveu Lula. “O bloqueio é uma forma de matar seres humanos que não estão em guerra. Do que os EUA têm medo? Eu sei o que é um país tentando interferir no outro.”

Os protestos foram elogiados pelo presidente americano. Em nota divulgada na segunda (12), Biden celebrou as manifestaç­ões por “direitos fundamenta­is e universais”, incluindo o “direito a protestar pacificame­nte e o de determinar livremente seu próprio futuro”. “Os EUA pedem ao regime cubano que, em vez de enriquecer­em, escute o povo e atenda às suas necessidad­es”.

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