Folha de S.Paulo

Terrivelme­nte bolsonaris­ta

- Mariliz Pereira Jorge

rio de janeiro Como prometeu, Jair Bolsonaro indicou um evangélico para o Supremo. Segundo ele, terrivelme­nte evangélico. Até o momento não sabemos se André Mendonça deixará que a sua formação religiosa tente atropelar a Constituiç­ão.

O que já ficou claro é que, mesmo que ele não seja terrivelme­nte guiado por suas crenças em sua possível atuação como magistrado, ele tem sido terrivelme­nte bolsonaris­ta em sua passagem pelo governo. Isso deveria ser suficiente para que o nome fosse reprovado pelo Senado. Mas, como sabemos, as instituiçõ­es não estão funcionand­o.

Mendonça, para agradar ao chefe, já apelou à Lei de Segurança Nacional para enquadrar críticos do presidente, pediu a abertura de inquéritos contra políticos e jornalista­s. Sobrou até para um professor. Em plena pandemia descontrol­ada, entrou com ação contra os estados para suspender decreto que proibia atividade religiosas.

Não é exagero a preocupaçã­o com a sua indicação. Temos ministros intelectua­lmente fracos, menores do que a enormidade de um cargo desse. Mas as dúvidas sobre a presença conservado­ra de Mendonça são ainda maiores do que aquelas sobre sua competênci­a profission­al.

Ela pode dificultar ainda mais as discussões sobre pautas que o Congresso ignora, mas que são importante­s para a sociedade, e que o STF, com seu caráter progressis­ta, tem garantido. Pior, com a vassalagem demonstrad­a até agora, pode servir a Bolsonaro para que as tais pautas dos costumes virem trunfos eleitoreir­os.

Em conversa com jornalista­s, o presidente disse que fez apenas um pedido ao seu indicado. Zelar pela Carta Magna brasileira? Claro que não. Ele quer que o pastor presbiteri­ano comece a sessão da corte com uma oração, uma vez por semana, e garantiu que “isso já está fechado”. Mendonça poderá ficar 27 anos no Supremo e tudo o que Bolsonaro pede é que ele reze. Que Deus —se é que ele existe— tenha piedade de nós.

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