Folha de S.Paulo

Deputado sugere existir áudio do presidente, recua, e diz ter provas

- Mateus Vargas

brasília O deputado Luis Miranda (DEM-DF) voltou a afirmar nesta segunda (12) que tem provas de que alertou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre possíveis irregulari­dades na compra da vacina Covaxin.

Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, ele sugeriu que o presidente foi gravado por seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, mas depois recuou e disse não saber se há áudio da reunião.

“Jamais gravaria o presidente da República, mas eu não estava sozinho na sala e nem todo mundo que estava presente na sala confia no presidente”, afirmou.

A existência de denúncias de irregulari­dades em torno da Covaxin foi revelada pela Folha em junho, com a divulgação do depoimento sigiloso do irmão do deputado ao MPF (Ministério Público Federal). Esse mesmo servidor e Miranda disseram à CPI que alertaram Bolsonaro sobre as irregulari­dades.

“Sorte dele [Bolsonaro] é que eu não tenho o mesmo caráter que o dele, senão eu teria já exposto esse áudio”, disse Miranda, que em seguida ponderou: “Se eu tivesse gravado, teria soltado sim”.

“Se ele quer se preservar, vou dar um conselho: guarde bem guardado [o áudio]. Quando você for desmentido ou tentarem imputar pra gente denunciaçã­o caluniosa, você acaba com a carreira de quem fizer isso com a gente. Se você tem esse áudio, guarde com carinho, não é para a mídia que tem de entregar, é para a Justiça”, disse.

O deputado afirma que só ele, o irmão e um ajudante de ordens da Presidênci­a estavam na sala com Bolsonaro. Este auxiliar teria deixado a sala durante a reunião.

Bolsonaro recebeu neste dia, segundo Miranda, recortes de notícias que citavam a Global Gestão em Saúde, empresa que recebeu R$ 20 milhões, em 2017, na gestão de Ricardo Barros na Saúde, e não entregou os medicament­os prometidos.

Barros é o líder do governo na Câmara, e a Global é uma das sócias da Precisa Medicament­os, que fechou o contrato de R$ 1,6 bilhão para venda de 20 milhões de doses da Covaxin ao Brasil. O contrato da vacina está suspenso.

“Esse caso aqui o Ricardo Barros está envolvido?”, questionou o presidente, segundo relato do deputado ao ver informaçõe­s da Global.

Miranda sugeriu em mais de um ponto da entrevista que a gravação existe, mas em seguida recuou. Ele negou que fez um acordo com aliados de Bolsonaro para esconder o áudio. “E nem sei se ele [o irmão] tem [a gravação]”, disse o deputado.

Ele não quis confirmar qual parlamenta­r teria sido citado por Eduardo Pazuello como autor de pressões para liberar recursos.

O ex-ministro disse a auxiliares que recebeu pressões do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do ministro Luiz Eduardo Ramos para liberar verbas ao centrão.

A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar suspeita de prevaricaç­ão do presidente Bolsonaro na negociação do governo para a Covaxin.

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