Folha de S.Paulo

Presidente da OAB vê vergonha em escolha por religião

- Mônica Bergamo

são paulo O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, classifico­u como vergonhosa o que chamou de “exploração da religião” pelo ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o STF (Supremo Tribunal Federal).

“Agradeço a Deus pela vida e por essa possibilid­ade de servir meu país; à minha família, pelo amor recíproco; ao presidente Jair Bolsonaro, pela confiança; aos líderes evangélico­s, parlamenta­res, amigos e todos que têm me apoiado”, escreveu Mendonça em suas redes sociais nesta terça (13), após a publicação da indicação no Diário Oficial da União.

“Quem agradece a líderes religiosos por sua indicação não merece ser nomeado”, disse Santa Cruz.

“Tudo o que o Brasil não precisa é de uma guerra religiosa. [O ministro Luiz] Fux é o primeiro presidente judeu do STF sem que ninguém fale disso. É uma vergonha a exploração da religião para ser ministro do STF”, segue.

Mendonça não é apenas a escolha de um contumaz defensor do presidente para a corte, a segunda de Bolsonaro, mas também é um aceno à base evangélica. Desde 2019, o mandatário prometia indicar um nome “terrivelme­nte evangélico” para o STF.

A promessa foi descumprid­a em outubro de 2020, quando escolheu Kassio Nunes Marques para a vaga de Celso

de Mello. Mas agora, com o eleitorado evangélico dividido entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cumpriu a promessa.

A indicação é só o primeiro passo rumo a uma cadeira no STF. Ele precisará ser sabatinado e aprovado pela CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) do Senado. Depois, precisa ser aprovado pelo plenário da Casa.

Mendonça vinha conversand­o com senadores para diminuir a resistênci­a a seu nome.

Ele tende a ter mais dificuldad­e diante da nova tensão entre os Poderes provocada por declaraçõe­s golpistas de Bolsonaro, que, sem provas, acusa fraudes nas eleições e chegou a acenar com a possibilid­ade de que o pleito não aconteça no ano que vem.

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