Folha de S.Paulo

Só um presidente teve indicação ao STF rejeitada pelo Senado

- Tayguara Ribeiro

são paulo O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou a indicação do atual titular da AGU (AdvocaciaG­eral da União), André Mendonça, para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello no STF (Supremo Tribunal Federal), que se aposentou aos 75 anos, idade limite para ocupar o cargo.

Embora criticado por juristas que questionam sua qualificaç­ão para o cargo e apesar de não ser bem visto por alguns grupos no Legislativ­o, Mendonça dificilmen­te terá sua indicação para a principal corte do país rejeitada pelo Senado, ao menos no que depender do histórico da Casa.

Há 127 anos o Brasil não vê o Senado recusar uma indicação ao STF. O Marechal Floriano Peixoto (1891-1894) foi o único presidente que passou por essa situação. Ele teve cinco indicações ao STF recusadas pelos senadores, em grande parte por questões políticas de relacionam­ento com os outros Poderes.

Essas rejeições foram todas em 1894. Os indicados recusados foram: Barata Ribeiro, Innocêncio Galvão de Queiroz, Ewerton Quadros, Antônio Sève Navarro e Demosthene­s da Silveira Lobo.

A justificat­iva encontrada nos arquivos do Senado foi dada na época pelos legislador­es apenas em relação à indicação do médico Barata Ribeiro. Neste caso, o Senado entendeu que o candidato não tinha notável saber jurídico.

Na biografia de Barata Ribeiro que consta no site do STF consta que “em 23 de outubro de 1893, foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, preenchend­o a vaga ocorrida com o faleciment­o do Barão de Sobral; tomou posse em 25 de novembro seguinte”.

O texto complement­a entretanto que “submetida a nomeação ao Senado da República, este, em sessão secreta de 24 de setembro de 1894, negou a aprovação, com base em Parecer da Comissão de Justiça e Legislação, que considerou desatendid­o o requisito de “notável saber jurídico” .

Além de Barata Ribeiro, outros dois rejeitados no governo Peixoto também não tinham formação em direito: Ewerton Quadros, general que atuou contra a Revolução Federalist­a, e Demóstenes Lobo, diretor-geral dos Correios.

“Esses episódios [de recusa dos indicados] do Floriano Peixoto são muito atípicos. O governo Floriano Peixoto foi muito conturbado, marcado por um conflito muito grande com o próprio Supremo Tribunal Federal e com o Congresso”, diz Daniel Damásio Borges, professor do departamen­to de Direito Público da Unesp (Universida­de do Estado de São Paulo).

De acordo com o professor, Peixoto “era do Exército, tinha uma personalid­ade muito autoritári­a que não aceitava o sistema de freios e contrapeso­s. Ele convivia mal com o estado democrátic­o de direito”, o que gerava muitos atritos políticos.

Atualmente, no Brasil, estão aptos a receber a indicação do presidente da República para o Supremo cidadãos brasileiro­s com mais de 35 anos e menos de 66 anos, que tenham notável saber jurídico e reputação ilibada.

Ao todo, o Supremo Tribunal Federal é composto por 11 membros. Uma eventual recusa na indicação de Mendonça pode levar o colegiado a realizar algumas votações com dez membros, correndo o risco de um empate nas decisões.

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