Folha de S.Paulo

Bolsonaro promete redução de imposto de diesel e games

Presidente volta a defender medidas de ajuda para caminhonei­ros

- Thiago Resende e Daniel Carvalho Nicola Pamplona

BRASÍLIA O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prometeu nesta terça-feira (13) a redução de impostos sobre o diesel, em novo aceno a caminhonei­ros. Segundo ele, o ministro Paulo Guedes (Economia) concordou com a medida, que deve ser compensada com a retirada de subsídios.

“Nós pegamos uma isenção. Não vou entrar em detalhe aqui. E deixamos de dar uma isenção para tal setor. Com isso, sinalizamo­s para reduzir o PIS/Cofins do diesel, que está em R$ 0,31 [por litro]. Vamos passar para R$ 0,27 [por litro]”, disse Bolsonaro.

Ele participou de uma cerimônia no Planalto para sancionar a lei que abre caminho à privatizaç­ão da Eletrobras.

Na semana passada, o presidente disse que tem pressionad­o o ministro da Economia, Paulo Guedes, para que libere R$ 5 bilhões para o Ministério da Infraestru­tura para obras em benefício dos caminhonei­ros.

Ele reconheceu que sua intenção é agradar a categoria,

“É um verdadeiro Tio Patinhas, não consegue tirar nada dele Jair Bolsonaro em referência ao secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto

que o ajudou a se eleger em 2018 e que exerce constante pressão sobre o governo.

Nesta terça, voltou a defender medidas para a categoria.

Durante a cerimônia, Bolsonaro disse que não havia sido “completame­nte convertido pelo Paulo Guedes” ao dizer que não estava em seu radar a privatizaç­ão da Caixa Econômica Federal.

Depois, comparou o secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, ao personagem Tio Patinhas, um ricaço pão-duro.

“É um verdadeiro Tio Patinhas, não consegue tirar nada dele”, afirmou.

Na semana passada, em entrevista, Bolsonaro já havia dito que estava pressionan­do Guedes para que arrumasse no Orçamento cerca de R$ 5 bilhões para obras viárias.

No Planalto, o presidente também prometeu mais um corte no imposto de importação para jogos eletrônico­s.

Bolsonaro afirmou que é mais fácil reduzir essa taxação, pois, por ser imposto de importação, não é necessário encontrar uma medida que compense a queda de arrecadaçã­o aos cofres públicos.

“Alguns reclamam: baixa [o imposto de] outra coisa. Para baixar outra coisa, tem que ter uma fonte compensado­ra. Os games, como é um recurso que vem de imposto de importação, não tem que achar fonte alternativ­a”, discursou.

Bolsonaro não previu data para os anúncios. Ele voltou a pedir que o Congresso aprove o projeto que altera regras de cobrança do ICMS sobre combustíve­is. A proposta faz parte da disputa com governador­es pelo preço da gasolina.

O projeto prevê que o imposto seria cobrado na refinaria e a alíquota para cada combustíve­l seria uniforme em todo o país, com um valor fixado em reais, não como uma porcentage­m do preço total.

Corte de tributo não repõe reajuste mais recente da Petrobras

rio de janeiro A redução de impostos federais sobre o diesel anunciada nesta terça (13) pelo presidente Jair Bolsonaro não cobre nem o mais recente reajuste promovido pela Petrobras, de R$ 0,10 por litro, que entrou em vigor no dia 6.

Assim como ocorreu na isenção temporária de PIS/ Cofins durante março e abril, o benefício deve ser engolido pelo repasse do aumento na refinarias, seus efeitos sobre os impostos estaduais e pelo preço do biodiesel, que segue em alta no país.

Bolsonaro anunciou um corte de R$ 0,04 no PIS/Cofins, baixando o imposto de R$ 0,31 para R$ 0,27 por litro. Se o corte fosse integralme­nte repassado de imediato, o preço médio do combustíve­l cairia 0,09%, para R$ 4,541 por litro.

Ainda assim, o produto segue em patamares recordes, bem acima dos verificado­s durante a greve dos caminhonei­ros em 2018. E sem sinal de alívio, já que o diesel iniciou a semana em alta no mercado internacio­nal e o real voltou a desvaloriz­ar depois de ensaiar uma recuperaçã­o.

No fim de junho, lideranças dos caminhonei­ros estiveram na Petrobras e ouviram que a política de alinhament­o aos preços internacio­nais é importante para a companhia. Uma semana depois, a empresa anunciou reajustes no diesel, na gasolina e no gás de cozinha, e a categoria voltou a ventilar ameaças de greve.

Foram os primeiros aumentos da gestão do general Joaquim Silva e Luna, que assumiu a empresa após a conturbada demissão de Roberto Castello Branco em meio a uma escalada dos preços dos combustíve­is, gerando expectativ­as sobre mudanças na política comercial da companhia.

Já em seu discurso de posse, disse que o desafio era “conciliar consumidor e acionista” mas defendeu o alinhament­o de preços. Em seus quase três meses de gestão, reduziu a frequência dos reajustes, mas não fugiu à responsabi­lidade de acompanhar a recuperaçã­o do petróleo.

Dados da ANP mostram que o preço do diesel nas refinarias subiu 40% desde o início da gestão Bolsonaro, já descontada a inflação do período.

Para analistas, embora o petróleo tenha se recuperado após a pandemia, a taxa de câmbio é o principal motor dessa alta. Enquanto a cotação do Brent subiu 23%, o dólar ficou 33% mais caro.

Assim, na avaliação do mercado, enquanto o câmbio não der um alívio, a política de preços da Petrobras permanecer­á pressionad­a. A crise política e institucio­nal continua sendo um combustíve­l para manter o dólar alto.

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Fotos Pedro Ladeira/Folhapress Paulo Guedes (Economia) e Jair Bolsonaro durante solenidade de sanção da lei que abre caminho para privatizar a Eletrobras
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Jair Bolsonaro exibe no celular, em evento no Planalto, link para reportagem sobre o prejuízo das estatais em 2015, no governo petista, e o lucro delas em 2019, um ano após sua posse

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