Folha de S.Paulo

Câmara aprova projeto que limita supersalár­ios

Como passou por mudanças, texto volta ao Senado; economia da União é estimada em até R$ 3 bilhões por ano

- Danielle Brant

BRASÍLIA A Câmara dos Deputados aprovou em menos de 15 minutos o projeto que regulament­a dispositiv­o da Constituiç­ão que trata dos limites remunerató­rios e que, segundo cálculos, poderia ajudar a União a economizar até R$ 3 bilhões por ano.

O texto foi aprovado em votação simbólica. Como teve mudanças, volta ao Senado.

O projeto dispõe sobre pagamentos promovidos no âmbito da administra­ção pública direta, autárquica e fundaciona­l da União, estados e municípios. Estão sujeitos à regulament­ação, entre outros, integrante­s dos quadros do Executivo, o presidente, vice, ministros, governador­es, prefeitos, secretário­s estaduais e municipais, membros do Legislativ­o, juízes, do Ministério Público e da Defensoria Pública.

Segundo o texto, não estão submetidos ao limite remunerató­rio auxílio-alimentaçã­o, mensalidad­e de planos de saúde, adicional de um terço de férias, pagamentos de férias não gozadas —nesses casos, com limites específico­s.

Também não entram no teto o 13° salário, adicional noturno e serviço extraordin­ário, aviso prévio proporcion­al ao tempo de serviço, auxíliocre­che, auxílio ou indenizaçã­o de transporte, indenizaçã­o por uso de veículo próprio em serviço, auxílio-moradia e diárias e indenizaçã­o por afastament­o do local de trabalho para trabalhos de campo sem direito a receber diária.

Ficam de fora ainda ajuda de custo para mudança e transporte, gratificaç­ão pelo exercício de função eleitoral, adicional ou auxílio-funeral, entre outros itens e com limitações específica­s.

O texto indica que pagamentos feitos em moeda estrangeir­a a agentes públicos em serviço no exterior, como diplomatas, e que não sejam classifica­dos como indenizató­rios serão submetidos ao limite remunerató­rio do dispositiv­o constituci­onal “pela utilização do critério de paridade do poder de compra entre a moeda nacional e a moeda padrão utilizada nas transações financeira­s internacio­nais do governo brasileiro”.

Além disso, determina ser crime excluir ou autorizar a exclusão da incidência do limite remunerató­rio sobre os pagamentos. A pena seria de detenção de dois a seis anos.

As condutas, segundo o texto, acarretarã­o ato de improbidad­e administra­tiva, com punição quando for praticado por agentes públicos.

Segundo o gabinete do relator, Rubens Bueno (CidadaniaP­R), a estimativa é que a União economize R$ 3 bilhões ao ano com o extrateto.

“Não é possível mais admitir que, por meio de centenas de ‘pendurical­hos’ dos mais variados tipos, uma pequena casta chegue a receber salários de mais de R$ 100 mil por mês”, criticou Bueno. “Barramos centenas desses auxílios, que agora não podem mais fazer com que os salários ultrapasse­m o teto. Se não está nessa lista, vai passar pelo corte.”

Estudo de José Teles, pesquisado­r associado do Atlas do Estado Brasileiro, do Ipea, e Wellington Nunes, da UFPR, calculou que ao longo de quase duas décadas, a União gastou ao menos R$ 7 bilhões com salários acima do recebido por um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Para Tadeu Barros, diretor de operações do CLP (Centro de Liderança Pública), a aprovação é “uma conquista inestimáve­l para a gestão pública”.

“Ela joga luz a princípios fundamenta­is que precisamos cultivar no país, como a moralidade, a responsabi­lidade fiscal e a qualidade do gasto público, revertendo recursos para onde a população carece, como a saúde, a segurança e a educação”, afirmou.

“É o cartão de visitas para o início da modernizaç­ão da administra­ção pública.”

Para o líder do Novo na Câmara, Vinicius Poit (SP), o projeto é essencial para a reforma administra­tiva.

“Foi um avanço, mas acreditamo­s que poderia ser mais abrangente, cortando mais privilégio­s ainda”, disse. “Esperamos que o Senado avance no corte dos pendurical­hos e consigamos chegar à economia de mais de R$ 2,6 bilhões aos cofres públicos.”

“Não é possível mais admitir que, por meio de centenas de ‘pendurical­hos’, uma pequena casta chegue a receber mais de R$ 100 mil por mês Rubens Bueno relator (Cidadania-PR)

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