Folha de S.Paulo

Serviços avançam 1,2% em maio e retomam o nível pré-pandemia

Relaxament­o das restrições de circulação e aumento na vacinação da população beneficiam setor, aponta IBGE

- Leonardo Vieceli

RIO DE JANEIRO O volume do setor de serviços no país avançou 1,2% em maio, na comparação com abril, e voltou a ficar acima do patamar prépandemi­a, segundo o IBGE.

O avanço de 1,2% foi o maior para o mês desde o começo da série histórica, com dados a partir de 2011.

Segundo o instituto, o setor ficou 0,2% acima do nível précrise, registrado em fevereiro de 2020. Esse patamar já havia sido alcançado em fevereiro. Contudo, a piora da pandemia gerou novas restrições, abalando serviços em março.

Em relação a maio de 2020, o setor teve alta de 23% —o aumento expressivo é justificad­a pela base de comparação muito depreciada, dado que naquele período o país sofria o baque inicial da pandemia.

Analistas consultado­s pela agência Bloomberg projetavam avanço de 21,9% nessa base de comparação.

A prestação de serviços foi atingida em cheio pela Covid-19 porque reúne atividades que dependem da circulação de clientes, contato direto e aglomeraçõ­es. Entre elas, estão operações de hotéis, bares, restaurant­es e eventos.

Após despencar no começo da crise sanitária, o setor ensaiou retomada ao longo de 2020. No entanto, deu sinais de perda de fôlego com a redução de estímulos à economia e o avanço da Covid-19 na largada de 2021.

“O setor vinha mostrando boa recuperaçã­o, mas, em março, com um novo agravament­o do número de casos de Covid-19, governador­es e prefeitos de diversos locais do país voltaram a adotar medidas mais restritiva­s, afetando o funcioname­nto das empresas de serviços. Em abril e maio, essas medidas começam a ser relaxadas e o setor volta a crescer”, disse Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.

Conforme o instituto, o volume de serviços seguiu no vermelho no acumulado em 12 meses. Até maio, a baixa foi de 2,2%. Já nos primeiros cinco meses de 2021, houve elevação de 7,3%.

Na visão de Lobo, a vacinação contra a Covid-19 vem favorecend­o os negócios.

“À medida que a vacinação avança, a gente observa maior flexibiliz­ação e maior confiança das famílias para consumo de serviços como os de restaurant­es e hotéis. A gente já percebe um avanço nas receitas de serviços prestados às famílias”, ressaltou.

Por outro lado, o alto nível de desemprego e a perda de renda na pandemia desafiam a recuperaçã­o dos negócios, ponderou Lobo. Segundo o IBGE, o setor de serviços opera 11,3% abaixo do recorde, alcançado em novembro de 2014.

“A gente sabe que a pandemia trouxe restrições de renda. Isso vai funcionar como um impeditivo para as famílias, mas, por ora, com a base deprimida, há espaço para cresciment­o [de serviços].”

Em maio, a alta de 1,2% ante abril foi acompanhad­a por 3 das 5 atividades investigad­as. Os destaques foram transporte­s, serviços auxiliares aos transporte­s e correio (3,7%) e serviços prestados às famílias (17,9%). Em seguida, vieram serviços profission­ais, administra­tivos e complement­ares (1%).

Na contramão, informação e comunicaçã­o (-1%) e outros serviços (-0,2%) tiveram resultados negativos no quinto mês do ano.

Lobo destacou as diferenças entre as atividades pesquisada­s. Segundo ele, serviços que dependem mais do fluxo de clientes em operações físicas encontram mais obstáculos para retomada. É o caso dos serviços prestados às famílias, que reúnem restaurant­es e hotéis, por exemplo. Esse segmento, mesmo com a alta em maio, está 29,1% abaixo do pré-pandemia.

Serviços profission­ais, administra­tivos e complement­ares, por sua vez, estão em nível 2,7% inferior ao pré-crise. “O avanço da vacinação traz um fôlego maior, mas há um longo caminho a ser percorrido por serviços de caráter presencial”, sublinhou Lobo.

As outras três atividades do setor já ultrapassa­ram o nível pré-crise. Serviços de informação e comunicaçã­o estão 6,4% acima desse patamar; transporte­s, serviços auxiliares aos transporte­s e correio, 4,7%; e outros serviços, 3,3%.

Após a divulgação dos números, nesta terça-feira (13), a CNC (Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) revisou a projeção de cresciment­o do setor em 2021. A estimativa de avanço do volume de serviços passou de 4,6% para 5,1% no acumulado do ano. Em 2020, houve queda de 7,8%.

“A pandemia ainda não está sob controle, mas o avanço da vacinação aumenta a confiança. Devemos ter uma aceleração de serviços no segundo semestre. A palavra-chave é confiança. As pessoas estão mais confiantes com a vacina no braço”, afirma o economista Fabio Bentes, da CNC.

“A projeção é, sim, de um resultado positivo no ano, mas com uma base de comparação bastante deteriorad­a. Então, não dá para soltar fogos.”

Em relatório, o Banco Original também destacou o impacto da imunização. “Para os próximos meses, esperamos que o setor de serviços dê continuida­de ao processo de recuperaçã­o, refletindo especialme­nte o avanço da mobilidade e o ganho gradual de confiança dos agentes econômicos à medida que avança a campanha de vacinação e a pandemia dá leves sinais de melhora”, apontou a instituiçã­o.

Nesta terça-feira, o IBGE ainda informou que, em maio, o índice de atividades turísticas subiu 18,2% ante o mês anterior. Foi a segunda taxa positiva em sequência. Em dois meses, o indicador acumulou ganho de 23,3%.

“Esse avanço recente recupera boa parte da queda de 26,5% observada em março, que foi um mês com maior número de limitações ao funcioname­nto de determinad­os estabeleci­mentos. Contudo, o segmento de turismo ainda necessita crescer 53,1% para retornar ao patamar de fevereiro do ano passado”, afirmou Lobo.

Os outros dois indicadore­s setoriais divulgados pelo IBGE, produção industrial, vendas do comércio, cresceram 1,4% em maio ante abril.

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