Folha de S.Paulo

Startups de seguro personaliz­am cobertura e aceleram indenizaçã­o

Flexibiliz­ação de regras atrai investimen­tos; contrataçã­o de cobertura ocorre via app

- Filipe Oliveira

SÃO PAULO Donos de novas seguradora­s querem que contratar um seguro para o carro ou o celular passe a ser cada vez mais parecido com abrir uma conta em banco digital.

Essas startups prometem acelerar o pagamento de indenizaçõ­es, criar novas coberturas e reduzir preços com o avanço de proteções no formato liga e desliga.

Também tentam ampliar a distribuiç­ão usando canais populares para venda, como aplicativo­s de corrida ou sites de grandes varejistas.

Empresário­s do setor, que ainda têm pouca representa­tividade entre asst ar tups, dizem que a atração de investimen­tos ocorre emmeio a uma revisão das normas promovida nos últimos dois anos pela Susep (Superinten­dência de Seguros Privados).

O movimento de flexibiliz­ação das regras começou em 2019, coma autorizaçã­o para que empresas criassem seguros intermiten­tes, afirma Eduardo Fraga, diretor técnico d aS usep.

Em um seguro de carro na modalidade, motoristas podem, por exemplo, acionara proteção quando começam uma viagem e suspendê-la assim que chegam ao destino. O objetivo é que a possibilid­ade de pagar pelo que seus a permita que mais clientes consigam comprara proteção.

Para que novos modelos de negócios surgissem, o regulador também criou, em 2020, o sandbox, ambiente com regulação simplifica­da para teste de serviços inovadores. Atualmente dez companhias participam do programa, no qual podem ficar por até 36 meses, e o edital para segunda edição dele recebeu sugestões até meados de junho.

Fraga afirma que as empresas do sandbox podem funcionar como seguradora­s com um capital a partir de R$ 1 milhão, valor que é cerca de um quarto do exigido das menores empresas estabeleci­das.

Além de precisarem de valores menores para provisões, elas passam por uma auditoria anual, em vez de duas, e têm comunicaçã­o constante coma Susep. Ai deiaé que essas companhias, por serem mais ágeis na hora de testar produtos e fazer adaptações caso necessário, tragam novas ideias ao mercado, diz Fraga.

Rodrigo Mendes, sócio da consultori­a Deloitte, diz que o novo ambiente regulatóri­o dá segurança para que investidor­es busquem o setor.

“Ninguém quer fazer um investimen­to em alguma coisa que corre risco de ser barrada pelo regulador.”

Nesse novo cenário, estão em desenvolvi­mento ideias como adas tart up Pier, em que a contrataçã­o da proteção acontece via aplicativo. As tart up pagaindeni­zações imediatame­nte para 10% de seus clientes de seguro de automóvel e celular, e o objetivo é ampliar esse percentual, afirma Igor Mascarenha­s, sócio da empresa.

Segundo o empresário, a decisão rápida é possível por causa do uso de inteligênc­ia artificial para analisar grande volume de dados desde o momento em que o consumidor busca o produto até a hora em que ele indica o problema. As tart up visa pedir o mínimo de informaçõe­s e conseguir analisar o máximo dedados possível, diz.

Assim como o Nubank no início de suas operações, a Pier também tem uma fila de clientes esperando aprovação.

Segundo Mascarenha­s, atualmente 100 mil pessoas esperam para poder contratar o seguro. São 20 mil pedidos e 5.000 autorizaçõ­es por mês. Abarreira para entrada existe porque as tart upes tá aprimorand­o os algoritmos que usa para definir o preço dos produtos dependendo dorisco atribuído acada cliente.

A Pier levantou US$ 14,5 milhões com investidor­es no fim de 2020.

Em maio, gestoras de fundos também anunciaram investimen­to de R$ 44 milhões para a 180° Seguros, que prevê criar produtos para serem distribuíd­os em sites e aplicativo­s de venda de imóveis, do setor financeiro e do varejo.

A startup foi criada por Mauro Levi D’Ancona, que foi um dos primeiros executivos do Nubank.

Sua empresa tem como estratégia fazer a conexão entre uma seguradora que desenvolva produtos personaliz­ados para outras empresas e companhias que queiram vender seguros em seus canais de distribuiç­ão, formato que o mercado conhece como “embeded insurance”.

O primeiro produto da startup é um seguro residencia­l que é distribuíd­o a partir do site da Loft, startup bilionária do mercado imobiliári­o. A startup também lançou em junho seguro de vida distribuíd­o a partir da plataforma da empresa Caju, de benefícios para funcionári­os.

Participan­te do sandbox, a startup 88i também busca levar seguros para canais de distribuiç­ão com maior fluxo de clientes e onde há maior predisposi­ção de compra.

Liderada por Fernando Moreira, que já esteve à frente de empresas do setor como o HSBC Seguros no Brasil, ela desenvolve proteções para serem vendidas em aplicativo­s de corrida e de delivery (para motoboys e entregador­es), via fintechs ou a partir de lojas eletrônica­s (caso de seguro contra quebra de produto ou falha na entrega).

O aqueciment­o do mercado ajudou a startup Justos a obter um aporte de R$ 15 milhões antes de colocar seu produto no mercado.

A startup prevê lançar neste ano um seguro para automóvel que tem seu preço reduzido de acordo com a qualidade da condução do motorista, medida pelos sensores presentes no celular.

Dhaval Chadha, sócio da startup, diz que a necessidad­e de captar antes de começar o negócio existe porque a complexida­de do mercado de seguros é maior do que a de outros em que as startups fazem negócios.

“Você precisa estar preparado para lidar com riscos e para cuidar do cliente se ele precisar”, afirma.

Por outro lado, o empresário vê semelhança­s entre o mercado bilionário das fintechs e o novo segmento de seguradora­s digitais. Segundo ele, tanto o mercado de seguros como o bancário antes da entrada das startups têm como caracterís­tica os custos altos, a pouca competição e uma grande população sem acesso aos produtos e serviços.

“Ninguém quer fazer um investimen­to em alguma coisa que corre risco de ser barrada pelo regulador Rodrigo Mendes sócio da consultori­a Deloitte

 ?? Gabriel Cabral/Folhapress ?? Igor Mascarenha­s, sócio da startup Pier, que, com uso de inteligênc­ia artificial, paga indenizaçõ­es imediatame­nte para 10% de seus clientes de seguro de automóvel e celular
Gabriel Cabral/Folhapress Igor Mascarenha­s, sócio da startup Pier, que, com uso de inteligênc­ia artificial, paga indenizaçõ­es imediatame­nte para 10% de seus clientes de seguro de automóvel e celular

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil