Startups de seguro personalizam cobertura e aceleram indenização
Flexibilização de regras atrai investimentos; contratação de cobertura ocorre via app
SÃO PAULO Donos de novas seguradoras querem que contratar um seguro para o carro ou o celular passe a ser cada vez mais parecido com abrir uma conta em banco digital.
Essas startups prometem acelerar o pagamento de indenizações, criar novas coberturas e reduzir preços com o avanço de proteções no formato liga e desliga.
Também tentam ampliar a distribuição usando canais populares para venda, como aplicativos de corrida ou sites de grandes varejistas.
Empresários do setor, que ainda têm pouca representatividade entre asst ar tups, dizem que a atração de investimentos ocorre emmeio a uma revisão das normas promovida nos últimos dois anos pela Susep (Superintendência de Seguros Privados).
O movimento de flexibilização das regras começou em 2019, coma autorização para que empresas criassem seguros intermitentes, afirma Eduardo Fraga, diretor técnico d aS usep.
Em um seguro de carro na modalidade, motoristas podem, por exemplo, acionara proteção quando começam uma viagem e suspendê-la assim que chegam ao destino. O objetivo é que a possibilidade de pagar pelo que seus a permita que mais clientes consigam comprara proteção.
Para que novos modelos de negócios surgissem, o regulador também criou, em 2020, o sandbox, ambiente com regulação simplificada para teste de serviços inovadores. Atualmente dez companhias participam do programa, no qual podem ficar por até 36 meses, e o edital para segunda edição dele recebeu sugestões até meados de junho.
Fraga afirma que as empresas do sandbox podem funcionar como seguradoras com um capital a partir de R$ 1 milhão, valor que é cerca de um quarto do exigido das menores empresas estabelecidas.
Além de precisarem de valores menores para provisões, elas passam por uma auditoria anual, em vez de duas, e têm comunicação constante coma Susep. Ai deiaé que essas companhias, por serem mais ágeis na hora de testar produtos e fazer adaptações caso necessário, tragam novas ideias ao mercado, diz Fraga.
Rodrigo Mendes, sócio da consultoria Deloitte, diz que o novo ambiente regulatório dá segurança para que investidores busquem o setor.
“Ninguém quer fazer um investimento em alguma coisa que corre risco de ser barrada pelo regulador.”
Nesse novo cenário, estão em desenvolvimento ideias como adas tart up Pier, em que a contratação da proteção acontece via aplicativo. As tart up pagaindenizações imediatamente para 10% de seus clientes de seguro de automóvel e celular, e o objetivo é ampliar esse percentual, afirma Igor Mascarenhas, sócio da empresa.
Segundo o empresário, a decisão rápida é possível por causa do uso de inteligência artificial para analisar grande volume de dados desde o momento em que o consumidor busca o produto até a hora em que ele indica o problema. As tart up visa pedir o mínimo de informações e conseguir analisar o máximo dedados possível, diz.
Assim como o Nubank no início de suas operações, a Pier também tem uma fila de clientes esperando aprovação.
Segundo Mascarenhas, atualmente 100 mil pessoas esperam para poder contratar o seguro. São 20 mil pedidos e 5.000 autorizações por mês. Abarreira para entrada existe porque as tart upes tá aprimorando os algoritmos que usa para definir o preço dos produtos dependendo dorisco atribuído acada cliente.
A Pier levantou US$ 14,5 milhões com investidores no fim de 2020.
Em maio, gestoras de fundos também anunciaram investimento de R$ 44 milhões para a 180° Seguros, que prevê criar produtos para serem distribuídos em sites e aplicativos de venda de imóveis, do setor financeiro e do varejo.
A startup foi criada por Mauro Levi D’Ancona, que foi um dos primeiros executivos do Nubank.
Sua empresa tem como estratégia fazer a conexão entre uma seguradora que desenvolva produtos personalizados para outras empresas e companhias que queiram vender seguros em seus canais de distribuição, formato que o mercado conhece como “embeded insurance”.
O primeiro produto da startup é um seguro residencial que é distribuído a partir do site da Loft, startup bilionária do mercado imobiliário. A startup também lançou em junho seguro de vida distribuído a partir da plataforma da empresa Caju, de benefícios para funcionários.
Participante do sandbox, a startup 88i também busca levar seguros para canais de distribuição com maior fluxo de clientes e onde há maior predisposição de compra.
Liderada por Fernando Moreira, que já esteve à frente de empresas do setor como o HSBC Seguros no Brasil, ela desenvolve proteções para serem vendidas em aplicativos de corrida e de delivery (para motoboys e entregadores), via fintechs ou a partir de lojas eletrônicas (caso de seguro contra quebra de produto ou falha na entrega).
O aquecimento do mercado ajudou a startup Justos a obter um aporte de R$ 15 milhões antes de colocar seu produto no mercado.
A startup prevê lançar neste ano um seguro para automóvel que tem seu preço reduzido de acordo com a qualidade da condução do motorista, medida pelos sensores presentes no celular.
Dhaval Chadha, sócio da startup, diz que a necessidade de captar antes de começar o negócio existe porque a complexidade do mercado de seguros é maior do que a de outros em que as startups fazem negócios.
“Você precisa estar preparado para lidar com riscos e para cuidar do cliente se ele precisar”, afirma.
Por outro lado, o empresário vê semelhanças entre o mercado bilionário das fintechs e o novo segmento de seguradoras digitais. Segundo ele, tanto o mercado de seguros como o bancário antes da entrada das startups têm como característica os custos altos, a pouca competição e uma grande população sem acesso aos produtos e serviços.
“Ninguém quer fazer um investimento em alguma coisa que corre risco de ser barrada pelo regulador Rodrigo Mendes sócio da consultoria Deloitte