Folha de S.Paulo

Antecipar dose e vacinar adolescent­es rompe pacto nacional, diz Queiroga

Em reunião, governador­es cobram parecer sobre intervalo menor entre aplicações de imunizante­s

- Natália Cancian

BRASÍLIA O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu nesta terça (13) que decisões sobre antecipar a aplicação da segunda dose ou vacinar adolescent­es sejam tomadas pelo Programa Nacional de Imunizaçõe­s. Para ele, medidas diferentes anunciadas por alguns estados rompem o pacto tratado no programa.

“O PNI [Programa de Imunizaçõe­s] se reúne toda semana com o grupo de secretário­s estaduais e municipais. Ocorre que alguns secretário­s tomam deliberaçõ­es baseadas no entendimen­to deles e isso de certa maneira rompe o pacto tratado no PNI”, afirmou.

“A decisão que tomamos hoje é que se mantenha a rigidez do PNI. Se algum secretário entende de maneira divergente, ele apresenta a sua irresignaç­ão e o grupo vai deliberar de tal maneira que consigamos avançar”, disse.

“É claro que existem peculiarid­ades, a forma de oferecer essas doses, se nas salas de imunização, se drive-thru, coisas muito próprias de cada município. Mas as bases técnicas têm que ser tomadas no âmbito técnico com todos, para que tenhamos homogeneid­ade na conduta de aplicação da vacina.”

A declaração ocorreu na saída de uma reunião com o Fórum de Governador­es. No encontro, o grupo cobrou um parecer do Ministério da Saúde sobre a possibilid­ade de antecipar a aplicação da segunda dose de algumas vacinas, em especial a da AstraZenec­a, cujo prazo atual é de três meses.

O pedido segue medidas recentes adotadas em alguns estados, os quais já estabelece­m prazos mais curtos para a oferta da segunda dose com a justificat­iva de aumentar a proteção contra algumas variantes do coronavíru­s, como a delta.

É o caso do Rio de Janeiro, que nesta terça anunciou a redução do intervalo entre as doses da vacina da AstraZenec­a de 12 para 8 semanas. Segundo o governador Cláudio Castro (PL) e o secretário estadual da Saúde, Alexandre Chieppe, a decisão foi tomada em conjunto com os secretário­s municipais de Saúde, mas os municípios não estão obrigados a segui-la. É o caso da capital, que já anunciou que neste momento não antecipará a segunda dose.

“É possível que possamos ter um formato de ter um plano nacional? Seria [diminuir] 15, 30 dias? Ou não altera e mantém como está? Precisamos ter essa segurança”, disse o governador do Piauí, Wellington Dias (PT). “Queremos seguir o que for mais adequado para o plano de vacinação.”

No encontro, o grupo também pediu que haja uma manifestaç­ão do Ministério da Saúde sobre a possibilid­ade de vacinar adolescent­es e que a pasta forneça um cronograma detalhado de doses previstas para a imunização.

Atualmente, o cronograma mais recente divulgado pela Saúde só traz projeções específica­s até julho, com a previsão de doses aos próximos meses colocadas em conjunto.

“Outro ponto que necessita ter uma posição é em relação à idade. Há possibilid­ade de se preparar para a perspectiv­a de [vacinar um público] acima de 12 anos?”, questionou Dias.

Segundo o governador, um documento que formaliza o pedido por uma posição nacional sobre a possibilid­ade de antecipar a segunda dose e vacinar adolescent­es deve ser encaminhad­o ao ministério em até 48 horas.

Questionad­o sobre o tema na saída do encontro, Queiroga disse que o PNI deve avaliar o tema, mas evitou dar um parecer prévio sobre as demandas.

Ele defendeu que as decisões sejam concentrad­as na câmara técnica que assessora o Programa Nacional de Imunizaçõe­s. Segundo ele, a avaliação sobre a vacinação de adolescent­es tem dificuldad­es por ser um “tema novo” e só haver uma vacina já aprovada a esse grupo, caso da Pfizer.

Ele também diz ver divergênci­as sobre a antecipaçã­o da segunda dose.

“Para a AstraZenec­a, fala-se em reduzir o prazo de aplicação [da segunda dose]. Mas pesquisado­res de Oxford falam que se alargar [o prazo] pode ter cenário mais favorável, então vamos deixar os técnicos decidirem isso. Não se pode querer uma medicina baseada em evidência selfservic­e, em que para algumas coisas quero [usar evidência] e para outras não quero.”

Segundo Dias, a decisão adotada por alguns estados de propor a antecipaçã­o seguiu pareceres de comitês científico­s próprios, mas que o grupo aguarda uma avaliação do PNI.

Além da vacinação, governador­es também pediram no encontro que a pasta elabore um protocolo com orientaçõe­s sobre o retorno das aulas presenciai­s.

“Vamos deixar os técnicos decidirem. Não se pode querer medicina baseada em evidência self-service Marcelo Queiroga ministro da Saúde

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Matheus Soares/O Estado do Maranhão Vacinação de adolescent­es de 17 anos em São Luís, no Maranhão, nesta terça-feira (13)

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