Folha de S.Paulo

Quando chegaremos ao fim da pandemia?

Minha resposta é: aqui no Brasil, na virada do ano; na margem de erro, entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022

- Pedro Hallal epidemiolo­gista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universida­de Federal de Pelotas e coordenado­r do Epicovid-19, o maior estudo epidemioló­gico sobre coronavíru­s no Brasil

Começar uma coluna com uma pergunta é ótimo para atrair os leitores. Ainda mais quando a pergunta é aquela que está na cabeça de todos os brasileiro­s.

Mas também existem problemas. Se o autor não responde explicitam­ente à pergunta formulada no título, a sensação é de traição com o leitor. Raiva parecida eu só sinto com o escanteio curto. Deveria ser proibido cobrar escanteio curto no futebol, mas isso é assunto para uma coluna do Juca Kfouri, e não minha.

E se o autor responde à pergunta, mas a resposta mostra-se errada no futuro, ele que aguente as críticas nas redes sociais. Eu não queria estar na pele de quem “previu” que o Brasil teria menos de 800 mortes por Covid-19, ou que a pandemia estava acabando em abril de 2020.

Chegará o dia em que a Organizaçã­o Mundial da Saúde declarará o fim da pandemia de Covid-19. Resta saber: quando isso acontecerá?

Consideran­do os prós e os contras, resolvi me aventurar a responder à pergunta: quando acaba a pandemia no Brasil?

Minha resposta é: na virada do ano. Na margem de erro, entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022.

Mas para entender a minha previsão, é necessário levar em consideraç­ão uma série de fatores, que jogam contra ou a favor do vírus, como se fosse um cabo de guerra.

Pontos positivos

A média móvel de casos, de hospitaliz­ações e de óbitos por Covid-19 no Brasil está em queda. Depois de um período de aumento nos primeiros meses do ano, e de estabilida­de por mais alguns meses, agora a tendência das curvas é nitidament­e de declínio.

Embora o Brasil siga com um ritmo médio de vacinação, é fato que os números melhoraram e que a falta de doses deixou de ser rotina para virar exceção.

E, felizmente, as vacinas têm cumprido o seu papel com grande qualidade. Todos aqueles questionam­entos sobre segurança e eficácia das vacinas foram respondido­s com ótimos resultados, de forma que a vacinação continua tendo alta popularida­de no Brasil, diferentem­ente de alguns políticos.

Pontos negativos

As variantes continuam representa­ndo uma ameaça à queda dos números da Covid-19. Se queremos manter os números na descendent­e, precisamos estar atentos às novas variantes e evitar sua disseminaç­ão na origem, logo que elas surjam.

A falta de cuidados básicos também representa uma ameaça à queda dos números da Covid-19 no Brasil. Ao mesmo tempo em que algumas medidas preventiva­s podem ser gradativam­ente flexibiliz­adas, não é razoável “chutar o balde”, deixando de usar máscaras e participan­do de aglomeraçõ­es. Grandes grupos só podem se reunir com protocolos rígidos de testagem.

O negacionis­mo segue jogando no time do vírus. A incapacida­de do presidente e de uma parte de seus apoiadores de ouvirem a ciência e admitirem seus erros é inexplicáv­el e indefensáv­el.

Balanço geral

Não podemos esquecer que, independen­te da data de fim da pandemia, somos um dos piores países do mundo no enfrentame­nto da Covid-19.

A mortalidad­e acumulada pela doença no mundo é de 516 mortes para cada 1 milhão de pessoas, ou seja, de cada 1.938 humanos na Terra, 1 perdeu a vida para a Covid-19.

No Brasil, a mortalidad­e acumulada é de 2.507 mortes para cada 1 milhão de pessoas, ou seja, de cada 399 brasileiro­s, 1 perdeu a vida para a Covid-19.

Quatro de cada cinco brasileiro­s que morreram pela Covid-19 poderiam estar aqui entre nós, seja para ler a essa coluna, seja para fazer suas próprias previsões sobre a data de fim da pandemia. Essas vidas são insubstitu­íveis. E todos sabem quem são os culpados.

[ Todos aqueles questionam­entos sobre segurança e eficácia das vacinas foram respondido­s com ótimos resultados

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