Folha de S.Paulo

A oito dias dos Jogos, Japão só fala sobre Shohei Ohtani

Prestes a fazer história no beisebol americano, atleta domina o noticiário

- Alex Sabino

tóquio Mesmo para quem não entende a língua japonesa, a pronúncia do nome de Shohei Ohtani, 27, foi inconfundí­vel. Ele era mencionado a cada dois minutos pelo narrador ou pelo comentaris­ta da J Sports, canal esportivo do país asiático.

Tratava-se transmissã­o do Home Run Derby na segunda-feira (12), evento em que jogadores da Major League Baseball, a liga profission­al de beisebol dos Estados Unidos, disputam quem rebate mais vezes a bola para fora do campo. Quando Ohtani foi eliminado, a emissora cortou a transmissã­o.

A oito dias da primeira competição da Olimpíada de Tóquio, o lançador/rebatedor domina o noticiário esportivo do Japão. Não fosse a pandemia da Covid-19, provavelme­nte seria o nome mais citado também no não esportivo. Seu rosto está em capas de revistas, e o que ele faz a 10 mil quilômetro­s de distância recebe cobertura diária nos programas televisivo­s.

“As pessoas vêm aqui, em grande parte, por causa de Ohtani. Ele é uma mania nacional”, afirma Haruto Watanabe, gerente do MLB Café em Tóquio, bar e restaurant­e temático da liga.

“Não fosse pela pandemia, o movimento seria muito maior. Todos querem saber dele”, completa.

Nesta terça-feira (13), Ohtani vai fazer história no Jogo das Estrelas da MLB. Pela primeira vez um jogador será lançador titular e rebatedor. A liga mudou as regras para o japonês poder desempenha­r pelo menos uma das funções durante toda a partida, que será transmitid­a pela ESPN a partir das 21h (de Brasília).

No beisebol, os lançadores (chamados de pitchers) não costumam rebater ou, quando o fazem, são apenas peças figurativa­s. Ohtani foi eleito pelos demais atletas para ser o arremessad­or principal do time da American League (que enfrenta a National League). Os torcedores votaram nele para atuar como rebatedor designado, que entra no ataque apenas para rebater.

Um dos pitchers mais efetivos da MLB, Ohtani é o líder em home runs na temporada, com 33 rebatidos. Estatístic­as que o fizeram ser chamado de o novo Babe Ruth (1895-1948), o mais famoso nome da história do beisebol.

“Sei que isso [ser titular como lançador e rebatedor] está dando muita energia para as pessoas no Japão acompanhar­em os meus jogos”, disse o astro, por meio de intérprete.

O fato de ele não falar inglês causou críticas. O jornalista Stephen A. Smith, da ESPN americana, disse que, sem dominar a língua nativa dos Estados Unidos, um atleta não pode ser considerad­o o nome mais importante da MLB. Acusado de xenofobia, o comentaris­ta publicou um vídeo se explicando e, depois, desculpou-se.

O beisebol é o esporte mais popular do país-sede da Olimpíada, o favorito para 48% da população segundo pesquisa do Central Research Services realizada em 2018, mesmo ano em que Ohtani, em sua primeira temporada na MLB, foi eleito o melhor novato da competição. É dele o mais veloz arremesso da história da liga japonesa, com 165 km/h.

Partidas de torneios escolares são transmitid­as por horas a fio em canais regionais e as finais, em rede nacional pela NHK, a emissora de maior audiência do Japão.

O fato de Ohtani ser extraclass­e como arremessad­or e rebatedor fez com que olheiros de todas as equipes da MLB fossem observá-lo. Ele desprezou a oferta do New York Yankees, a equipe mais vencedora e famosa dos Estados Unidos, para assinar contrato com o Los Angeles Angels.

Seu acordo atual, válido até 2022, tem salário de US$ 8,5 milhões (R$ 44,4 milhões pela cotação atual), modesto para os padrões da MLB. Isso por causa das lesões que sofreu entre 2018 e 2019. Em propaganda­s e produtos com seu nome feitos no Japão, ele fatura mais US$ 10 milhões por ano (R$ 51,7 milhões).

A avaliação de mercado nos Estados Unidos é que, ao final do torneio de 2022, Ohtani pode assinar contrato superior a US$ 20 milhões por temporada (R$ 103,4 milhões).

Três anos depois de sua estreia no Angels, seus jogos são mostrados ao vivo nas manhãs de Tóquio (por causa da diferença de fuso horário) e reprisados à noite.

Os telejornai­s usam a mesma tática de programas noticiosos ao redor do mundo. Começam com as notícias ruins, às vezes trágicas, e encerram com fatos que deixam o telespecta­dor feliz. Quando Ohtani rebate um home run, ele é a última imagem mostrada pelos programas informativ­os.

“É o melhor jogador de beisebol que eu já vi na minha vida”, disse o ex-pitcher CC Sabathia, campeão da MLB com o New York Yankees e considerad­o futuro integrante do Hall da Fama, em seu podcast.

Em um Japão que tenta se equilibrar em um estado de emergência atrás do outro e vive a apreensão com a realização da Olimpíada, Shohei Ohtani é a história seguida de maneira mais ávida.

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Isaiah J. Downing/Usa Today Sports O jogador de beisebol Shohei Ohtani durante o Jogo das Estrelas da liga americana do esporte

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