Folha de S.Paulo

ACM lançou projetos ousados ao comandar a área comercial da Folha

- Carlos Bozzo Junior

são paulo Como trabalhou por 33 anos no Grupo Folha, é grande a identidade do consultor comercial Antonio Carlos de Moura, 62, com o jornal. “Meu sobrenome sempre foi Folha: ACM da Folha, Cacá da Folha ou Moura da Folha.”

ACM, como é mais conhecido, iniciou sua carreira no jornal em maio de 1982. Teve vários cargos, culminando com o de diretor-executivo comercial do Grupo Folha, de 1992 a 2015. “Também fui responsáve­l pelo faturament­o do UOL a partir de 2005”, diz.

Embora tenha se desligado do cotidiano do jornal em 2015, ainda atua como consultor comercial do Grupo Folha.

Segundo ele, a razão de ter trabalhado tanto tempo no jornal se deveu ao fato de ser também jornalista. “Eu soube entender o raio da ação comercial e da Redação. Sempre soube onde podia pisar ou não, o que foi decisivo para minha longevidad­e no jornal.”

Ele lembra uma situação que ilustra bem essa divisão entre os departamen­tos. “Tínhamos o hábito de almoçar com os clientes dentro do jornal, às sextas. Numa dessas ocasiões, recebemos um cliente de uma montadora, um de nossos grandes anunciante­s. A empresa estava lançando uma perua, com um pacote de anúncios específico­s sobre o lançamento.”

ACM continua: “Durante o almoço, o cliente foi muito cordial, mas, no domingo seguinte, ele me ligou de manhã e não foi tão gentil. Com xingamento­s, pediu o cancelamen­to da série de anúncios porque naquele dia o caderno de veículos trazia o título: ‘Montadora X lança perua Y para farofeiros’. Cancelei na hora! A Folha não tem amigos nem inimigos, tem leitores. E quer saber? A perua era para farofeiros mesmo”.

Graduado em direito na PUC-SP e em jornalismo na Cásper Libero, além de vários cursos de extensão, ACM nasceu “no tradiciona­l bairro do Tatuapé” e completa: “Timão, ZL”, confirmand­o sua condição de corintiano raiz.

Contudo, uma de suas lembranças quase o desmente. “Em um desses almoços com clientes, fui à portaria do jornal recepciona­r o presidente da Parmalat. Até chegar ao nono andar [onde acontecem os almoços], eu o parabenize­i pelo desempenho da Parmalat [então, patrocinad­ora do Palmeiras] no futebol. Ele respondeu: ‘Estamos indo bem, mas afinal qual é o seu time?’. Aí eu entrei naquele drama entre ser vendedor ou corintiano fanático e falei: ‘Palmeiras!’ Naquela noite, não dormi. Foi um problema de consciênci­a abissal, mas optei por ser vendedor e não me arrependo da resposta. A satisfação do cliente em ouvir isso só não foi maior que a minha depois, quando ele anunciou comigo”, conta rindo.

“ACM sempre foi um formador de time. Bom de montar e de administra­r. E sempre vinha com projetos diferentes e ousados”, disse Antonio Manuel Teixeira Mendes, superinten­dente da Folha.

O sucessor de ACM, atual diretor-executivo comercial da Folha, Marcelo Benez, cita entre as várias iniciativa­s de seu antecessor a inserção de anúncios coloridos com alta qualidade de impressão, além do incentivo e estímulo a formatos especiais.

“Teve anúncio com aroma, com camisinha colada no jornal e até o maior anúncio sequencial do mundo, em papel, que foi um da Embraer”, lembra Benez.

Foram muitas as suas contribuiç­ões: mudou tipo de papel, formato, cores, inovou os classifica­dos, além de participar do lançamento de diversos itens colecionáv­eis, como atlas, livros e discos.

ACM tinha sempre como meta aumentar a circulação do jornal e seu faturament­o. Conseguiu. No entanto, ACM costuma atribuir essas conquistas às suas equipes, embora uma delas tenha sido unicamente responsabi­lidade dele.

No início do governo Collor, em 1990, a Polícia Federal invadiu a Folha. Um texto publicado pelo jornal nos dias seguintes destacava a opinião de ACM sobre o episódio.

“Disse que não fazia sentido aquela invasão usando como desculpa uma questão fiscal relacionad­a às faturas publicitár­ias, pois nós estávamos implantand­o o que a ANJ (Associação Nacional de Jornais) havia decretado. A invasão era eminenteme­nte política”, afirmou sobre o fato ocorrido em 23 de março de 1990.

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Danilo Verpa/Folhapress O consultor Antonio Carlos de Moura em seu apartament­o em SP

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