Com obstrução intestinal, Bolsonaro é internado em SP
Equipe médica fará exames para avaliar possível cirurgia; reunião entre chefes de Poderes é cancelada
Após sentir dores abdominais na madrugada de ontem, Jair Bolsonaro foi internado no Hospital das Forças Armadas e, mais tarde, transferido para o hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo. Com quadro de obstrução intestinal, ele passaria por exames mais detalhados para avaliar a possibilidade de cirurgia.
O presidente sofria com soluços havia 11 dias e se queixava de cansaço. Sua transferência foi decidida pelo médico Antonio Macedo, que o operou em 2018, quando Bolsonaro levou uma facada no abdômen em campanha. Uma hipótese é a obstrução ter relação com aderências (partes do intestino que ficam coladas) decorrentes das intervenções naquela época.
Sob pressão, na segunda (12) ele ensaiou uma trégua e moderou suas declarações golpistas. Também aceitou participar de um encontro com os chefes dos demais Poderes, mas a reunião prevista para ontem foi cancelada com a internação.
Bolsonaro publicou texto com forte teor político, no qual pediu a apoiadores que não desistissem de “nossos valores”.
brasília e são paulo Com quadro de obstrução intestinal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi levado de Brasília para São Paulo nesta quarta-feira (14). A equipe médica vai avaliar a necessidade de uma cirurgia de emergência após a realização de exames mais detalhados.
A ambulância com o presidente chegou ao hospital Vila Nova Star, na zona sul de São Paulo, às 19h37. Em nota divulgada por volta das 21h, a equipe médica afirmou que “após avaliações clínica, laboratoriais e de imagem realizadas, o presidente permanecerá internado inicialmente em tratamento clínico conservador”.
Bolsonaro, que chegou ao hospital em uma UTI móvel, é atendido por uma equipe comandada pelo médico Antonio Macedo. Ele operou o presidente em setembro de 2018, quando o então candidato levou uma facada no abdômen durante ato de campanha.
Pela manhã, Bolsonaro foi internado no HFA (Hospital das Forças Armadas), na capital federal. A transferência para São Paulo foi decidida após a avaliação de Macedo, que foi chamado a Brasília.
“Após exames realizados no HFA, em Brasília, o dr. Macedo, médico responsável pelas cirurgias no abdome do presidente da República, decorrentes do atentado a faca ocorrido em 2018, constatou uma obstrução intestinal e resolveu levá-lo para São Paulo, onde fará exames complementares para definição da necessidade, ou não, de uma cirurgia de emergência”, afirmou a Secretaria Especial de Comunicação Social, em comunicado oficial.
Mesmo com a internação de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) viajou nesta quarta para Angola, onde participa de reunião da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).
Bolsonaro falou nas redes sociais sobre seu estado de saúde. No momento em que acena com uma trégua no discurso radical e nos ataques aos Poderes, ele aproveitou para criticar o PT e o PSOL, seus adversários políticos.
“Mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil. Um atentado cruel não só contra mim, mas contra a nossa democracia”, escreveu.
“Peço a cada um que está lendo essa mensagem que jamais desista das nossas cores, dos nossos valores! Temos riquezas e um povo maravilhoso que nenhum país no mundo tem. Com honestidade, com honra e com Deus no coração é possível mudar a realidade do nosso Brasil. Assim seguirei!”
No texto, com forte conotação política, Bolsonaro afirmou que pretende seguir atuando para “tirar o país de vez das garras da corrupção, da inversão de valores, do crime organizado, e para garantir e proteger a liberdade”.
A internação ocorre após o presidente aumentar a retórica golpista. Nos últimos dias, ele questionou a lisura do sistema eleitoral brasileiro, criticou as urnas eletrônicas e disse que, sem voto auditável, não haverá eleições em 2022.
Na segunda (12), ele ensaiou uma trégua e moderou suas declarações. Também aceitou participar de um encontro com os chefes dos demais Poderes nesta quarta, mas a reunião foi cancelada diante da internação hospitalar.
O presidente se vê cercado também pelo avanço da CPI da Covid no Senado, que apura ações e omissões do governo federal na pandemia. Soma-se ainda a queda de popularidade. Pesquisa Datafolha realizada no início deste mês apontou que a reprovação a Bolsonaro chegou a 51%, um novo recorde para ele.
Na madrugada desta quarta, o presidente deu entrada para exames no HFA com dores abdominais. Segundo nota do Planalto, ele seguiu orientação da equipe médica para a realização de exames a fim de investigar a causa de soluços.
Mais tarde, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente da República, relatou que o pai havia apresentado durante a noite dificuldade para respirar.
“Soube cedo, bastante cedo, quando ele estava se dirigindo ao hospital. Mas passou a noite também com dificuldades por causa do soluço, dificuldade de respirar, estava com muito incômodo, então foi ao hospital para ser examinado”, afirmou o senador.
Ministros ouvidos sob reserva disseram à Folha que, no início da tarde, Bolsonaro estava sedado por causa dos exames que havia feito.
A informação de que Bolsonaro havia sido sedado para descansar foi confirmada posteriormente pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria. “O presidente está bem, ele foi sedado pela manhã para descansar.”
Flávio deve ir nesta quintafeira (15) para São Paulo para acompanhar o tratamento do pai. Segundo ele, a previsão é que Bolsonaro fique em observação por três dias para avaliar a necessidade de cirurgia.
“Pelo que estou sabendo é uma pequena obstrução no intestino dele, foi preciso tirar uma quantidade de líquido do estômago e talvez esteja aí a razão de ele estar tossindo tanto, com tanto soluço. Mas a informação médica que eu tenho até o momento é que está tudo sob controle, o presidente está bem.”
Flávio afirmou ainda que pessoas próximas ao presidente vêm notando que Bolsonaro tem apresentado dificuldades para falar e discursar. Por isso, segundo o senador, ele vem recebendo conselhos para reduzir a carga de compromissos.
“Ele está se submetendo a uma agenda muito intensa, todo mundo até pedindo para que ele dedicasse um pouquinho mais de seu tempo a dormir bem, porque ele não dorme bem. É só dar uma pequena mudança em seus hábitos alimentares, na rotina, sob os cuidados médicos e muito em breve estar 100%.”
Na noite anterior à internação, na terça, Bolsonaro demonstrava certo abatimento quando se queixou a apoiadores na frente do Palácio da Alvorada sobre os 11 dias de uma crise de soluço.
Além disso, o mandatário já havia dito aos seguidores que teria de passar por uma nova cirurgia para corrigir uma hérnia. O próprio presidente abordara a crise de soluços com apoiadores em uma entrevista na semana passada.
Depois do encontro com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, na última segunda-feira, Bolsonaro concedeu uma entrevista de cerca de 30 minutos, mas só soluçou no começo da conversa com jornalistas.
Já na terça-feira (13) conseguiu fazer um discurso inteiro sem interrupções. Mas, pouco depois da cerimônia no Planalto, chegou de motocicleta ao Palácio da Alvorada e voltou a soluçar diante de apoiadores.
“Eu estou sem voz, pessoal. Se eu começar a falar muito, volta a crise de soluço”, disse o presidente da República. “Já voltou o soluço”, afirmou logo em seguida. Posou para fotos e gravou vídeo para um apoiador. “Está ruim de falar”, disse.
“Mais um desafio, consequência da tentativa de assassinato promovida por antigo filiado ao PSOL, braço esquerdo do PT, para impedir a vitória de milhões de brasileiros que queriam mudanças para o Brasil. Um atentado cruel não só contra mim, mas contra a nossa democracia Jair Bolsonaro emmensagem publicada nas redes sociais apóssua internação