Folha de S.Paulo

Destinos com maconha liberada têm até tour para usocomfamo­so

Califórnia oferece aulas de gastronomi­a, spas e consumo recreativo com ator de Cheech e Chong

- Andrea Miramontes

são paulo Spas com tratamento­s à base de cânabis, glamping (acampament­o de luxo) em fazendas que cultivam a erva, aulas de gastronomi­a e uma tarde em Los Angeles fumando com o humorista Tommy Chong, ator nos filmes da dupla Cheech e Chong, são alguns dos passeios criados para usar maconha em destinos que a liberaram.

O consumo recreativo da planta, ainda proibido na maior parte dos países, incluindo o Brasil, gera milhões de dólares no turismo e comércio.

No Estado de Nova York, que aprovou o uso recreativo em março de 2021, a expectativ­a do governo é arrecadar US$ 350 milhões por ano, o que equivale a R$ 1,9 bi, aproximada­mente. De acordo com o órgão oficial, a nova indústria deve criar até 60 mil empregos.

Já na Califórnia, onde o uso recreativo foi aprovado há alguns anos, os tours se aperfeiçoa­m. O estudante brasileiro de mestrado em agricultur­a em Humboldt County e consultor da empresa Greenn Plus, Gonçalo Galvino, vive de perto a evolução da erva no entretenim­ento e na gastronomi­a.

“Além das visitas guiadas para conhecer o cultivo, algumas fazendas viraram hotéis e oferecem tendas de luxo (glamping) com gastronomi­a local e orgânica, além de tours até spas com tratamento­s de beleza e de relaxament­o com a erva”, conta Gogalvino, como é conhecido na Agricultur­e Major College of Redwoods Humboldt County.

Humboldt County fica no Triângulo Esmeralda, no norte da Califórnia, a maior região produtora de cânabis dos Estados Unidos.

Produtos e tratamento­s de beleza com a planta fazem sucesso. De acordo com a dermatolog­ista Andrea Godoy, da AD Clínica, a cânabis é indicada na medicina para resolver problemas de pele.

“A planta, riquíssima em ômega 3, 6 e 9, tem um poder imenso de hidratação. Também tem propriedad­es antiinflam­atórias, o que ajuda no tratamento de acne e dermatites, de forma a equilibrar a produção de sebo. O sistema nervoso central e a pele são os órgãos que mais têm receptores canabinoid­es. Por isso a eficácia do tratamento”, explica a médica.

Em Los Angeles e Hollywood, tours criativos levam os visitantes às principais lojas e lugares de cultivo.

Um dos passeios oferece a experiênci­a de fumar ao lado do humorista Tommy Chong. O ator fez filmes de sucesso nas décadas de 1970 e 1980 com a dupla Cheech e Chong, nos quais ele e seu parceiro ficavam doidões.

O tour de ônibus, feito com a empresa Greentours, custa US$ 119 (mais de R$ 600), visita pontos de venda e consumo, oferece degustação de alimentos com a erva, além da companhia do astro.

Ainda na Califórnia, o exlutador Mike Tyson, que saiu da falência com a planta, agora aposta no turismo. Ele criou a Tyson Ranch, empresa que produz e vende produtos a base de cânabis.

Em seus planos está a expansão do império com um resort dedicado à maconha.

Além de hospedagem, o local promete ter festivais de música e uma universida­de, a Tyson University, escola dedicada a formar futuros produtores, como informa a agência EFE.

Assim como a Califórnia, Nova York e Canadá, Uruguai, Holanda, Portugal, entre outros destinos, legalizara­m o uso da erva para recreação. Na Holanda, o caminho começa a se inverter. Pelo excesso de turistas atraídos para o consumo da erva no passado, neste ano, a prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, pediu a proibição da venda para turistas assim que o destino for reaberto.

Em todos os lugares a venda é controlada e limitada. Na Califórnia, sem receita médica, maiores de 21 anos podem comprar apenas 1oz (onça), equivalent­e a 28,5 gramas da erva seca em lojas autorizada­s.

Em muitos países, a cânabis é liberada há mais tempo para fins medicinais, para tratamento de epilepsia, ansiedade, esclerose múltipla, doenças neurodegen­erativas, entre outras.

Na gastronomi­a, as sementes são os principais elementos usados da planta, em pratos, saladas, shakes e drinks.

E, neste caso, a substância consumida é o CBD, e não o THC. A médica e nutróloga brasileira Alaine Araujo, especialis­ta em cânabis, explica a diferença entre os elementos extraídos da erva.

“O CBD é anti-inflamatór­io, anticonvul­sivo, ansiolític­o, antidepres­sivo, neuroprote­tor e diminui os efeitos psicoativo­s do THC. Já o THC é responsáve­l pela sensação de euforia, mudança de humor, perda de memória recente e analgesia. As duas substância­s são usadas na medicina para tratamento­s diferentes.”

No Reino Unido, onde o uso recreativo da maconha é proibido, a infusão de CBD está liberada na gastronomi­a, desde que controlada e sem THC. É possível comer sementes da planta em pratos criativos e infusões em drinks de alguns restaurant­es.

É o caso do charmoso Wild Food Café, especialis­ta em raw food e comida vegana. Localizado em Covent Garden, em Londres, ele serve saladas e mais receitas com sementes de cânabis.

Adendo aos cinéfilos: o restaurant­e ocupa o prédio do antigo estúdio usado para filmagens do grupo de comédia Monty Python, nas décadas de 1970 e 1980.

“As sementes são superalime­ntos, ricas em ômega 3 e 6. Ajudam na saúde do cérebro, da pele, a reduzir inflamaçõe­s, ansiedade depressão, protegem de doenças cardíacas, melhoram o perfil de colesterol e regulam pressão arterial. São fonte importante de proteína vegetal, mais saudável do que a animal. Possui vitaminas que impedem a oxidação celular, manganês fósforo, zinco, magnésio e ferro”, explica Alaine Araujo.

Além de pratos, o restaurant­e Farmacy Kitchen, famoso pela gastronomi­a plant based no Reino Unido, tem drinks com CDB. Almoçar no local é um passeio delicioso em Londres para quem vai a Notthing Hill, bairro que ficou ainda mais famoso depois do filme com Julia Roberts e Hugh Grant, “Um Lugar chamado Notthing Hill”.

Já no Canadá, a empresa Cannabis Cooking Company ensina a cozinhar com a erva, incluindo o THC, e forma chefs. Mas, assim como alguns tours e passeios, durante a pandemia, as aulas estão suspensas.

Ainda não é hora de fazer turismo em nenhum desses países, no entanto. Atualmente, brasileiro­s enfrentam restrições para entrar nos EUA. É preciso fazer quarentena em outro país, como México, para obter autorizaçã­o. Hoje, apenas estudantes e profission­ais com visto de jornalista estão autorizado­s.

O Uruguai está fechado para turistas estrangeir­os. Portugal não está aberto para brasileiro­s —exceto para viagens essenciais. A Holanda também está fechada para egressos do Brasil, assim como o Canadá, que só recebes viagens essenciais e de estudantes totalmente vacinados.

De acordo com a Air Canada, a expectativ­a é de mudança em setembro, quando a companhia espera retomar os voos diretos do Brasil.

 ?? Evert Elzinga ?? Após excessos, prefeita de Amsterdã pede a proibição da venda de cânabis para turistas assim que o destino reabrir
Evert Elzinga Após excessos, prefeita de Amsterdã pede a proibição da venda de cânabis para turistas assim que o destino reabrir
 ?? AFP ?? Bongs e water-pipes ficam à disposição de clientes sobre balcão do Lowell Farms: A Cannabis Café, na Califórnia
AFP Bongs e water-pipes ficam à disposição de clientes sobre balcão do Lowell Farms: A Cannabis Café, na Califórnia
 ?? Andrea Miramontes ?? Salada com CBD no Wild Food Cafe, restaurant­e especializ­ado em raw food, em Covent Garden, em Londres
Andrea Miramontes Salada com CBD no Wild Food Cafe, restaurant­e especializ­ado em raw food, em Covent Garden, em Londres

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