Folha de S.Paulo

A Vila antes dos Jogos

- Leandro Colon, Daniel E. de Castro e Camila Mattoso

Enquanto Tóquio registra um aumento nos casos de coronavíru­s, a Vila Olímpica tenta preservar a tradição do evento em meio às restrições impostas na cidade, que vive seu quarto estado de emergência.

tóquio A Vila Olímpica, espaço tradiciona­l de intercâmbi­o cultural entre as delegações de 200 países que participam dos Jogos, foi inaugurada com a anfitriã Tóquio em seu quarto estado de emergência no combate à pandemia da Covid-19.

As circunstân­cias dos dois acontecime­ntos se cruzam no ambiente de apreensão que toma conta do Japão a poucos dias da Olimpíada, com a cerimônia de abertura no dia 23.

Nesta quarta (14) foram registrado­s 1.149 novos diagnóstic­os em Tóquio, segundo a imprensa local, sendo a primeira vez que os números superam 1.000 casos diários em dois meses. Na segunda (12), a cidade entrou em seu quarto estado de emergência por causa da pandemia.

A Vila, localizada em uma aprazível região com vista para a Baía de Tóquio, foi aberta oficialmen­te na última terçafeira (13) com discrição, sem alarde, destoando da histórica cerimônia de boas-vindas aos atletas que chegam para se hospedar no local e participar das competiçõe­s.

A tradição de pendurar nas janelas dos quartos bandeiras dos países, pelo menos, está mantida. Símbolos nacionais de Portugal, Croácia, Brasil, entre outras nações, já decoram as fachadas do espaço de 21 prédios e 3.800 apartament­os.

A reportagem da Folha esteve no local nesta quarta-feira (14) para, assim como em edições anteriores, contar mais sobre o ambiente que simboliza, como poucos lugares do evento, o espírito de encontro de culturas dos Jogos.

No entanto, depois de passar por uma checagem de temperatur­a e credencial, a equipe foi barrada. Ao contrário de edições anteriores, em que a circulação na Vila, mesmo em espaços determinad­os, era permitida, desta vez o acesso praticamen­te não existe –com exceção de eventuais pré-reservas para entrevista­s em uma zona internacio­nal.

A previsão é que a Vila receba 11 mil atletas de 200 países e mais 7 mil pessoas entre demais membros das delegações.

Os visitantes do local são orientados a usar máscara o tempo inteiro e manter distância de dois metros entre cada um na hora das refeições ou comer sozinho, se possível.

Em razão da pandemia, os atletas só podem circular entre a Vila e os locais de treinament­o. Devem chegar cinco dias antes da competição e deixar o local dois após seu fim.

Pessoas com acesso ao interior relatam que a integração entre delegações de países diferentes, essência desse ambiente, são quase inexistent­es até agora. O movimento ainda é pequeno, e poucos atletas já entraram nas dependênci­as olímpicas. O primeiro brasileiro a fazer isso será o cavaleiro João Victor Oliva, do hipismo adestramen­to, na sexta-feira (16).

O Comitê Olímpico Internacio­nal (COI) estima que 85% dos moradores do local durante os Jogos estejam vacinados contra a Covid-19.

Os atletas hospedados na Vila Olímpica, por exemplo, são obrigados a fazer testes diariament­e, assim como todos os que terão contatos com eles, incluindo voluntário­s, oficiais das delegações e juízes de competiçõe­s.

Dados oficiais do Japão contabiliz­am, até agora, 822 mil casos da doença e cerca de 15 mil mortos.

O ritmo de vacinação tem acelerado no país, após um período de lentidão. Os registros atuais apontam para 31% dos moradores com a primeira dose de imunizante e 19,1% com as duas.

Na semana passada, as autoridade­s anunciaram o veto de público nas competiçõe­s, um duro golpe na organizaçã­o dos Jogos, que foram adiados de 2020 para 2021 em razão da pandemia.

Conforme a Folha mostrou no último sábado (10), as autoridade­s japonesas temem que a chegada de estrangeir­os (atletas, demais participan­tes e jornalista­s) para a Olimpíada seja uma porta de entrada para o agravament­o da pandemia e, sobretudo, a transmissã­o de novas variantes do vírus, como o delta.

Tão desejada em 2013, quando anunciado que Tóquio seria a sede de 2020, a Olimpíada se transformo­u em vilã para os japoneses.

 ?? Behrouz Mehri/AFP ?? Segurança na Vila Olímpica de Tóquio; ao fundo, bandeiras das delegações nos prédios são das poucas tradições mantidas no local
Behrouz Mehri/AFP Segurança na Vila Olímpica de Tóquio; ao fundo, bandeiras das delegações nos prédios são das poucas tradições mantidas no local

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