Emanuela Medrades se contradiz sobre datas de envio de fatura da Covaxin
Após ficar em silêncio no primeiro depoimento, na terçafeira (13), a diretora técnica da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, depôs na CPI da Covid-19 nesta quarta (14).
A Lupa verificou algumas de suas declarações. A reportagem contatou a assessoria de imprensa da Precisa a respeito das checagens e aguarda pelas respostas.
“Mesmo não sendo detalhista, eu provei e provo mais uma vez, que essa invoice só foi enviada no dia 22” Emanuela Medrades, diretora-executiva e responsável técnica da Precisa Medicamentos, em depoimento na CPI
CONTRADITÓRIO Durante o depoimento de Emanuela Medrades, foi apresentado vídeo de audiência realizada pelo Senado, no dia 23 de março deste ano (em 1:34:00), onde ela diz que na quinta-feira anterior, 18 de março de 2021, “fizemos o pedido, encaminhamos as invoices, alguns documentos”. Há, portanto, contradição entre a afirmação feita à CPI com a fala anterior. Invoice é uma espécie de nota fiscal internacional.
No depoimento, alegou que, no vídeo, não detalha tudo o que aconteceu: “Não disse que no dia 18 enviei o link com as informações técnicas da RDC, no dia 19 eu cobrei, no dia 21 eu mando a invoice pela primeira vez, no dia 22 eu recebo o primeiro retorno referente à análise da invoice”. Apesar de, no vídeo, dizer ter enviado as invoices na quinta-feira (18) e mesmo tendo dito à CPI que mandou a invoice pela primeira vez no dia 21, na sequência disse que “provei e provo mais uma vez que essa invoice só foi enviada no dia 22”.
Em depoimento no dia 25 de junho, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF), declarou ter acessado a invoice em 18 de março de 2021. “No dia 16 de março, a empresa solicita o início do processo de importação. No dia 18 de março, o setor de importação recebe um link no site Dropbox contendo todos os documentos, inclusive a invoice, a primeira invoice”, disse. O servidor também apresentou documento de 19 de março —ou seja, há disparidade entre as datas. Medrades questionou a legitimidade do documento e das afirmações de Miranda.
“No relatório que eu tive acesso, depois da primeira inspeção da Anvisa, não cita higienização como um ponto de não conformidade”
VERDADEIRO, MAS A Anivsa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez visita de inspeção à fábrica da Bharat Biotech, na Índia, no início de março, como parte da avaliação do pedido de certificado de boas práticas, requisito para registro no Brasil. A Anvisa negou o certificado de boas práticas, conforme as resoluções 1.297 e 1.298, de 29 de março. Em nenhuma, a higienização da fábrica foi citada como um problema.
Mas duas preocupações levantadas tratam dos métodos de esterilização e desinfecção da produção. Outra preocupação, levantada na segunda resolução, trata de excesso de movimentação de pessoas em áreas onde ocorrem “operações assépticas”.
O relatório da inspeção de março foi remetido para o Ministério Público Federal e para a CPI. Em junho, a Reuters teve acesso ao relatório onde constam 29 não conformidades. Segundo a agência, foram identificadas não conformidades na fabricação da Covaxin de três categorias: 3 críticas, 12 maiores e 14 menores. Novamente, foi mencionada a falta de precaução para evitar contaminação durante a fabricação.
No dia 4 de junho, a Anvisa autorizou a importação da Covaxin, mas impôs 21 condições. Nenhuma menciona higienização como ponto de atenção. Em 8 de junho, concedeu certificação de boas práticas de fabricação de medicamentos e certificação de boas práticas de fabricação de insumos farmacêuticos.à Bharat Biotech, com validade de dois anos.
“Esse preço [de US$ 1,34 por dose, ou 100 rúpias indianas] foi até associado pelo presidente da Bharat, o mister Krishna Ella, em uma reunião em agosto de 2020 ele diz que a Covaxin custaria menos do que uma garrafa de água”
verdadeiro Em agosto de 2020, o diretor-geral da Bharat Biotech, Krishna Ella, disse em conferência sobre Covid que a dose do imunizante da empresa custaria menos do que uma garrafa d’água. A fala está registrada em vídeo do canal de notícias indiano 10TV Telugu.
“Esse preço [de US$ 1,34 por dose] nunca foi praticado. Foi uma fala dele [Krishna Ella] que foi muito criticada também pela própria Bharat e que esse custo nunca, em momento nenhum, foi ofertado”
VERDADEIRO, MAS O preço da Covaxin para o governo da Índia é de 150 rúpias indianas (US$ 2 na cotação atual), segundo anúncio feito pelo laboratório em junho deste ano. Esse valor é mais alto do que o anunciado por Ella, no ano passado, quando afirmou que o imunizante seria “mais barato do que uma garrafa d’água” — na Índia, o preço de uma garrafa é de 20 rúpias, US$ 0,26.
Apesar de ser vendida para o governo indiano a US$ 2, o preço da Covaxin para o mercado privado é nove vezes mais alto: US$ 18,7 (1.400 rúpias indianas). Para justificar a diferença, o laboratório disse que o valor local “não é sustentável” e que, por isso, as doses seriam mais caras para mercados privados para “compensar parte dos custos”.
Em abril deste ano, fabricantes de vacinas na Índia puderam fixar seus próprios preços para unidades de saúde estaduais e privadas. Na época, a Bharat fixou o preço de seu imunizante em 400 e 600 rúpias indianas (US$ 5,30 e R$ 8) para os estados e 600 e 1.200 rúpias indianas (US$ 8 e US$ 16,10) para instalações privadas. Após reações negativas, os preços foram revisados e estados puderam comprar doses a 150 rúpias (US$ 2).
Para exportação, a Bharat divulgou em 24 de abril que a vacina sairia por US$ 15 a US$ 20 por unidade.
Em junho deste ano, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que já havia uma negociação entre os governos brasileiro e indiano desde agosto de 2020. Segundo a reportagem, um telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose).