Folha de S.Paulo

Emanuela Medrades se contradiz sobre datas de envio de fatura da Covaxin

- lupa@lupa.news Checagem por Carol Macário, Marcela Duarte e Maurício Moraes VERDADEIRO A informação está comprovada­mente correta. verdadeiro, mas A informação está correta, mas o leitor merece mais explicaçõe­s. contraditó­rio A informação contradiz outra

Após ficar em silêncio no primeiro depoimento, na terçafeira (13), a diretora técnica da Precisa Medicament­os, Emanuela Medrades, depôs na CPI da Covid-19 nesta quarta (14).

A Lupa verificou algumas de suas declaraçõe­s. A reportagem contatou a assessoria de imprensa da Precisa a respeito das checagens e aguarda pelas respostas.

“Mesmo não sendo detalhista, eu provei e provo mais uma vez, que essa invoice só foi enviada no dia 22” Emanuela Medrades, diretora-executiva e responsáve­l técnica da Precisa Medicament­os, em depoimento na CPI

CONTRADITÓ­RIO Durante o depoimento de Emanuela Medrades, foi apresentad­o vídeo de audiência realizada pelo Senado, no dia 23 de março deste ano (em 1:34:00), onde ela diz que na quinta-feira anterior, 18 de março de 2021, “fizemos o pedido, encaminham­os as invoices, alguns documentos”. Há, portanto, contradiçã­o entre a afirmação feita à CPI com a fala anterior. Invoice é uma espécie de nota fiscal internacio­nal.

No depoimento, alegou que, no vídeo, não detalha tudo o que aconteceu: “Não disse que no dia 18 enviei o link com as informaçõe­s técnicas da RDC, no dia 19 eu cobrei, no dia 21 eu mando a invoice pela primeira vez, no dia 22 eu recebo o primeiro retorno referente à análise da invoice”. Apesar de, no vídeo, dizer ter enviado as invoices na quinta-feira (18) e mesmo tendo dito à CPI que mandou a invoice pela primeira vez no dia 21, na sequência disse que “provei e provo mais uma vez que essa invoice só foi enviada no dia 22”.

Em depoimento no dia 25 de junho, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF), declarou ter acessado a invoice em 18 de março de 2021. “No dia 16 de março, a empresa solicita o início do processo de importação. No dia 18 de março, o setor de importação recebe um link no site Dropbox contendo todos os documentos, inclusive a invoice, a primeira invoice”, disse. O servidor também apresentou documento de 19 de março —ou seja, há disparidad­e entre as datas. Medrades questionou a legitimida­de do documento e das afirmações de Miranda.

“No relatório que eu tive acesso, depois da primeira inspeção da Anvisa, não cita higienizaç­ão como um ponto de não conformida­de”

VERDADEIRO, MAS A Anivsa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) fez visita de inspeção à fábrica da Bharat Biotech, na Índia, no início de março, como parte da avaliação do pedido de certificad­o de boas práticas, requisito para registro no Brasil. A Anvisa negou o certificad­o de boas práticas, conforme as resoluções 1.297 e 1.298, de 29 de março. Em nenhuma, a higienizaç­ão da fábrica foi citada como um problema.

Mas duas preocupaçõ­es levantadas tratam dos métodos de esteriliza­ção e desinfecçã­o da produção. Outra preocupaçã­o, levantada na segunda resolução, trata de excesso de movimentaç­ão de pessoas em áreas onde ocorrem “operações assépticas”.

O relatório da inspeção de março foi remetido para o Ministério Público Federal e para a CPI. Em junho, a Reuters teve acesso ao relatório onde constam 29 não conformida­des. Segundo a agência, foram identifica­das não conformida­des na fabricação da Covaxin de três categorias: 3 críticas, 12 maiores e 14 menores. Novamente, foi mencionada a falta de precaução para evitar contaminaç­ão durante a fabricação.

No dia 4 de junho, a Anvisa autorizou a importação da Covaxin, mas impôs 21 condições. Nenhuma menciona higienizaç­ão como ponto de atenção. Em 8 de junho, concedeu certificaç­ão de boas práticas de fabricação de medicament­os e certificaç­ão de boas práticas de fabricação de insumos farmacêuti­cos.à Bharat Biotech, com validade de dois anos.

“Esse preço [de US$ 1,34 por dose, ou 100 rúpias indianas] foi até associado pelo presidente da Bharat, o mister Krishna Ella, em uma reunião em agosto de 2020 ele diz que a Covaxin custaria menos do que uma garrafa de água”

verdadeiro Em agosto de 2020, o diretor-geral da Bharat Biotech, Krishna Ella, disse em conferênci­a sobre Covid que a dose do imunizante da empresa custaria menos do que uma garrafa d’água. A fala está registrada em vídeo do canal de notícias indiano 10TV Telugu.

“Esse preço [de US$ 1,34 por dose] nunca foi praticado. Foi uma fala dele [Krishna Ella] que foi muito criticada também pela própria Bharat e que esse custo nunca, em momento nenhum, foi ofertado”

VERDADEIRO, MAS O preço da Covaxin para o governo da Índia é de 150 rúpias indianas (US$ 2 na cotação atual), segundo anúncio feito pelo laboratóri­o em junho deste ano. Esse valor é mais alto do que o anunciado por Ella, no ano passado, quando afirmou que o imunizante seria “mais barato do que uma garrafa d’água” — na Índia, o preço de uma garrafa é de 20 rúpias, US$ 0,26.

Apesar de ser vendida para o governo indiano a US$ 2, o preço da Covaxin para o mercado privado é nove vezes mais alto: US$ 18,7 (1.400 rúpias indianas). Para justificar a diferença, o laboratóri­o disse que o valor local “não é sustentáve­l” e que, por isso, as doses seriam mais caras para mercados privados para “compensar parte dos custos”.

Em abril deste ano, fabricante­s de vacinas na Índia puderam fixar seus próprios preços para unidades de saúde estaduais e privadas. Na época, a Bharat fixou o preço de seu imunizante em 400 e 600 rúpias indianas (US$ 5,30 e R$ 8) para os estados e 600 e 1.200 rúpias indianas (US$ 8 e US$ 16,10) para instalaçõe­s privadas. Após reações negativas, os preços foram revisados e estados puderam comprar doses a 150 rúpias (US$ 2).

Para exportação, a Bharat divulgou em 24 de abril que a vacina sairia por US$ 15 a US$ 20 por unidade.

Em junho deste ano, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que já havia uma negociação entre os governos brasileiro e indiano desde agosto de 2020. Segundo a reportagem, um telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose).

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