Folha de S.Paulo

Programa de vacinação não precisa da Covaxin, diz ministro da Saúde

- Natália Cancian e Daniel Carvalho

brasília O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta quarta-feira (14) que o Ministério da Saúde não conta, para o Programa Nacional de Imunizaçõe­s e campanha contra a Covid, com doses da vacina Covaxin. O imunizante, fabricado pela empresa Bharat Biotech, é atualmente alvo de investigaç­ão na CPI da Covid.

O mesmo valeria para a vacina Sputnik V, do Instituto Gamaleya, da Rússia. O motivo alegado pelo ministro seria a falta de registro ou aval para uso emergencia­l dos dois imunizante­s, que possuem apenas autorizaçã­o na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importação mediante condições.

“O Ministério da Saúde já adquiriu 600 milhões de doses de vacinas, e não temos necessidad­e dessas doses adicionais desses dois imunizante­s que obtiveram essas licenças de importação”, disse o ministro.

“A vacina produzida pela Bharat Biotech, Covaxin, tem sido alvo de discussões. O Ministério da Saúde, através de sua diretoria de integridad­e, de integrante­s da CGU e da nossa assessoria jurídica, orientou a suspensão desse contrato por questão de conveniênc­ia e oportunida­de”, afirmou.

“Portanto, o Ministério da Saúde não conta, dentro do PNI, com agentes imunizante­s que não tenham obtido aval da Anvisa de maneira definitiva ou emergencia­l, porque entendemos que o que temos de doses já é o suficiente para imunizar a população brasileira até o final do ano.”

Recentemen­te, a pasta suspendeu um contrato que havia sido firmado em fevereiro com a Precisa Medicament­os, que representa a Bharat Biotech, para obter 20 milhões de doses da Covaxin.

O ministério, no entanto, ainda avalia a possibilid­ade de cancelamen­to definitivo do acordo. A medida ocorre em meio ao avanço nas investigaç­ões em torno dos contratos sobre a vacina indiana.

A existência de denúncias de irregulari­dades foi revelada pela Folha com a divulgação do depoimento sigiloso de Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação da Saúde. Ele disse ao Ministério Público Federal em Brasília que recebeu uma “pressão atípica” para agilizar a liberação da vacina.

As declaraçõe­s do ministro ocorreram em audiência na comissão de seguridade social da Câmara.

No encontro, Queiroga comentou ainda a decisão de exonerar o diretor de logística, Roberto Ferreira Dias, envolvido em denúncias sobre a Covaxin e suposta cobrança de propina em outras negociaçõe­s de vacinas —o que ele nega. “Todos que tenham seu nome envolvido em situações que não fiquem claras serão afastados.”

Segundo o ministro, o aval limitado à licença de importação se coloca como dificuldad­e tanto para a Covaxin quanto para a Sputnik V.

“É apenas uma licença para importação, condiciona­da a 21 itens, e um deles é uma população de 1% do estado que pleiteou, controlado por estudos de efetividad­e”, disse.

Questionad­o sobre a importação de doses da Sputnik V que vem sendo negociada pelos estados, Queiroga disse que deve apoiar a medida. Mas afirmou ver como baixo o impacto da inclusão da vacina no plano de Imunizaçõe­s.

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