Folha de S.Paulo

MEC prevê para 2024 alteração do Enem e novo ensino médio

Governo Bolsonaro publicou portaria com o cronograma de implementa­ção do modelo, que foi aprovado em 2017

- Paulo Saldaña

brasília O governo Jair Bolsonaro definiu um cronograma que coloca para 2024 a implementa­ção total do novo ensino médio e a alteração do Enem. O MEC (Ministério da Educação) não anunciou novos investimen­tos para apoiar as redes de ensino.

A reforma do ensino médio foi estipulada em 2017, no governo Michel Temer (MDB), com a previsão de flexibiliz­ar a grade horária do aluno, mas até agora o MEC não havia definido um cronograma de implementa­ção. Uma portaria com essa agenda foi publicada nesta quarta-feira (14) no Diário Oficial da União.

A implementa­ção será escalonada. No ano que vem, redes públicas e escolas particular­es deverão aplicar os novos referencia­is no 1º ano do ensino médio; no ano seguinte, no 2º ano, até que em 2024 o novo modelo cubra os três anos da etapa.

O Enem também será atualizado. É prevista para 2024 a aplicação conforme as novas diretrizes —essa data já estava pensada dentro do governo desde o ano passado. A adaptação dos materiais didáticos seguirá o mesmo planejamen­to de datas.

Com relação ao Saeb, avaliação federal da educação básica, a portaria indica que até 2024 estejam prontas as matrizes de conteúdos nas quais se baseiam as provas. A data de aplicação do Saeb com o novo modelo, no entanto, não é citada no documento.

De todo modo, o anúncio sepulta de vez o projeto do exministro Abraham Weintraub de criar o chamado Enem seriado —o modelo traria alterações no Saeb do 1º ano do ensino médio a partir do próximo.

Com a reforma do ensino médio, parte da grade dos alunos será organizada a partir da Base Nacional Comum Curricular. O restante será escolhido, se houver oferta, entre cinco áreas: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e ensino técnico.

As áreas são chamadas de itinerário­s formativos. A Base Curricular, que define o que os alunos devem aprender, não detalhou como devem ser os itinerário­s, cabendo aos estados a regulament­ação.

Até o ano que vem, as redes de ensino e escolas deverão garantir o cumpriment­o de mil horas anuais de aulas (cinco horas diárias), o que já estava previsto na lei da reforma do ensino médio. Atualmente, o mínimo é de 800 horas (quatro horas).

Segundo o MEC, o calendário foi combinado com o Consed (que reúne os secretário­s de Educação dos estados). As redes estaduais concentram a maioria absoluta das matrículas da etapa.

Nos mais de dois anos e meio de gestão Bolsonaro, o MEC tem sido claudicant­e no apoio às redes de ensino para adaptação do currículos. “A virada de chave para o novo ensino médio ocorrerá em 2022”, disse nesta quarta o secretário de Educação Básica da pasta, Mauro Rabelo, em cerimônia de apresentaç­ão do cronograma.

A portaria afirma que a homologaçã­o dos referencia­is curricular­es deve ser finalizada neste ano pelos estados. Segundo levantamen­to do observatór­io de implementa­ção da Base e do novo ensino médio, 21 estados já enviaram os documentos para análise dos respectivo­s Conselhos de Educação.

Desse total, apenas 12 já haviam finalizado o processo. Em outros seis estados o documento segue em construção ou consulta preliminar.

O ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, afirmou nesta quarta que o anúncio é uma ação de continuida­de do que foi definido no governo anterior. Apesar disso, ele apresentou uma campanha publicitár­ia que deverá ser veiculada nos próximos dias.

A publicidad­e afirma que “o governo federal apresenta por meio do MEC o novo ensino médio”. Em 2017, quando Temer insistiu nessa reforma por meio de uma medida provisória (que reduz o tempo de análise no Congresso), também houve forte campanha publicitár­ia, inclusive com contrataçã­o de youtubers.

“O governo do presidente Jair Bolsonaro tem uma missão, entre outras coisas, uma delas é terminar o que os outros começaram”, disse.

Não foram anunciados novos recursos para acelerar os processos. Ribeiro disse que o MEC investiu R$ 70 milhões para apoiar a adequação dos referência­s curricular­es e formação de profission­ais.

A pasta promete, no entanto, criar uma linha de financiame­nto direcionad­a às escolas para criação dos itinerário­s. Há previsão de material didático específico para essas linhas, que são os grandes entraves para o novo modelo.

O coordenado­r de projetos do ensino médio do Movimento pela Base, Carlos Lordelo, diz que o cronograma, sobretudo para as avaliações, é importante para colocar o MEC como protagonis­ta nessa orientação. Sinalizari­a ainda um movimento de maior diálogo com as redes.

“O passo seguinte é acelerar a elaboração curricular para que seja concluído no segundo semestre. Porque a virada de chave é ano que vem. E que tenha início a formação de educadores para trabalhar com os novos referencia­is.”

Segundo Lordelo, as datas previstas permitem um monitorame­nto mais efetivo e são realistas diante da situação criada pela pandemia de coronavíru­s. O ministro não citou qualquer orientação específica nesse processo relacionad­a à questão sanitária.

“O novo ensino médio traz esse compromiss­o que requer de todos nós o envolvimen­to da sociedade, ampliação de regime de colaboraçã­o entre estados e União, fortalecim­ento desse regime com os municípios”, disse a secretária de Educação de Roraima, Leila Perussolo, que represento­u o Consed no encontro.

O evento seria realizado no Palácio do Planalto com a presença de Jair Bolsonaro. Com a internação do presidente, o encontro foi transferid­o para o auditório do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is), onde mais de cem pessoas se aglomerara­m sem distanciam­ento.

Falando sem máscara, Ribeiro iniciou seu pronunciam­ento com uma oração direcionad­a para o presidente, criticou abordagens de gênero na educação e insistiu na reabertura das escolas, embora MEC tenha sido ausente no apoio às redes de ensino nesse processo.

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