Folha de S.Paulo

Após chacina, comandante da PM em Tabatinga é exonerado

- Fabiano Maisonnave

manaus A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas exonerou o comandante da PM em Tabatinga (a 1.106 km de Manaus), tenente-coronel Eddie César, e transferiu outros policiais militares após a morte de pelo menos sete pessoas, em aparente represália ao assassinat­o de um sargento da corporação.

A informação foi dada na terça-feira (13) pelo secretário de Segurança Pública, o coronel da PM Louismar Bonates, durante sabatina na Assembleia Legislativ­a. O encontro foi fechado à imprensa, mas a Folha teve acesso ao áudio.

A onda de mortes ocorreu em 12 e 13 de junho, mas só foi revelada duas semanas depois, após reportagem da Folha. O sargento Michael Cruz foi assassinad­o a tiros, na região portuária de Tabatinga. O suposto autor do disparo foi morto na sequência.

Mesmo assim, os PMs fizeram uma grande operação na cidade. Três jovens foram mortos por policiais sem oferecer resistênci­a e outros três foram torturados e assassinad­os, segundo relatos de testemunha­s. Outro jovem, que foi visto sendo levado pela PM em 12 junho, continua desapareci­do.

Bonates disse que o comando foi trocado “mesmo não tendo nada comprovado da participaç­ão efetiva ou dolosa da Polícia Militar. Mas entendemos que deveríamos dar uma resposta imediata”.

“Retiramos o comandante, foi penalizado, porque realmente vinha fazendo um trabalho considerad­o bom”, afirmou o secretário. Ele também disse que alguns policiais militares foram retirados de Tabatinga, sem informar quantos.

O secretário afirmou aos parlamenta­res que o delegado da Polícia Civil Renato Simões, dois investigad­ores e um escrivão foram enviados à cidade, para reforçar as investigaç­ões. “Estão pegando os projéteis que estavam nos corpos par afazer a comparação balística e identifica­r possivelme­nte armas de policiais .”

Os parlamenta­res também questionar­am Bonates sobre a prisão, na semana passada, de um de seus assessores mais próximos. O secretário-executivo de Inteligênc­ia, delegado Samir Freire, é acusado pela PF e pelo Ministério Público Estadual do Amazonas de usar a estrutura de sua pasta para intercepta­r e roubar ouro transporta­do ilegalment­e.

Bonates disse que desconheci­a as atividades ilegais do subordinad­o, e negou que o setor de inteligênc­ia tenha grampeado deputados estaduais.

Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública se recusou a responder sobre a data da exoneração do comandante de Tabatinga e sobre o número de policiais militares afastados.

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