Folha de S.Paulo

Internação de Bolsonaro tem ‘hospitalci­ata’ e manifestaç­ões

Grupos pró e contra o presidente fazem disputa de gritos em frente ao hospital

- Joelmir Tavares e Carolina Linhares

Apoiadores de Jair Bolsonaro levam faixas e bandeiras em apoio ao presidente para a frente do hospital Vila Nova Star, onde ele está internado

A repentina internação do presidente Jair Bolsonaro modificou a rotina no hospital Vila Nova Star, na Vila Nova Conceição (zona sul de São Paulo), onde ele deu entrada durante a noite da última quarta-feira (14).

A mudança mais vistosa —e barulhenta— é a presença da imprensa logo na entrada. Durante o dia, ao menos 30 profission­ais, incluindo repórteres, cinegrafis­tas e fotógrafos, ficam de prontidão, entre câmeras, luzes, fios e computador­es. Nos intervalos, conversam e falam ao telefone.

O plantão jornalísti­co no local se resume à espera da divulgação dos boletins sobre o estado de saúde do presidente. Ainda não foi realizada entrevista coletiva da equipe médica ou de porta-vozes da Presidênci­a, como ocorreu em outras internaçõe­s.

Nesta quinta-feira (15), o entra e sai envolveu a passagem de alguns membros do governo federal, como o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucio­nal. Do lado de fora, pequenos grupos de eleitores de Bolsonaro têm aparecido desde a noite de quarta, com cartazes e camisetas de apoio. Detratores também surgiram, em menor número.

Há desde os que passam gritando o tradiciona­l “mito” e buzinam, até os que disparam palavrões e frases como “fora, Bolsonaro” e “não era só um solucinho?”. A reportagem também ouviu um “morre, Bolsonaro”.

Um grupo de cinco apoiadores estendeu uma faixa com os dizeres: “Força, capitão. Só + uma batalha”. Eles usavam verde e amarelo e carregavam bandeiras do Brasil e uma de Israel com a foto do presidente brasileiro.

No meio da tarde, integrante­s do grupo hostilizar­am um homem que se postou na rua com um cartaz pedindo liberdade para o ex-presidente Lula (PT) e clamando pelo “fora, Bolsonaro” e por “eleições gerais já”. Mulheres da turma bolsonaris­ta reagiram com gritos contra o ex-presidente, chamando-o de ladrão.

As manifestaç­ões, favoráveis e contrárias, muito provavelme­nte são inaudíveis da ala em que o presidente está internado. Mas o burburinho de passantes e jornalista­s começa a incomodar.

Nesta quinta, a assessoria de imprensa do Vila Nova Star disparou às equipes que fazem a cobertura um pedido gentil para que fiquem na área cercada que é destinada aos jornalista­s, a fim de “não dificultar­em o movimento de pacientes na entrada e saída”.

Dentro do hospital, segundo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o presidente é acompanhad­o pela primeira-dama Michelle e pelo filho Carlos Bolsonaro (Republican­os), vereador no Rio de Janeiro e assessor informal do pai, sobretudo para assuntos de redes sociais.

Nas redes bolsonaris­tas, o passeio que o presidente fez pelos leitos de outros internados foi logo batizado de “hospitalci­ata”, o que seria uma adaptação do termo “motociata”, cunhado para descrever os passeios de moto do presidente com simpatizan­tes.

A foto mostra um Bolsonaro sorridente, de bermuda e tênis, com sondas conectadas ao nariz e à região do pescoço. “Custoso demais” foi a legenda escolhida por Michelle, que também inseriu emojis de risos. “O pai tá on! Já dando força a outros pacientes!”, escreveu, ao repostar a imagem, o ministro do Turismo, Gilson Machado.

Apoiadores comemorara­m o registro do presidente da República no hospital, lido como sinal de que seu estado de saúde não é tão grave quanto se imaginou inicialmen­te. O pedido de orações pela recuperaçã­o dele, no entanto, continua sendo espalhado.

Em outro gesto para demonstrar sua recuperaçã­o, o presidente concedeu, de dentro do hospital, entrevista ao vivo ao programa do apresentad­or Sikêra Júnior, na RedeTV!. O médico Antônio Macedo, responsáve­l pelo tratamento, estava ao lado do paciente nas imagens.

Bolsonaro também usou as redes nesta quinta para criticar a CPI da Covid no Senado. O perfil do mandatário postou uma sequência de mensagens em que rebate acusações de corrupção contra o governo.

“O que frustra o G-7 é não encontrar um só indício de corrupção em meu governo. No caso atual querem nos acusar de corrupção onde nada foi comprado, ou um só real foi pago. No circo da CPI Renan, Omar e Saltitante estão mais para três otários que três patetas”, afirmou.

Uma médica renomada que compõe o corpo clínico do hospital, considerad­o de ponta na rede particular brasileira, disse à Folha, reservadam­ente, que o dia a dia no interior do prédio —uma estrutura moderna cuja recepção poderia ser confundida com a de um hotel de luxo— pouco se alterou desde a internação de Bolsonaro.

Segundo ela, o ambiente não foi impactado nem mesmo pela presença de agentes de segurança da Presidênci­a no andar em que Bolsonaro está. Pacientes que já estavam em quartos próximos foram mantidos, mas o acesso à área destinada ao presidente é restrito. A médica lembrou ainda que o hospital costuma receber autoridade­s para tratamento.

Em uma das salas destinadas à família, Michelle recebeu nesta quinta a visita do maquiador Agustin Fernandez, um dos melhores amigos da primeira-dama. Ela compartilh­ou o momento em uma rede social e exibiu um jogo de xícaras de porcelana que ganhou de presente do maquiador. “Olha o mimo. Olha que coisa mais fofa”, disse.

Os custos da internação de Bolsonaro não foram informados nem pelo hospital nem pelo Palácio do Planalto. A Presidênci­a não respondeu como o tratamento será pago.

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Fotos Amanda Perobelli/Reuters e Carolina Linhares/Folhapress
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Também em frente ao hospital na capital paulista, homem levanta cartaz contra Bolsonaro e em apoio a Lula

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